Temas tabus nas escolas brasileiras: a diversidade sexual.

Escrito por Samuel de Jesus em 21.05.2013






     Independente do fato de ser adequado ou inadequado, o kit gay levantou a polêmica. Esse foi o material informativo que seria distribuído às escolas do Brasil pelo Ministério da Educação para informar sobre a homossexualidade com o objetivo de combater o preconceito. A bancada religiosa do Congresso Nacional bradou e foi se queixar com a presidenta Dilma Rousseff que tomou suas dores e mandou suspender a distribuição do contestado kit. A presidenta teve receio de perder o apoio da bancada religiosa no Congresso Nacional, ou seja, o caso ganhou contornos políticos. Foi como se estivemos em um sistema de governo teocrático (governo que une política e religião) e não republicano.

        Na escola, como educadores, trabalhamos com jovens que possuem individualidades as mais variadas, são evangélicos, católicos, umbandistas, espíritas. Gostam de rap, funk, rock e axé. São negros, brancos e de origem oriental e em muitos casos possuem diferentes orientações sexuais. Na escola brasileira, questões como a homossexualidade estão veladas, assim como outros grupos negligenciados pela escola brasileira como os negros e a questão do preconceito racial, as mulheres e a questão de gênero, ou seja, o papel da mulher na sociedade e os soropositivos, esses são os mais invisíveis de toda a escola brasileira, pois não se ouve falar deles.

          Esses são temas tabus nas escolas brasileiras. O mundo nos últimos anos passa por mudanças onde os grupos sociais, considerados excluídos, estão se organizando e reivindicando o direito à sua individualidade. Movimentos que protestam contra as violências cometidas às mulheres, violências físicas e verbais, assédios morais, sexuais e assassinatos. Elas estão indo as ruas com cartazes e seus seios à mostra chamando a atenção para a sua causa, movimento como a parada gay que reúne a cada ano um número cada vez maior de adeptos. Os soropositivos fazem campanhas e contam ainda com o dia internacional de combate a AIDS.

         A escola brasileira passa ao largo dessas questões que o mundo está discutindo e há enormes resistências. Esses temas que chamo de temas tabu para a escola brasileira. Essa visão dos gestores educacionais resulta no aumento vertiginoso de casos de bullying: agressões verbais e físicas, assédio moral, constrangimentos ilegais. A escola brasileira faz a opção por silenciar frente a estas questões. Muitos educadores, desde os gestores até mesmo os professores tem sérias limitações em lidar com tais temas.

        Muitos professores são conservadores e muito religiosos e na maioria dos casos, não agem como agente público de um estado laico, mas educam baseados em seus pressupostos religiosos (como se vivessem em uma teocracia), assim repelem qualquer discussão referente à homoafetividade, pois segundo eles Deus desaprova tal orientação sexual. Em outros casos o machismo de professores leva a um preconceito velado, seus comentários e comportamentos são homofóbicos. Na maioria dos casos o silêncio e a invisibilidade são, de longe, as medidas mais adotadas entre os educadores e a escola contra a discussão sobre a homossexualidade.

      
         O kit gay, embora constrangedor para um mundo predominantemente heterossexual, fora importante, pois iniciou uma discussão sobre o tema. Hoje há consenso de que ninguém se torna homossexual, assim o tal kit não irá incentivar os jovens a aderirem à homossexualidade, mas conscientizá-los sobre o preconceito. A escola jamais deverá incentivar a homossexualidade e de tal modo não deverá também incentivar igualmente seus alunos a heterossexualidade.



























Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

The political sins of Dilma.

Sobre o Acordo de Cooperação em Defesa entre Brasil e Estados Unidos.

O Campo #Cibernetico da Guerra e o Livro Branco de Defesa do Brasil