O II PND e o Plano Brasil 2022: continuídades

Fragmento da Tese de Doutoramento de Samuel de Jesus: "Gigante Pela Própria Natureza": as raízes da projeção continental brasileira e seus paradoxos. (22.06.2012)
            Observamos que o II PND gestado em pleno Regime Militar possui muita similaridade com o Plano Brasil 2022. Os pontos em comum se referem ao estabelecimento de objetivos e metas cuja finalidade é a projeção continental brasileira. De acordo com o II PND, o Brasil se tornaria uma potência mundial.  A manutenção da liderança brasileira na América do Sul e sua inserção no sistema internacional como um global player é o principal objetivo do plano Brasil 2022. Parece claro a presença do ethos militar na concepção estratégica brasileira atual, sobretudo em relação aos meios para o alcance desse objetivos. Estas concepções representam complicações à contrução de confianças entre os países sul-americanos. Entendendo a confiança como um elemento necessário a manutenção da liderança brasileira.
Em 2010, Samuel Pinheiro Guimarães, a frente da Secretaria de Assuntos Estratégicos – (SAE), como seu ministro, elaborou um plano estratégico chamado Brasil 2022. Esse documento está dividido em três partes, a primeira parte intitula-se: O Brasil em 2022; a segunda parte; A América do Sul em 2022 e a terceira parte, O Mundo em 2022. Esses documentos fazem uma análise da conjuntura externa e semelhantemente ao II PND esboçam os objetivos, opções e projeções do Brasil nos setores econômico, político e militar para 2022, ano em que comemoramos o bicentenário da independência.
O documento Brasil em 2022 afirma que na atualidade a América do Sul vive uma situação de extrema pobreza, violência contra as populações oprimidas, com mortalidade infantil, desnutrição, aumento do consumo e produção de drogas. Esta conjuntura requer um programa de “construção sulamericana” que “depende” sobretudo de tomada de posição do Brasil. Para ele, os países mais desenvolvidos da América do Sul como o Brasil deverão estimular programas de financiamento para a construção da infra-estrutura desses países. Isso seria possível através do Fundo para a Convergência Estrutural do MERCOSUL – FOCEM.
          
66.       A América do Sul vive uma situação “semelhante” à da Europa após a Segunda Guerra Mundial. A histórica exclusão da enorme maioria das populações de quase todos os países, em situação de extrema pobreza, a violência contra as populações oprimidas, a mortalidade infantil, a desnutrição, a droga, fazem com que morram por ano, na América do Sul, milhões de indivíduos, em uma verdadeira “guerra”, em um continente que necessita com urgência de um programa de construção. No passado, iniciativas como a Operação Pan-Americana, a Aliança para o Progresso e as políticas neoliberais do Consenso de Washington se revelaram insuficientes e mesmo ineficazes para enfrentar este desafio que, de lá para cá, se tornou maior e cada vez mais complexo. (Brasil 2022, 2010. Disponível em http://www.sae.gov.br/brasil2022/?p=432 Extraído em 13/10/2011).

O objetivo do Brasil seria criar um Plano América do Sul, tal como o Plano Colômbia e Plano México (também chamado Plano Mérida). Esses dois planos fazem parte da estratégia de intervenção estadunidense baseado em aplicação de recursos financeiros e presença militar.
67.       Os países da região maiores e mais avançados, econômica e industrialmente, terão de articular programas de desenvolvimento econômico para estimular e financiar a transformação econômica dos países menores; abrir, sem exigir reciprocidade, seus mercados e financiar a construção da infraestrutura desses países e sua interligação continental. O Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul – FOCEM é um primeiro passo nesse sentido, ao reconhecer a especial responsabilidade dos países maiores no desenvolvimento do Mercosul e seus princípios podem servir como base para um programa, que terá de ser muito mais amplo, no âmbito sul-americano. (Brasil 2022, 2010. Disponível em http://www.sae.gov.br/brasil2022/?p=432 Extraído em 13/10/2011).
Guimarães (2010) salienta que o desenvolvimento dos países, vizinhos do Brasil, não deve ser deixado ao sabor da demanda dos mercados internacionais, assim como da conveniência das estratégias de investimentos das mega-empresas multinacionais. Afirma que se isso ocorresse acentuaria as assimetrias entre os países da América do Sul. Isso aumentaria as tensões políticas e ressentimentos no hemisfério sul.
68.       Caso o desenvolvimento de cada país da região for deixado ao sabor da demanda do mercado internacional e dos humores das estratégias de investimento das megaempresas multinacionais, as assimetrias entre os Estados da região, e dentro de cada Estado, se acentuarão assim como as tensões políticas e os ressentimentos, o que virá a afetar de forma grave as perspectivas de desenvolvimento do Brasil. (Brasil 2022, 2010. Disponível em http://www.sae.gov.br/brasil2022/?p=432 Extraído em 13/10/2011).
     
