Os Estados Unidos e a América Latina.
Fragmento da Tese de Doutoramento de Samuel de Jesus: "Gigante Pela Própria Natureza": as raízes da projeção continental brasileira e seus paradoxos. (22.06.2012)
Foi
em viagem a Espanha que o jovem Adams começou a desenvolver essa concepção
preconceituosa sobre o mundo hispânico.
O jovem John Quincy Adams acompanhou
seu pai na malfadada viagem pelo norte da Espanha. O diário de John Quincy aos
12 anos de idade enfatizava a população tosca daquele país (“eles são
vagabundos, sujos, grosseiros e, em suma, eu posso compará-los a nada mais do
que um bando de porcos”); sua pobreza opressiva, suas habitações imundas (“eles
nunca lavam nem varrem o chão”); e especialmente seu catolicismo repressivo.
“Pobres criaturas, são devoradas pelos padres. Perto de três quartos do que
ganham vai para o clero e com o quarto restante devem viver como puderem. Assim
é este reino inteiro enganado e iludido pela sua religião. Dou graças a Deus
Todo-Poderoso por eu ter nascido num país onde qualquer um pode viver bem se
quiser”. (SCHOULTS, 2000, pp. 21)
Como Secretário de Estado, John Quincy
Adams, também foi influenciado por relatórios de agentes dos EUA na América
Latina como Joel Roberts Poinsett, enviado pelo Presidente Madison (1809-1817)
a Buenos Aires e Chile entre 1812 a 1814. Seis anos mais tarde, a pedido do
Secretário de Estado Adams, Poinsett escreveu suas observações sobre o Cone Sul,
onde afirmava dentre outras coisas que o
espírito de litígio penetra todas as classes e continuava dizendo que o
grupo dos advogados compõe-se de um corpo
numeroso; e que sua prática difere em muito a pratica dos advogados
estadunidenses. Na América Latina, existe, segundo ele, a arte de multiplicar atos e procrastinar decisões até que o favor do
juiz seja assegurado por influência e suborno e que os líderes políticos criollos
de Buenos Aires eram especialmente desprovidos de princípios. Afirmava
também que não possuiam nada além de
baixa esperteza, truques e artifício; segundo ele, esse fato explicaria as
frequentes revoluções na América Latina. Alexander Scott foi outro observador
enviado pelo Governo dos EUA à Venezuela em 1812 com seis barcos carregados de
farinha para ajudar os atingidos por um terremoto que vitimou trinta mil
pessoas. (SCHOULTS, 2000,
pp. 22).
Na época, os venezuelanos estavam em
rebelião aberta contra a Espanha, mas Scott logo concluiu que nem os
revolucionários nem a calamidade natural eram responsáveis pelas condições que
ele observou. O problema, ele relatou, era que os habitantes da Venezuela eram
“tímidos, indolentes, supersticiosos incapazes de empreendimento ou esforço. A
considerar os hábitos correntes morais e intelectuais de todas as classes, temo
que eles não tenham ainda chegado àquele ponto da dignidade humana que torna o
homem adequado à fruição do governo livre e racional”. (SCHOULTS,
2000, pp. 22, 23).
O Cônsul dos Estados Unidos no Rio de Janeiro, Robert Lowry, no início do
século XIX, reclamava que na Venezuela
povo é mal preparado para os direitos da liberdade civil, isso foi, segundo
ele o fermento do despotismo espanhol que
certamente contaminou seus dirigentes
atuais, do mesmo modo que fez com seus antigos senhores. A monarquia
portuguesa no Brasil também não escapou de seus comentários depreciativos,
Lowry escreveu a seus superiores relatório no qual afirmava que a Monarquia
Brasileira degenerou para uma completa
efeminação e voluptuosidade e ainda segundo ele o clima também excita a todo tipo de depravação e delinquência. (SCHOULTS, 2000, pp. 22, 23). John Quincy Adams como Secretário de Estado foi quem
inspirou o que seria conhecido como Doutrina Monroe. Isso porque foi enunciada
pelo presidente Americano James Monroe (presidente de 1817 a 1825) em sua
mensagem ao Congresso em 2 de dezembro de 1823.
A
Doutrina Monroe com o lema a América para os americanos se contrapôs ao
colonialismo europeu, à Santa Aliança e à Grã-Bretanha. Monroe invocou nesta
doutrina o pensamento de Thomas Jefferson, segundo o qual a América tem um
Hemisfério para si mesma; a doutrina cumpriu seus objetivos de frustrar os
planos britânicos de recolonização da América e reafirmar o predomínio da
influência dos Estados Unidos sobre o continente.
