Elementos Rupestres da Grande Metrópole.


Por Samuel de Jesus

            No final da madrugada podemos sentir os primeiros sinais de movimento, passadas, sonâmbulos cruzam as avenidas, lotam o metrô, os primeiros sinais do despertar da cidade, o relógio dita o ritmo, é, e preciso obedecê-lo. Contagem de minutos, seres mudos, despersonalização, a massa se movimenta por todos os lados, zumbis matutinos. De repente a greve dos metroviários interrompe o ciclo, caos. Reivindicam o direito à cidade, esperam dignidade que se toma com o aumento do pão e do corpo de cristo. Engarrafamento, arteriais entupidos como a pia, todos sacam seus carros, sem rodízio e sem razão, mas a cidade não morre, somos nós que morremos nela por falta de assistência, de fome e opulência, de humildade e arrogância, de indiferença e câncer, de stress e cardiopatia, de febre e cólera, de dengue e anemia de pouco em pouco cada dia.

             Na longa marginal entre os carros corredores velozes motores disparam fugindo da posição lenta ou estática que aumentam a temperatura do stress e vontade de estar a quilômetros dali. Painéis e outdoors nos vendem o que dizem ser o melhor estilo, consumidores e lobotomia, mensagens subliminares e consumo, a babel. O rio exala seu odor de podridão que atinge o asfalto ocupante da vazante que o comprime. As velhas fábricas abandonadas nos oferecem imagens de outros tempos. A nova cidade ocupa todas as frestas sobrepondo-se ao passado que pede socorro e que jamais será ouvido, pois o progresso é implacável.

             No céu a ave de metal brilha virando a direita ou a esquerda do espaço aéreo. Como ele se sustenta no ar? Quantas pessoas deverão estar resignadas a este latão alado cujas turbinas vociferam. No chão, arteriais de ferro que se estendem por todo o corpo da cidade e que levam um fluxo de gente ao coração dela. Mulheres e homens vendem o que tem e o que não tem: sonhos, casas, carros, CD´S piratas, segurança, esperança, fé, amizade, sonrisal, dramas, chinelos, carmas, cocaína, comprimidos, as correntes e as algemas, a cultura e a ignorância, armas, o veneno, gasolina e cólera, alegria, a paz, o incenso e a massagem, a dor e o alívio.

               China, Japão, Portugal, Itália e África, Ásia e Oceania, mosaico: budistas, judeus, evangélicos, espíritas, islã e umbanda, no bairro da liberdade o Japão está aqui, assim como a Itália está no Brás, Bexiga e Barra Funda, a grande cidade acolhedora, o mundo está nela e ela no mundo como partes indissolúveis e complementares do universo. Artéria do mundo, organismo vivo, traços de inúmeras culturas, mistura fina, sintonia mundo, a face do mundo, a casa do norte, a casa do rock ritmo conturbado, o caos gera vida, o sangue jorra, sangue sugas, parasitas, lamina que corta carne profundamente, morre e renasce assustadoramente, veloz, atroz no mesmo dia, na mesma hora segue seu ciclo.

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