            A estratégia evidente e nos documentos, publicadas quando Samuel Guimarães era Secretário de Assuntos Estratégicos não é nova. Hobsbawn (2007) afirma que durante a Guerra Fria (1947-1989), o crescimento global das companhias dos Estados Unidos ocorreu através do patrocínio desse país, com a qual  a maioria dos dirigentes empresariais se identificava. As leis norte-americanas deveriam favorecer as companhias americanas em negócios feitos pelos estadunidenses no mundo. Esse fator deu grande força política às empresas norte-americanas. O lema era: O que é bom para o país é bom para a General Motors, e vice-versa (HOBSBAWN, 2007 pp.74).
A primeira parte do II PND (1974-1979), é intitulada Desenvolvimento e Grandeza: o Brasil como potência emergente. Essa primeira parte é dividida em sete capítulos. O capítulo I é intitulado: O sentido da Tarefa Nacional. Esse capítulo analisa a conjuntura política internacional nos anos 70, principlmente no período posterior à Crise do Petróleo (1973) e faz um esboço sobre quais deverão ser (do ponto de vista governamental) os objetivos e opções do Brasil frente a essa conjuntura. No capítulo II o documento expõe qual deverá ser a estratégia de desenvolvimento e qual o modelo econômico adotado pelo Brasil.
No capítulo III faz um esboço dessa opção estratégica de desenvolvimento no campo da indústria e agropecuária. O capítulo IV aborda as opções básicas dessa estratégia econômica. No capítulo V temos a integração nacional e a ocupação do universo brasileiro com enfoque na política populacional, principalmente nas estratégias de integração nacional sobre o nordeste e ocupação produtiva da Amazônia. No capítulo VI é abordada a estratégia de desenvolvimento social e capítulo VII integração com a economia internacional.
Especificamente, na primeira parte, em O Sentido da Tarefa Nacional, afirmava que eram válidas as aspirações brasileiras ao desenvolvimento e à grandeza, pois na década de 60 poderia o Brasil realizar a política de um país grande, apto a realizar a “experiência de desenvolvimento eminentemente dinâmico”. Esse dinamismo estaria associado à “vontade política” e também à “mobilização nacional”. Diante desses fatos, afirmava o II PND que ao final da década de 70 o Brasil estaria sob a égide de duas realidades principais; a consciência de potência emergente e as repercussões do quadro internacional daquele período. Afinal, o Brasil caminhava para o mundo industrializado e avançado muito em relação ao I Plano Nacional de Desenvolvimento (1972-1974).
Nos anos do II PND entre 1975 e 1979, o Brasil provavelmente tinha o maior parque industrial de nação subdesenvolvida. O documento utiliza como argumento uma estimativa da Fundação Getúlio Vargas que apresentava um PIB em 1973 da ordem de US$70 bilhões, representando um aumento de mais de 50% com relação a 1969 e 110% com relação a 1963 a renda per capita era de US$ 700 tendo aumentado nos últimos quatro a uma taxa de 7,7 %.
O Brasil pode, validamente, aspirar ao desenvolvimento e à grandeza. Na última década, principalmente, mostrou a Nação ter condições de realizar política de país grande, com senso de seu próprio valor e consciência de responsabilidade — o habitual preço da grandeza. Ao mesmo tempo, mostrou-se apta a realizar uma experiência de desenvolvimento eminentemente dinâmica, associando a vontade política, pela mobilização nacional, à capacidade de fazer, pela ação do setor público, da iniciativa privada e da comunidade. Assim pôde o País efetivar, em alto grau, o seu potencial de crescimento e dimensão económica. Até o final da década, estará o Brasil sob a égide de duas realidades principais: a consciência de potência emergente e as repercussões do atual quadro internacional. (II PND, 1974, pp. 23)