Posteriormente, a política dos Estados
Unidos para a América Latina esteve baseada em variações dessa doutrina
objetivando estender sua influência sobre a América Latina. Aqui mencionaremos
as principais.
Desde a independência
até a década de 1820, os Estados Unidos amealharam territórios principalmente
da Espanha e França para a sua expansão no continente. A anexação do território
da Louisiana em 1803 quase fez dobrar as dimensões territoriais dos Estados
Unidos. Nesse momento Thomas Jefferson na Presidência comprou de Napoleão
Bonaparte por U$ 27.267.622, aproximadamente 2.144.520 km². (AMAYO ZEVALLOS,
1990, pp.14)[1].
A conquista do
território do Texas marca a segunda fase da expansão no continente. Afirma
Schoults (2000) que o primeiro movimento formal para anexação de terrítórios do
México ocorreu em 1825 quando o Secretário de Estado Clay instruiu o enviado
estadunidense Poinsett a procurar uma fronteira de rio mais ao oeste de Sabine.
(SCHOULTS, 2000, pp. 37).
Schoults (2000) afirma
que a demografia e não a diplomacia foi determinante para o fim da soberania do
México sobre o Texas. O fracasso da “mexicanização” obrigatória e a distância entre
a Cidade do México e o Texas fizeram com que o México perdesse o controle da
população anglo-saxã no Texas. Esses mantiveram sua cultura anglo-saxã, sua
língua, religião e, sobretudo o sistema escravista em laço com o sul dos EUA,
monocultor e escravista.
As conexões antigas entre o Texas e o
México central dificilmente se equilibravam; de fato, muitas eram prejudiciais
à manutenção da soberania mexicana. Os representantes do Texas na legislatura
baseada em Saltillo aumentaram irremediavelmente e mesmo esta pobre representação
provinciana era viciada pelo centralismo crescente do Estado mexicano.
(SCHOULTS, 2000, pp. 39)
Em 02 de março de 1836, os Estados Unidos, após uma
guerra sangrenta arrebataram, do México o território do Texas. Liderados por
Sam Houston declararam a independência do Texas separando-lhe do México. Fizeram
o presidente mexicano, Santa Ana, assinar um Tratado secreto no qual reconhecia
essa independência. O Texas ficou nessa condição de "independente"
até 1845 quando finalmente foi anexado pelos Estados Unidos. Essa política
estava baseada nos princípios do Destino Manifesto.
Uma era a expansão territorial. Uma
força política independente poderosa já no início da América Jacksoniana, no
final de 1830, a
expansão havia se tornado uma ideologia dominante; na década de 1840, ela teria
seu próprio nome: Destino Manifesto. (SCHOULTS, 2000, pp. 43)
O México entrou em decadência após a guerra travada
com os Estados Unidos. Essa guerra e a outra pela california resultou na perda
de metade do seu território e em sua completa devastação. Segundo o encarregado
estadunidense Robert Walsh presente na Cidade do México em 1848, essa decadência
era resultado da constituição racial da nação e das inabilidades da liderança
da elite hispânica, sobretudo ignorância, nas classes inferiores e corrupção
nas classes superiores. (SCHOULTS, 2000, pp. 61)
A guerra pelo Texas, seguiu-se outra para anexar a
Califórnia (1846). A assinatura do Tratado Guardalupe-Hidalgo em 02 de
fevereiro de 1848 concedeu o território da Califórnia aos Estados Unidos. A
partir dos territórios do Texas, Califórnia e Messilla surgiram os estados de
Nevada, Arizona, Utah, Novo México, Kansas. (AMAYO ZEVALLOS, 1990, PP.17).
A terceira fase da
expansão estadunidense vai até a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). É o
período de expansão, no continente rumo as Antilhas e América Central e fora do
continente no Oceano Pacífico. Começou com a conquista de Cuba que se deu
através da Guerra contra Espanha. Essa guerra é conhecida nos Estados Unidos
como a Guerra Hispano Americana.
A 20 de abril (de
1898) o Congresso resolveu que "é dever dos Estados Unidos exigir, e o
Governo dos Estados Unidos por isso exige, que o Governo da Espanha
imediatamente renuncie à sua autoridade e governo na ilha de Cuba e retire as
suas forças terrestres e navais de Cuba e de águas cubanas". ( Resolução
de 20 de abril de 1898, KENAN, 1984, pp.11,12 apud AMAYO ZEVALLOS, 1990, pp.27.).
Jefferson, Monroe e
John Quincy Adams consideravam Cuba como
parte dos Estados Unidos. Schoults (2000) afirma que os líderes estadunidenses
temiam o predomínio da influência européia sobre Cuba e Porto Rico, pois
consideravam esses dois países partes integrantes dos EUA.
