Brasil e a Nova Orientação Estratégica dos Estados Unidos.




Samuel de Jesus


 O presidente Barack Obama anunciou nos primeiros dias de 2012 uma nova reorientação estratégica dos Estados Unidos. Trata-se de um novo plano de defesa que enfatiza uma resposta à ascensão da China no cenário internacional. O presidente estadunidense afirmou que a nova estratégia se concentrará cada vez mais na Ásia, pois é crescente o poder militar chinês. As preocupações se referem à força naval e ao arsenal chinês de mísseis que poderão fazer frente à superioridade militar americana no Oceano Pacífico, sobretudo impedir seu acesso ao Mar do Sul da China, rico em minerais.
O Oceano Pacífico se estende desde a região da Antártida no sul para o Ártico, no norte e se encontra entre os continentes da Ásia e Austrália, a oeste e a América do Sul a leste. Ocupa cerca de um terço da superfície do globo. Sua área, com exclusão dos mares adjacentes, abrange cerca de 63.800 mil milhas quadradas (165.250 mil quilômetros quadrados) e tem mais que o dobro do volume de água do Oceano Atlântico. Segundo Amayo (1993), a Bacia do Pacífico é composta por subáreas como a do nordeste asiático onde está situada cidades como Hong Kong, na China e países como Coréia do Sul e Taiwan, também chamados de Tigres Asiáticos. Nesta área convergem interesses dos EUA, China, Rússia. No sudeste asiático estão localizadas Indochina, Birmânia e Filipinas, áreas densamente povoadas, ricas em matérias-primas. A Bacia do Pacífico é, em conjunto, a maior produtora de tecnologia, com mais de 50% da população mundial, ou seja, é o maior mercado consumidor potencial da Terra, além de oferecer imensos recursos naturais como a pesca e minerais como o cobre, chumbo, zinco, ferro, gás, carvão, petróleo, entre outros.
O Brasil há mais de uma década desenvolve cooperação com os chineses na área espacial. Foram lançados, em período relativamente curto, três satélites da série CBERS - China-Brasil Earth Resources Satéllite (Satélite Sino-Brasileiro de Observação de Recursos Naturais da Terra): o CBERS-1, em 1999; o CBERS-2, em 2002, e o CBERS-2B, em 2007.

Hoje o Brasil é o maior parceiro comercial da China na América Latina e a China o maior mercado para os produtos brasileiros no mundo. Recentemente, um gesto brasileiro importante foi a visita da presidenta Dilma Rousseff à China (11-04-2011), primeiro país da Ásia a ser visitada pela presidenta brasileira em seu primeiro ano de mandato. Segundo o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, essa Visita Oficial teve como objetivo: “o aprofundamento da parceria estratégica sino-brasileira, com foco na ampla agenda bilateral nas áreas de comércio, investimentos e ciência e tecnologia e em temas da agenda multilateral”
A China é o maior parceiro comercial do Brasil, com intercâmbio de US$ 56 bilhões em 2010, o que representou crescimento de 52,7% em relação a 2009. O saldo comercial foi favorável ao Brasil em 2010, em mais de US$ 5 bilhões, nesse mesmo ano a China foi igualmente o maior investidor estrangeiro no Brasil. Os dois países fazem parte do G-20 que é o fórum econômico mais importante do mundo por reunir além dos países ricos como Estados Unidos, Inglaterra, França, Alemanha, também países em desenvolvimento como Brasil, Rússia, Índia China e África do Sul, dentre outros. Brasil e China também fazem parte dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), sigla que reúne os países emergentes mais importantes na atualidade.
Parece ter pedido força a preocupação estratégica que via o terrorismo e o narcotráfico como ameaças ao Ocidente. Essa reorientação acontece no momento em que os Estados Unidos se retiram do Iraque e Afeganistão. Essa nova orientação estratégica estadunidense certamente influenciará a estratégia brasileira que se concentrará cada vez mais na esfera diplomática. O processo de compras de materiais bélicos continuará devido à reivindicação brasileira por um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas e a defesa do Pré-Sal, (através do projeto da Amazônia Azul que espera contar com o submarino nuclear brasileiro). São essas também justificativas consideradas como palpáveis à reativação da Indústria de Materiais de Defesa do Brasil.
Certamente a principal frente de conflito não será mais a Amazônia, pois os Estados Unidos concentrarão seus esforços militares na região do Pacífico. O eixo estratégico mundial está se deslocando para o Pacífico devido ao crescimento vertiginoso da China. A projeção continental brasileira torna-se fundamental nesse novo contexto estratégico, pois o acesso do Brasil ao Pacífico só é possível através de um aprofundamento das relações com os países sul-americanos, principalmente aqueles países banhados pelo Oceano Pacífico. Esse já é um processo em curso, vide a construção da Estrada Transoceânica que liga o Brasil ao Pacífico peruano.
 Isto poderá resultar em relevância política cada vez maior dos países situados na Bacia do Pacífico. Esses países terão um papel de destaque na União dos Países Sul - Americanos – UNASUL. O papel protagonista do Brasil na comunidade sul-americana será possível se criar confianças. Isso requer discutir abertamente pontos que são a origem das desconfianças dos países sul-americanos com relação ao Brasil e a defesa de seus interesses pela via do diálogo, sobretudo respeito aos compromissos coletivos assinados. Essa nova reorientação estratégica estadunidense requer, mais do que nunca, a integração sul-americana, pois ela criará um contraponto à hegemonia estadunidense em toda a Bacia do Pacífico e certamente o Brasil integrado à América do Sul será um parceiro fundamental à estratégia tanto dos Estados Unidos quanto de China.
Um possível fracasso da UNASUL como um bloco de integração, como inicialmente pretende ser, poderia levar a um isolamento político do Brasil frente a essa nova estratégia, isso resultaria na perda de importância geopolítica do país por não ter uma vinculação geográfica, econômica e política direta com o Oceano Pacífico. Neste cenário, países como o Peru, banhado pelo Pacífico, tornam-se parceiros estratégicos chave. É preciso ressaltar que o Peru é um dos únicos países na América do Sul que não possui grandes desconfianças em relação ao Brasil, muito ao contrário, pois é cada vez maior o aprofundamento das relações entre Brasil e Peru. Nos últimos anos esses dois países assinaram o Protocolo de Cooperação e Paz (2008) e também Acordos que possibilitaram a construção da Estrada Transoceânica, entre outros.




Fontes:

AMAYO ZEVALLOS, Enrique. Da Amazônia ao Pacífico cruzando os Andes. In: Revista de Estudos Avançados. 1993, vol.7, n.17, pp. 117-169.

Disponível no site da Enciclopédia Britânica, http://www.britannica.com/EBchecked/topic/437703/Pacific-Ocean Extraído em 27/01/2012.

Disponível no site da revista Carta Capital http://www.cartacapital.com.br/internacional/eua-tem-nova-estrategia-de-defesa-marcada-por-austeridade/ Extraído em 27/01/2012.


Disponível no site do Ministério da Ciência e Tecnologia - INPE - CBERS http://www.cbers.inpe.br/pt/imprensa/not33.htm Extraído em 27/01/2012.


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