            Como se viu existem vínculos muito fortes entre o II PND e os documentos publicados pela SAE. É preciso dizer que esses documentos ligam-se às ações atuais do governo brasileiro como o Programa de Aceleração do Crescimento – (PAC) I e II e a outros documentos como Estratégia Nacional de Defesa e o Livro Branco da Defesa.
            O documento o Brasil em 2022 possui 33 parágrafos dentre os quais importa agora destacar os seguintes:
2. Estado plenamente soberano, o Brasil participará em condições de igualdade dos mecanismos de governança mundial e regional: do Conselho de Segurança das Nações Unidas, do qual será membro permanente; do G-20, que será o principal organismo de coordenação da economia mundial; da União das Nações Sul-Americanas – UNASUL –, que será o centro de um pólo sul-americano; da Organização Mundial do Comércio – OMC – e do Fundo Monetário Internacional – FMI –, onde terá a capacidade de influir em favor dos países em desenvolvimento. E o Brasil, em todas as questões internacionais, tomará o partido da paz, da justiça e do desenvolvimento. (Brasil 2022, 2010. Disponível em: http://www.sae.gov.br/brasil2022/  Extraído em: 10/10/2011)

O documento faz uma projeção do Brasil no cenário internacional como um ator global (global player). A conjuntura mundial, atualmente calcada no multilateralismo, favorece a pretensão brasileira de tornar-se um global player. A reivindicação do Brasil em ocupar um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas vai de encontro a essas pretensões, mas não só; lembremos também a atuação do Brasil no fortalecimento do Grupo dos 20 países desenvolvidos e em desenvolvimento – (G-20[1]), assim também como sua atuação na UNASUL e suas reivindicações junto à Organização Mundial de Comércio – (OMC[2]).
O documento a América do Sul em 2022 possui 74 parágrafos dentre os quais destacamos:
51. Pelas suas características territoriais, demográficas e econômicas, e pela sua política externa, o Brasil tem adquirido importância política crescente no cenário internacional. Assim, o Brasil é hoje ator indispensável nas negociações comerciais, tanto agrícolas como industriais; nas negociações ambientais; nas questões energéticas; nos temas de desarmamento; e nas negociações de reforma financeira e de reforma política. Suas dimensões o tornaram de grande interesse para os investimentos das grandes empresas multinacionais que no Brasil estabelecem a base para suas operações na região. Estas circunstâncias tornam a atuação do Brasil na América do Sul, em outras regiões e nas Nações Unidas de uma relevância cada vez maior, sendo o país cada vez mais chamado a participar de forma central em foros de negociação e de articulação política, em comparação com o que ocorre com os países vizinhos. (Brasil 2022, 2010. Disponível em: http://www.sae.gov.br/brasil2022/?p=432 Extraído em: 10/10/2011)
O documento também destaca a importância do Brasil nos fóruns internacionais que discutem questões energéticas, de desarmamento e nas negociações de reformas financeiras e políticas.
O documento chamado O Mundo em 2022 afirma que a conjuntura política internacional até 2022 permitirá ao Brasil, devido às suas dimensões territoriais e demográficas, aumentar sua influência no sistema internacional.
 2. A evolução da sociedade internacional em todos os seus aspectos políticos, militares, econômicos, tecnológicos e sociais será relevante, ainda que não determinante, para o desenvolvimento da sociedade brasileira. Será relevante, mas não determinante, porque o Brasil, devido às suas dimensões territoriais e demográficas e aos seus extraordinários recursos naturais, tem a possibilidade de influir cada vez mais sobre o sistema internacional e torná-lo menos hostil à defesa de seus interesses e à realização de seus objetivos. Esse sistema internacional daqui até 2022 terá aspectos fundamentais semelhantes aos que apresenta atualmente. (Brasil 2022, 2010. Disponível em: http://www.sae.gov.br/brasil2022/?p=335 10/10/2011)

            A preocupação presente tanto no II PND quanto no Plano Brasil 2022 se refere ao Brasil potência. Os dois documentos apontam o Brasil como um aspirante à potência. Para tanto reúnem objetivos e metas a serem alcançadas.  A seguir comparamos os principais direcionamentos econômicos para o alcance desse status brasileiro no cenário internacional.