No desenrolar do século XIX, os líderes
dos EUA permaneciam vigilantes para que um adversário europeu não se
aproveitasse da instabilidade na região e se apoderasse de Cuba. Como Jefferson
e Monroe, John Quincy Adams considerava Cuba e Porto Rico “apêndices naturais
do continente norte-americano”. Em 1823, ele escreveu ao novo ministro dos EUA
em Madrid que a “anexação de Cuba a nossa república federal será indispensável
à continuidade e à integridade da própria União.” Foi isto que Jefferson já
amadurecido disse a Monroe ao mesmo tempo: “seu acréscimo à nossa confederação
é exatamente o que falta para expressar nosso poder como nação ao ponto de seu
máximo interesse.” Poucos meses depois, ele escreveu novamente ao presidente
Monroe: “Confesso sinceramente que sempre considerei Cuba como a adição mais
interessante que poderia ser feita a nosso sistema de estados. (SCHOULTS, 2000,
pp. 43)
Para os Estados Unidos, Cuba possui uma posição
geograficamente estratégica de primeira importância, pois está localizada
próxima ao Golfo do México, ao mar das Antilhas e do Panamá. Essa conquista,
segundo Jefferson, era fundamental para a defesa da Louisiana e Flórida.
Adams e sua geração estavam dispostos a
continuar a política de Jefferson e Madison de evitar mudanças desnecessárias,
e nem ele nem seus sucessores imediatos agiriam para adquirir Cuba enquanto a
ilha permanecesse uma possessão da Espanha, um poder europeu impotente. Mas
conforme Adams e Clay gradualmente desapareciam do cenário político, uma nova
geração de líderes, encorajados pelo sucesso da guerra contra o México,
decidiram que era o momento certo para adquirir Cuba. A questão surgiu durante
o debate de 1848 sobre a ocupação militar do Yucatán, um debate que se
concentrou no expansionismo britânico. “Vimos a Grã-Bretanha ano após ano
estender suas estações navais, até... ela quase circundar o Golfo do México,” afirmou
Jefferson Davis do Mississipi[2]. “Yucatán
e Cuba são os pontos que comandam o Golfo do México, que eu considero uma bacia
de água pertencente aos Estados Unidos. Sempre que surgir a questão de se os
Estados Unidos devem apoderar-se destes portões de entrada do sul e do leste,
ou permitir que eles passem a ser posse de qualquer Poder marítimo, quanto a
mim, estarei pronto a declarar que meu passo será para diante, e que o cabo de
Yucatán e a ilha de Cuba devem ser nossos.” Embora fosse um expansionista
relutante, John Calhoun[3]
concordou: “é indispensável à segurança dos Estados Unidos que esta ilha não
esteja em outras mãos. Se estivesse, nosso comércio de cabotagem entre o Golfo
e o Atlântico seria, em caso de guerra, cortados em dois, e efeitos convulsivos
se seguiriam.” Nem Davis nem Calhoun mencionaram que Cuba era uma sociedade
escravocrata. (SCHOULTS, 2000, pp. 68).
As conquistas obtidas por meio da Guerra
Hispano-Americana (1898) fizeram com que os Estados Unidos se tornassem uma
potência emergente. Schoults (2000) comenta a velocidade em que
ocorreu a tomada militar das Filipinas e de Cuba das mãos da Espanha.
Foi, como observaria John Hay[4],
“uma esplêndida pequena guerra.” A esquadra do Pacífico do Almirante Dewey[5]
rumou desapercebida para o porto de Manila na noite de 30 de abril e, quando o
dia raiou, ele disse a Gridley, o capitão de sua nau almirante, para atirar
quando estivesse pronto. Depois de várias horas de bombardeio, a batalha foi
interrompida por três horas para o café da manhã, sendo em seguida retomado por
mais uma hora. Na hora do almoço, Dewey havia destruído o controle da Espanha
sobre as Filipinas. Foi preciso mais dois meses para as tropas dos EUA se
agruparem no sudeste de Cuba, mas assim que elas chegaram, a vitória veio
rapidamente. Em 1 e 2 de julho, cerca de 15.000 soldados dos EUA, inclusive
Roosevelt em seu uniforme feito sob medida no Brooks Brothers, derrotaram
cerca de 2.000 soldados espanhóis em San Juan Hill e na aldeia de El Caney a
poucas milhas ao leste de Santiago (de Cuba); em 3 de julho a franzina flotilha
do Almirante Pascual Cevera[6]
foi destruída ao tentar escapar de Santiago. Esses três dias de combate
encerraram a resistência espanhola, e Santiago capitulou em 17 de julho. As
baixas dos EUA foram leves (cerca de 300 mortos e menos de 1.500 feridos), os
cidadãos em casa ficaram jubilosos e Theodore Roosevelt estava na rota para a
Casa Branca. (SCHOULTS, 2000, pp.164, 165)
A expansão segundo a ideologia do Destino Manifesto
dos Estados Unidos era baseada na idéia de que o progresso e glória desse país era
determinado pela providência divina. (AMAYO ZEVALLOS, 1990, pp. 107). Withelaw
Reid, comissariado do governo norte-americano que defendia as conquistas
territoriais dos Estados Unidos em conferências pelo país, afirmava;
... Possuimos quase
mais da metade da costa ( do Oceano Pacífico) neste lado...Estender agora a
autoridade dos Estados Unidos ao grande arquipelago Filipino é como cercar o
Mar da China para assegurar-se uma posição dominante quase igual no outro lado
do Pacífico... corretamente usada, permitirá a norte américa converter o Oceano
Pacífico quase em um lago dos Estados Unidos... O comércio com as Filipinas
será uma gota num balde, comparado com o da China para o qual elas nos fornecem
uma base incomparável... Somos hoje a nação mais rica do globo. O montante de
nosso comércio é maior que o de qualquer potência da terra... Nova York, e não
Londres, tem que ser o centro monetário do mundo... (NEARING &
FREEMAN, 1969 pp. 353 apud AMAYO,
1990, pp. 108)
Roosevelt: Big Stick e a Diplomacia
do Dólar
O ex-presidente Theodore Roosevelt é
um símbolo da Política norte Americana voltada à America Latina, pois suas
convicções resultaram em duas políticas de intervenção: a Doutrina do Big
Stick (ou política do grande porrete) e a Diplomacia do Dólar
(inaugurado por ele e levado em frente pelo seu sucessor William Taft).
A Diplomacia do Dólar consistia em
ajuda financeira dos Estados Unidos à economia dos países sul-americanos com o
objetivo de ampliar seu comércio, segundo o presidente Taft esta política
significava a diplomacia estimulando o dólar.
O termo “Diplomacia do Dólar” não
transmite o sentido claro de quem está fazendo o quê para quem. São os dólares
ajudando a diplomacia, ou a diplomacia estimulando o lucro em dólares? O
Secretário Assistente (de Estados dos EUA) Huntington Wilson acreditava que os
dólares estavam ajudando a diplomacia, “usar o capital do país no campo
estrangeiro de uma maneira calculada para realçar as políticas nacionais fixadas.
Isto significa a substituição de balas por dólares.” Mas Taft, em sua mensagem
de despedida, assegurou que sua política tinha sido “dirigida para o aumento do
comércio americano sobre o princípio axiomático de que o Governo dos Estados
Unidos deve estender todo apoio a todo empreendimento americano legítimo e
benéfico no estrangeiro.” Para Taft, a Diplomacia do Dólar significava diplomacia
estimulando o dólar. (SCHOULTS, 2000, pp. 238).
perante o Congresso dos Estados
Unidos afirmou que a Colômbia era incapaz de manter a ordem sobre o Panamá e
que policiam a região com o objetivo de resguardar os interesses dos Estados
Unidos e do mundo civilizado.
O Presidente introduziu sua segunda
explicação em sua mensagem anual ao Congresso em dezembro de 1903, quando
assegurou que “a experiência de mais de meio século demonstrou que a Colômbia é
definitivamente incapaz de manter a ordem no Istmo.” Roosevelt disse ao
Congresso que “nós, com efeito policiamos o Istmo no interesse de seus
habitantes e de nossas próprias necessidades nacionais, e para o bem de todo o
mundo civilizado.” O Presidente argumentou que “se alguma vez um governo pôde
dizer ter recebido um mandato da civilização para levar a cabo um objetivo cuja
realização era exigida no interesse da humanidade, os Estados Unidos estão
nesta posição no que diz respeito ao canal interoceânico.” (SCHOULTS, 2000, pp.
195)
Amayo Zevallos (1990) afirma que a
apropriação e domínio do Canal do Panamá (1903) era essencial para controlar o
comércio mundial, além de constituir um dos territórios estratégicos mais
importantes do mundo. Theodore Roosevelt justificou tudo isso segundo o seu
Corolário que é uma reinterpretação da Doutrina Monroe...
Qualquer país com um
povo bem comportado pode contar com nossa amizade sincera. Se uma nação mostrar
que sabe atuar com razoável decência e eficiência em assuntos sociais e
políticos, se ela souber manter a ordem e pagar suas obrigações, não precisa
temer a intervenção dos Estados Unidos. O mal estar crônico ou a impotência que
causem um relaxamento das ligaduras da sociedade poderão, na América como em
qualquer parte, suscitar finalmente a intervenção de alguma nação civilizada, e
no hemisfério ocidental a aderência à Doutrina Monroe poderá forçar os Estados
Unidos, ainda que relutando, em casos flagrantes dos mencionados mal estar ou
impotência, a exercer o poder de polícia internacional. (SKIDMORE & SMITH,
1984, pp.419 apud AMAYO, 1990, pp.115).