            3.3.3 II PND e o Plano Brasil em 2022: economia.

            Analisaremos as metas econômicas do Brasil, nos anos 70, previstas no II PND e a comparamos às metas econômicas previstas no recente Plano Brasil 2022. Em Objetivos e Opções Nacionais do II PND afirma-se que por meio do binômio desenvolvimento e segurança, no campo econômico a meta será realizar o pleno potencial econômico de desenvolvimento para o período compreendido entre 1974-1979. As taxas referentes a esse período deverão ser de 12% ao ano.

Estratégia Industrial

O crescimento esperado da Indústria, no período 1975-1979, é de taxas da ordem de 12% ao ano. A realização desse objetivo é, reconhecidamente, muito mais difícil do que foi obter os excelentes resultados alcançados, no setor industrial, nos últimos anos. Para viabilizar aquela meta, será indispensável adotar uma política industrial voltada para realizar a configuração definitiva (definitiva quanto ao estágio) do perfil industrial que se deseja, no Brasil. (II PND, 1974, pp. 37).

Na indústria a ênfase seria dada em setores básicos como a indústria de equipamentos, insumos e energia. De acordo com essas diretrizes o Brasil deveria consolidar até o fim dos anos 70, um modelo econômico e social baseado economicamente nos setores de base como a siderurgia e a eletrônica. Deveria também ampliar o crédito, ter autosuficiência e a abrir o fluxo de exportação, quando necessário, para reduzir sua dependência externa.

I — Desenvolvimento dos setores de base e, como novas ênfases, particularmente da Indústria de Bens de Capital, da Indústria Eletrônica de Base e da área de Insumos Básicos. No setor de Bens de Capital, (...) a expansão do financiamento de longo prazo, a adaptação do sistema fiscal, a prioridade nas compras de órgãos e empresas de Governo e a ajuda especial para a participação nos projetos de maior importância do setor público. No tocante a Insumos Básicos, adotará o Brasil uma política de garantia de suprimento, sempre que viável, objetivando a auto-suficiência, e, muitas vezes, a abertura de fluxo de exportação; quando inviável a auto-suficiência, procurará reduzir ao mínimo a dependência em relação a fontes externas, inclusive associando-se a empreendimentos binacionais ou multinacionais para garantia de oferta, em condições razoáveis. (II PND, 1974, pp. 38 e 39).


      Para o desenvolvimento brasileiro seria também importante a abertura de novos mercados com ênfase nos produtos com maior complexidade tecnológica.

         II — Abertura de novos campos de exportação de manufaturados, com maior complexidade tecnológica, em complemento às exportações de indústrias tradicionais. Tais campos incluem os computadores de grande porte; minicomputadores de fabricação nacional; navios; automóveis, ônibus, caminhões; motores e outros componentes da indústria automobilística; equipamentos agrícolas, rodoviários e hidroelétricos; máquinas-ferramenta e instrumentos; produtos siderúrgicos, inclusive pela construção de usinas destinadas principalmente à produção de semi-acabados para exportação; equipamentos e componentes de bens de capital; relógios, aparelhos de precisão. Nessa ofensiva, será de particular importância a execução de projetos mais sofisticados e de grande porte, concebidos diretamente para exportação, se necessário com incentivos especiais como os do BEFIEX (Benefícios Fiscais a Programas Especiais de Exportação). (II PND, 1974, pp. 38 e 39)

        
            Em 2010, o documento Brasil em 2022, Trabalhos Preparatórios, publicado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos, estabelece as metas para o aumento da produção industrial até o ano de 2022.