O Corolário Roosevelt tornou-se uma
Política do Estado norte-americano, a principal diretriz da Política Externa
Estadunidense. Roosevelt seria um “Cowboy” que lutaVA com armas na mão contra o inimigo racial e “culturalmente
inferior”. Theodore afirma que se a descoberta da América foi o inicio de um
período de expansão racial, sobretudo
a conquista do Oeste comprovou a superioridade saxã na América e a americana no
mundo. (OLIVEIRA, 2000, pp.146).
Schoults
afirma que Theodore Roosevelt acreditava que as civilizações mostravam a sua
superioridade através da guerra que, sobretudo aperfeiçoaria a raça humana.
Inquieto, irrefletido e possuído de um
insaciável desejo de proteger a masculinidade da nação, Roosevelt lutava com
unhas e dentes contra qualquer proposta que pudesse amolecer as pessoas,
chegando ao ponto de conceber a tarifa aduaneira como uma questão de caráter
masculino: “Neste país a indulgência perniciosa na doutrina do livre comércio
parece produzir inevitavelmente degeneração adiposa da fibra moral.” Para
Roosevelt, a guerra era a maneira pela qual as civilizações superiores
demonstravam sua superioridade, “empurrando” seus inferiores e deste modo
aperfeiçoando a raça humana. Este darwinismo social pode ser explicação
suficiente para a belicosidade de Roosevelt, mas é difícil ler sua
correspondência e não concluir que alguma motivação adicional vinha da
percepção de que a guerra oferecia uma oportunidade
para ascensão pessoal. (SCHOULTS, 2000, pp. 158, grifo do autor)
Além disso, por exemplo, Maria Lígia Coelho Prado
(2000, pp. 324) mostra que a concepção de superioridade dos Estados Unidos com
relação aos seus vizinhos do sul deve ser observada do ponto de vista religioso,
pois os protestantes (eles) se consideram superiores aos católicos. Essa
concepção foi incorporada à Política Externa Norte Americana para América
Latina desde os tempos da Doutrina Monroe.
A já mencionada Doutrina do Grande Porrete que foi adotada pelo
presidente estadunidense Theodore Roosevelt. Ela atribui aos Estados Unidos o
papel de polícia internacional no hemisfério ocidental. (OLIVEIRA, 2000).
Roosevelt se apropriou de um provérbio africano que assim dizia: fale com
suavidade e tenha à mão um grande porrete. As intenções desta política era
proteger os interesses econômicos dos Estados Unidos na América Latina e propiciar maior envolvimento em
questões internacionais. Roosevelt é responsável também por ter iniciado a
Doutrina chamada de Diplomacia do Dólar.
Bastos
(2005) afirma a Diplomacia do Dólar tinha como objetivo criar e
consolidar uma zona econômica e militar segura, controlada por investidores,
marines e pró-cônsules estadunidenses; também aumentar as exportações e obter
alimentos e insumos baratos. Essa doutrina previa difundir o uso do dólar.
Utilizava o não pagamento de dívidas como pretexto para intervir militarmente,
uma intervenção “saneadora” diante da instabilidade política e econômica dos
países latinos. Este tipo de estratégia que usa o dólar como meio ou fim da
política externa foi iniciada pela administração
republicana de Theodore Roosevelt (1901-1909) e consolidada pelo presidente também Republicano William Taft (1909-1913) que batizou esse estilo
de intervenção de “Diplomacia do Dólar” e, ao que sabemos,
prosseguiu nas administrações posteriores. (BASTOS,
2005, pp.. 28, 29).
De
fato, a inauguração da diplomacia do dólar permitiu a Roosevelt alegar que
estava superando o imperialismo típico dos países europeus. Na prática, estava
criando um novo método de projeção de poder em que a intervenção militar não
vinha proteger investimentos prévios; ao contrário, novos empréstimos é que
estariam prevenindo a intervenção militar. O refunding da dívida
dominicana com bancos europeus, financiado com lançamentos de títulos em Wall Street , aumentava
a influência financeira e política estadunidense em uma região estratégica e
retirava o pretexto para incursão militar européia: as canhoneiras européias
seriam substituídas por dólares. (BASTOS, 2005, pp.
38).
Ou ainda
Foi
William Howard Taft (1909-1913), que cunhou a expressão Diplomacia do Dólar.
Segundo ele, a Diplomacia do Dólar substituiria canhoneiras e balas por
dólares, e marines por bancos. A experiência de Taft na gestão de colônias
e protetorados não era recente: foi o primeiro pró-cônsul civil das Filipinas
(1901) e, como Secretário da Guerra de Roosevelt desde 1904, chefiou o envio de
navios para acelerar a retificação do tratado dominicano em 1905, e a
instalação de um governo de ocupação em Cuba entre 1906 e 1909. A alegação de que
substituiria balas por dólares não se mostrou verdadeira: a primeira barganha
de “empréstimo por controle fiscal” na Nicarágua, em 1910, foi imposta a um
governo que marines tinham ajudado a colocar no poder, e chancelou a
aliança com as novas autoridades. (BASTOS, 2005, pp.
39).
A Política da Boa vizinhança.
O americanismo tomou corpo nos Estados
Unidos principalmente na primeira metade do século XX e está associada a seus
heróis americanos e às idéias de liberdade, direitos individuais e
independência. Por meio desses ideais seriam superadas as diferenças de classe,
credo e raça. Porém, o elemento ideológico mais importante, o progressivismo,
está associado ao racionalismo, ou seja, a visão de um mundo de abundância e
capacidade criativa do homem desse país. (TOTA, 2000 pp.19)
Tota
(2000, pp.19) escreve que a americanização do Brasil foi uma estratégia que
objetivava quebrar possíveis resistências à aproximação do Brasil com os Estados
Unidos. Esse plano seria executado através da Política de Boa Vizinhança que não foi limitada ao Brasil, mas a
toda América Latina. Na pratica, foi montado uma “fabrica de ideologias” pelo
governo norte-americano tal como o americanismo.
Este foi elaborado com determinadas matérias primas ideológicas em que o sufixo
“ismo” se tornou um poderoso armamento intencional. A ideologia da democracia é
um dos seus fundamentos mais importantes.
Hoover, eleito em 1928, foi o primeiro presidente estadunidense a visitar
o Brasil, mas na condição de presidente eleito. Lançou uma nova diretriz
política para as relações entre Estados Unidos e América Latina. A esse
respeito afirmou a necessidade de uma nova postura dos EUA para desfazer
suspeitas e temores e adquirir o respeito e confiaças das nações
latino-americanas. Em Honduras, Hoover falou
sobre ser um bom vizinho, ou seja, parar de enviar forças armadas dos EUA para
os países da América Latina, assim repudiou a intervenção para proteger
investidores dos EUA. (SCHOULTS, 2000, pp. 325)
Imediatamente após sua eleição em 1928,
Herbert Hoover organizou uma viagem de boa vontade de dois meses pela América
Latina. Ele escreveria mais tarde em suas memórias que “como Secretário de
Comércio desenvolvi uma crescente insatisfação com nossas políticas em relação
à América Latina. Eu estava convencido de que, a menos que mostrássemos uma
atitude inteiramente diversa, nunca desfaríamos as suspeitas e temores em
relação ao “Colosso do Norte” nem ganharíamos o respeito daquelas nações.” E
assim, em sua primeira parada em Honduras, o Presidente eleito falou sobre ser
um bom vizinho o que, na época, significava parar de enviar forças armadas dos
EUA para os países da América Latina. Concluindo quase três décadas de lenta
mudança política, o Presidente Hoover limpou a casa, começando um mês após sua
posse quando, numa clara referência à longa disputa com o México, o novo
Presidente especificamente repudiou a intervenção para proteger investidores
dos EUA. (SCHOULTS, 2000, pp. 325).
O americanismo adotava uma imagem que
valorizava o homem branco, protestante, condutor do progresso e contrário a
vida selvagem. Segundo esta concepção do sul do Rio Grande se concentrava a
América dos índios, negros, de mulheres e crianças. Essa América Latina deveria
ser domesticada através de lições de progresso e de capitalismo para se
“desenvolverem”, deixando assim sua posição de “inferioridade”. (TOTA, 2000,
pp.30).
Nas
eleições presidenciais de 1940, Roosevelt tentava a reeleição. Para ele, seria
importante o apoio de republicanos defensores da proximidade maior dos Estados
Unidos com a América Latina, republicanos como Nelson Rockefeller, o grande
burguês estadunidense, dono da Standard Oil Company. Rockefeller tinha feito
uma viagem à Venezuela para inspecionar as áreas de exploração de petróleo de
sua empresa. Essa viagem só fez aumentar o seu interesse pela América Latina.