-          Ampliar a taxa de investimento para 25% do PIB Quintuplicar as exportações brasileiras, sextuplicar as exportações de produtos de alta e média tecnologia. Elevar o dispêndio privado em Pesquisa e Desenvolvimento para 1% do PIB.
-          Meta 01: elevação da participação da Formação Bruta de Capital Fixo no PIB de 17% em 2009 para 23% em 2022. Submeta 01. Elevar a produtividade média do investimento em 20%, entre 2009 e 2022. Submeta 02; Ampliar a participação da formação bruta em capital fixo da indústria de 4,4% do PIB para 6,7% do PIB.
-           Meta 02: Elevação da participação da indústria (de transformação mais extrativa) no valor adicionado total, de 18,9% (2008) para 21,0%, em 2022. Submeta 01: Elevação da participação das indústrias intensivas em engenharia no valor adicionado industrial de 39,6% (2007) para 45%, em 2022. Submeta 02: Elevação da participação de serviços intensivos em conhecimento no valor adicionado do setor de serviços de 39,3% (2007) para 45%, em 2022.
-          Meta 04: Ampliar a participação das exportações brasileiras no total mundial, de 1,25% para 2,0%. Submeta 01: Ampliar a participação das exportações de médio e alto conteúdo tecnológico na pauta de exportações brasileira de 26,1% (base: 2008) para 35% (2022).
-          Meta 06: Reduzir o hiato médio de produtividade da indústria brasileira em relação à dos EUA de 85,7% (2007) para 84% em 2014 e 80% em 2022.
Os pontos em comum entre o II PND e o Plano Brasil 2022 são os enfoques dados a ampliação das exportações de produtos manufaturados tecnológicos e redução da dependência externa. A taxa de crescimento industrial prevista no II PND previa entre os anos de 1974 a 1979 é de 12% ao ano. Sobretudo, a adoção de uma política de garantia de suprimento, objetivando a auto-suficiência, procurando reduzir a dependência das fontes externas. No plano Brasil 2022 prevê a redução do hiato medio de produtividade entre a indústria brasileira em relação aos Estados unidos de 85 % em 2007 para 80% em 2022. Trata-se da redução da dependência externa da economia. Tanto o plano Marshall quanto o II PND tem esse objetivo em comum, ou seja, a redução da dependência externa da economia brasileira.

      3.3.4 II PND e Plano Brasil 2022: fortalecimento da empresa nacional

      Analisamos também que outra preocupação, presente tanto no II PND quanto no Plano Brasil 2022, é a do fortalecimento das empresas nacionais Podemos ver isso no II PND no item Fortalecimento da Empresa Nacional e Capital Externo que prevê o financiamento empresarial, pelo governo, com o objetivo de tornar as empresas nacionais competitivas no mercado internacional.

Emergência de Forte Expressão da Capacidade Empresarial Nacional, para formação de número significativo de grupos nacionais sólidos e, não raro, grandes, no Centro-Sul, no Nordeste e nas demais áreas. (...) Criação de mecanismos para dotar as empresas nacionais de condições razoáveis de competição, em face da empresa estrangeira. Tais mecanismos, destinados a corrigir situações de debilidade da empresa nacional, ou condições de desigualdade no mercado, destinar-se-ão principalmente a sanar deficiências do empresariado nacional com relação a capital, financiamentos de longo prazo, tecnologia e capacidade gerencial (management). (II PND, 1974, pp. 51 e 52).


O Plano Brasil 2022, semelhantemente, prevê no seu item 36, ações que tem por objetivo estimular o fortalecimento de mega-empresas brasileiras que permitirão capacidade para elaborar e implantar políticas nacionais de desenvolvimento e não apenas fazer com que o Brasil seja uma plataforma de produção e exportação de empresas multinacionais estrangeiras.

Diante dessa inevitável tendência à globalização (e das conseqüentes tentativas permanentes de uniformização das regras que “disciplinam” as atividades das mega-empresas nos distintos mercados em favor delas) cabe ao Brasil garantir no período que vai até 2022 que, de um lado, tais regras não prejudiquem a capacidade de elaborar e implementar políticas nacionais de desenvolvimento adequadas aos desafios estruturais da sociedade brasileira, tais como suas extraordinárias disparidades, suas vulnerabilidades externas, seu potencial, políticas que terão de ser distintas daquelas que são adequadas às sociedades maduras, desenvolvidas e, de outro lado, estimular o fortalecimento de mega-empresas brasileiras nos mais distintos setores, que vão desde a telefonia até a aviação e à produção agrícola, para que possam atuar no cenário mundial globalizado e impedir que o Brasil se transforme em uma mera plataforma de produção e exportação de mega-empresas multinacionais, cujas sedes se concentram em países altamente desenvolvidos. (Brasil 2022, 2010. Disponível em http://www.sae.gov.br/brasil2022/?p=475 Extraído em 13/10/2011)

Inclusive, é preciso mencionar que empresas brasileiras começam a se internacionalizar com o suporte do BNDES que abriu uma subsidiária em Londres (ver anexo D).