Observou
que seus funcionários viviam em péssimas condições de trabalho. Quando voltou a
seu país, determinou que por meio da fundação Rockefeller fosse adotada uma
nova postura no tratamento aos seus funcionários; assim tentava fazer com que
sua companhia ganhasse uma imagem mais humana. A fundação enviou para América
Latina médicos, professores e missionários. Temia que uma onda de antiamericanismo
pudesse afetar seus negócios na América Latina. (TOTA, 2000, pp.44)
Após a
invasão da Dinamarca pelos alemães em abril de 1940, os mentores da política externa
dos EUA passaram realmente a se preocuparem com sua influência no continente. A
situação de pobreza em que viviam os países latino-americanos poderia fomentar
a criação e fortalecimento de grupos revolucionários comunistas ou facistas.
Então foi criada a Comissão interamericana de Desenvolvimento que adotaria uma
série de posturas visando o desenvolvimento econômico, social e militar da
América Latina. (TOTA, 2000, pp.46)
Rockefeller
fazia parte da JUNTA que era um grupo não oficial. Esse grupo, sob a liderança
de Rockefeller, elaborou um memorando chamado Hemisphere Economic Policy, adotado pelo Governo Roosevelt como uma
diretriz da política externa estadunidense para a América Latina. Segundo esse
memorando, o governo estadunidense deveria se aliar aos grupos nacionalistas e
não se opor a eles. Deveria também tornar a economia latino-americana mais
competitiva. Isso ocorreria em estreita cooperação econômica e cultural entre
os governos das Américas. Como medida de emergência propunha a compra da
produção agrícola e mineral da região. (TOTA, 2000, pp.47 e 48)
Posteriormente apareceria na Doutrina da
Política da Boa vizinhança. Foi criada e apresentada pelo governo da
administração Franklin D. Roosevelt (1933-1945). Iníciou-se na Conferência
Panamericana de Montevideo, em dezembro de 1933. No campo político-estratégico, possibilitou aos
Estados Unidos a defesa de sua área de influência frente à competição
internacional do nascente sistema de poder alemão. O Brasil então estava sobre
a Ditadura do Estado Novo (1937-1945). Esse regime autoritário guardava
semelhanças com os regimes políticos italiano e alemão, pois eram regimes
autoritários de Direita. Esse fato fez os membros dos órgãos de Estado
norte-americano a acreditarem que o governo brasileiro nutria simpatias pelo
regime político alemão. ( FGV-CPDOC, 2010, dísponivel em: http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos30-37/RelacoesInternacionais/BoaVizinhanca,
extraído em 11-12-2010).
No
campo econômico, a política de boa vizinhança serviu aos interesses dos Estados
Unidos que tentavam se recuperar dos efeitos da crise de 1929. O discurso de
solidariedade e cooperação com a América Latina possibilitou a formação de
mercados externos para os produtos e investimentos norte-americanos, além de
garantir o suprimento de matérias-primas para suas indústrias. (FGV-CPDOC, 2010, dísponivel em: http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos3037/RelacoesInternacionais/BoaVizinhanca,
extraído em 11-12-2010).
Após a Segunda
Guerra Mundial é iniciado um novo momento da Política Externa Estadunidense. Em
1947 começa a Guerra Fria que representa a divisão do mundo em duas esferas de
influência. A esfera política capitalista, liderada pelos Estados Unidos e a
esfera política socialista, liderada pela União Soviética. Na América do Sul os
Estados Unidos tentará exercer o controle político
através da Doutrina Truman.
Essa
doutrina se refere a um conjunto de práticas do
governo dos Estados Unidos, em escala mundial. Harry S. Truman pronunciou, em
12 de março de 1947, diante do Congresso Nacional dos Estados Unidos, um duro
discurso no qual se comprometia defender o mundo capitalista contra a ameaça
comunista. Esse discurso marca o inicio da Doutrina
Truman que faz parte do contexto da Guerra Fria marcada pelo forte
antagonismo com o bloco comunista.
A Doutrina Truman é conhecida também como
Doutrina da Contenção. Essa estratégia tinha como objetivo reter o avanço do
comunismo no Ocidente. Para isso, os Estados Unidos utilizavam estratégias
militares, econômicas, políticas e diplomáticas. A Doutrina de Contenção foi
criada pelo diplomata estadunidense John Frost Kennan (ex- embaixador dos EUA
na União Soviética). A palavra Contenção se originou através de um
relatório apresentado por Kennan ao secretário de Defesa James Forrestal em
1947. Essa doutrina foi associada à política externa do presidente Harry Truman
(1945-1953) e se estendeu por grande parte da Guerra Fria (1947-1989). Por
influência dessa doutrina foi criado o Tratado do Atlântico Norte – (OTAN[7])
(um pacto de defesa mútua entre os países capitalistas). (PECEQUILO, 2003).