3.3.5 II PND e Plano Brasil 2022: tecnologia e militarismo.

Outra preocupação presente nos dois planos de desenvolvimentos refere-se ao desenvolvimento tecnológico. Segundo o II PND, o progresso científico e tecnológico modifica as relações de poder entre os Estados e influencia fortemente todas as demais tendências do sistema mundial.
1.            O progresso científico e tecnológico afeta todas as atividades civis, econômicas, sociais e militares. A aceleração da transformação tecnológica modifica as relações de poder entre os Estados e a intensidade da competição entre as mega-empresas e, portanto, da competição econômica entre os Estados. Além disso, a aceleração da transformação tecnológica influencia fortemente todas as demais tendências do sistema mundial.
2.            Na economia, o avanço tecnológico, em especial no campo da informática, e, nos próximos anos, em nanotecnologia, continuará a transformar os processos físicos produtivos, os produtos, e a própria organização gerencial das empresas, sendo fator determinante para os resultados da acirrada disputa entre empresas por fatias de mercado e pelo lucro, a qual determina um certo padrão de distribuição da riqueza mundial que constitui um impulso e um vetor importante das tendências à crescente oligopolização de mercados. (Brasil 2022, 2010, disponível em http://www.sae.gov.br/brasil2022/?p=335 Extraído em 13/10/2011).


O plano Brasil 2022 assim como o II PND também alia o progresso tecnológico ao desenvolvimento bélico. Segundo esse plano a tecnologia aumentará a eficiência dos equipamentos bélicos, assim aumentará o poder de países em desenvolvimento como o Brasil.

4. No campo militar, o progresso tecnológico afetará desde a doutrina até o equipamento e aumentará cada vez mais a eficiência letal dos armamentos, a sua automação, a sua miniaturização, o seu controle remoto, a sua colocação no espaço e terá como conseqüência a ampliação do hiato de poder, em especial entre os Estados Unidos e os Estados subdesenvolvidos da periferia. Por outro lado, certos aspectos do progresso da tecnologia militar permitirão mesmo àqueles países econômica e politicamente mais fracos dispor de certo poder de dissuasão diante da permanente, e mal dissimulada, intimidação dos Estados mais fortes e, desse modo, dificultar o uso da força. (Brasil 2022, 2010, disponível em http://www.sae.gov.br/brasil2022/?p=335 Extraído em 13/10/2011).


No II PND a tecnologia possui uma finalidade estratégica, ou seja, envolve alguns setores como o de energia nuclear, aeronaútica, atividades espaciais, indústria de base, petroquimica.

Desenvolvimento de novas tecnologias (Energia Nuclear, Pesquisa de Fontes Não Convencionais de Energia, Atividades Espaciais, Oceanografia); atuação voltada para, absorvendo o conhecimento existente, aplicá-lo à solução de problemas de interesse do País. São áreas, em geral, de operação em grande escala, a custos elevados, em que é necessário atuar na base de projetos bem definidos e com um orçamento delimitado.

• Tecnologia Industrial:

1) Desenvolvimento tecnológico de setores industriais básicos e de alto conteúdo tecnológico:
— indústria eletrônica, em particular, a de computadores;
— indústria de bens de capital;
— indústria química e petroquímica;
— indústria siderúrgica e metalúrgica; e
— indústria aeronáutica.
                                                           ( II PND, 1974, pp. 136)

O II PND menciona também a tecnologia de infraestrutura ou seja setores estratégicos ao desenvolvimento como os de energia, transportes e comunicações, com objetivos estratégicos.

Tecnologia de Infra-Estrutura: manter os setores de Energia, Transportes e Comunicações em nível de tecnologia internacional, inclusive através do complexo de centros de tecnologia em construção junto à UFRJ, na Ilha do Fundão (centros de tecnologia de petróleo, energia elétrica, exploração de recursos minerais, telecomunicações, etc).
(II PND, 1974, pp. 137)

            O ponto convergente desses dois planos é o de junção entre desenvolvimento tecnológico civil e militar. A formação de uma Indústria de Defesa Brasileira e sua reativação prevista na Estratégia Nacional de Defesa sancionada em 2008. Ao analisarmos esses dois planos observamos uma continuídade entre um plano do período autoritário, o II PND de 1974 e o Plano Brasil em 2022 de 2010, concebido em pleno regime democrático, no governo Lula (2003-2010).
            Nesse contexto a reivindicação do Brasil pela ocupação de um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU corresponde a essa visão de projeção internacional do Brasil explicitada no Plano Brasil 2022. Abordaremos agora uma um pouco dessa reivindicação brasileira que se atendida representará uma grande inserção do Brasil no Sistema Internacional de Nações.




[1] O G20 foi criado em 1999, na esteira da crise asiática de 1997, compõe o G-20 países como Africa do Sul, Argentina, Brasil, México, Canadá, Estados Unidos, China, Japão, Coréia do Sul, índia, Arabia Saudita, Turquia, União Européia, França, Alemanha, Itália, Rússia, Reino Unido e Australia. Para reunir as principais economias avançadas e emergentes para estabilizar o mercado financeiro global. Desde a sua criação, o G20 reune esforços e medidas para promover a estabilidade financeira do mundo e alcançar um crescimento económico sustentável e desenvolvimento. Para enfrentar a crise financeira e económica que se espalham por todo o globo em 2008, os membros do G20 foram chamados para reforçar a cooperação internacional. Assim, as Cúpulas do G-20 ter sido realizadas em Washington em 2008, em Londres e Pittsburgh em 2009, e em Toronto e Seul em 2010. As acções concertadas e decisiva do G20, com sua participação equilibrada de países desenvolvidos e em desenvolvimento do mundo; ajudou a lidar efetivamente com a crise financeira e econômica, e o G20 já emitiu um número de resultados significativos e concretos: Em primeiro lugar, o escopo da regulação financeira tem sido largamente ampliado e supervisão e regulação prudencial foram reforçadas. Houve também um grande progresso na coordenação política graças à criação do quadro de um crescimento forte, sustentável e equilibrado projetado para aumentar a cooperação macroeconômica entre os membros do G20 e, portanto, para atenuar o impacto da crise. (Dísponível no site do G-20 http://www.g20.org/index.aspx extraído em 19/11/2011).

[2] A Organização Mundial do Comércio (OMC) é uma organização internacional que trata das regras do comércio internacional. Em inglês é denominada World Trade Organization” (WTO) e conta com 156 membros à data de dezembro de 2011. A maior parte dos trabalhos em curso da OMC vem do chamado 1986-1994 negociações da Rodada Uruguai e também de negociações anteriores ao abrigo do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT). A OMC é atualmente o hospedeiro para novas negociações, no âmbito da "Agenda Doha de Desenvolvimento", lançado em 2001. Em seu coração são os acordos da OMC, negociados e assinados pela maioria das nações comerciais do mundo. Estes documentos estabelecem as regras do jogo legal para o comércio internacional. Eles são essencialmente contratos sendo, os governos a ligação para manter suas políticas comerciais dentro dos limites acordados. Embora negociado e assinado pelos governos, o objetivo é ajudar os produtores de bens e serviços, exportadores e importadores a realizarem os seus negócios, permitindo que os governos cumpram os objectivos sociais e ambientais. Relações comerciais muitas vezes envolvem interesses conflitantes e acordos, incluindo os meticulosamente negociado no sistema da OMC, muitas vezes precisam de interpretação. A maneira mais harmoniosa para resolver essas diferenças é através de algum procedimento neutro com base em um fundamento jurídico acordado. Esse é o propósito por trás do processo de solução de controvérsias por escrito como parte dos acordos da OMC. (Dísponível no site da OMC


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