Outra
política estadunidense voltada para a América Latina foi a Aliança para o
Progresso. Este foi um programa dos Estados Unidos
cuja origem remonta ao discurso de 13 de março de 1961 quando o presidente John
F. Kennedy recebia, na Casa Branca, os embaixadores latino-americanos. Posteriormente,
foi referendada no Conselho Interamericano Econômico e Social da Organização
dos Estados Americanos[8]
- (OEA), ocorrida em Punta del Este, no Uruguai, entre 05 e 17 de Agosto de
1961[9]. Seu resultado foi a Declaração e Carta de Punta del
Este. A aliança durou entre 1961 e 1971. Seu investimento foi da ordem de 20
bilhões de dólares. A Aliança para o Progresso era claramente uma forma de reação à
Revolução Cubana (1959), pois a Administração Kennedy nutria o medo de uma
cubanização da América Latina, dessa forma tentava promover o desenvolvimento
econômico e social mediante a colaboração financeira e técnica em toda a
América Latina. (PECEQUILO, 2003)
Na
década de oitenta do século XX a administração Reagan esteve com sua atenção
voltada para a América Latina, o caso mais importante é o do Irã-Contras. Em 1983, com medo de que os Estados Unidos entrassem em
um novo Vietnam sul americano, o Congresso
Norte-Americano impôs limites para a ajuda do governo estadunidense aos Contras
(Guerrilha pró-Estados Unidos cujo objetivo era derrubar a Revolução Socialista
Nicaraguense.) Inconformada
com a decisão, a administração Reagan
(1981-1988) por intermédio da CIA, montou uma operação secreta para ilegalmente
financiar os Contras. Para Arrecadar dinheiro necessário, a CIA passou a
colaborar com os cartéis de narcotráfico colombianos, assim adquirindo
narcodólares com os quais comprava armas do Irã e as fornecia aos Contras.
Noriega teria sido o homem-chave desta operação. (ARBEX, 1993, pp 28, 29)
A Doutrina Bush[10], (1989-1992)
para a América Latina teve como destaque a invasão do Panamá. Em 20 de dezembro de 1989, o Panamá foi invadido pelos
Estados Unidos com 13 mil marines, na chamada Operação Causa Justa. A
principal alegação era a de que o general Manuel Antonio Noriega tinha ligações
com o narcotráfico e desenvolvia uma política hostil aos Estados Unidos.
Noriega era sabidamente agente da CIA pelo menos desde 1967. Noriega fez
carreira política à sombra de Omar Torrijos, ditador do Panamá que chegou ao poder
em 1968; Noriega era o chefe da polícia panamenha nesse período. Nas décadas
seguintes seu poder cresceu através de tramas, fraudes e golpes palacianos. Em
1981 com a morte de Torrijos, Noriega passou a exercer um poder político
incontestável em seu país. O ápice do envolvimento de Noriega com a CIA foi sua
participação no esquema clandestino de financiamento da guerrilha, pró-Estados
Unidos, contra o governo socialista da Nicarágua chamado “Escândalo Irã-Contras
(1983).” (ARBEX, 1993, pp. 1993).
O
Panamá situa-se em um ponto de importância estratégica mundial, em uma área
cuja distância terrestre entre os oceanos Pacífico e Atlântico é a menor do
mundo. No inicio do século XX os Estados Unidos construíram o Canal do Panamá.
Pagaram 10 milhões de dólares pelos direitos de
exploração do canal cuja construção foi encerrada
em 1914. O canal do Panamá faz parte da expansão imperialista estadunidense que
incluía a anexação de territórios continentais que pertenciam à América
espanhola, Califórnia mexicana, Cuba e o Panamá. (ARBEX, 1993, pp. 30).
Sua estratégia de implantação envolvia a formação de
blocos regionais. Entre os países do norte seria formado um bloco, o Mercado
Comum do Norte - (MERCONORTE), englobando Estados Unidos, México e Canadá e ao
sul, o Mercado Comum do Sul – (MERCOSUL), formado pelos países andinos e
amazônicos. Compreenderia também várias iniciativas bilaterais entre Estados
Unidos e os países latino-americanos.
NAFTA[11] e a ALCA[12]
são desdobramentos da Iniciativa Bush, mas todas elas correspondem a Doutrina Monroe. Segundo Samuel Pinheiro Guimarães a
ALCA faz parte de uma estratégia norte-americana com objetivos políticos,
econômicos e militares de longo prazo que se inicia na Cúpula de Miami de 1994,
que reuniu 34 países, aprovando uma declaração de princípios sobre o
fortalecimento da democracia, abertura dos mercados, integração continental,
desenvolvimento sustentável e a luta contra pobreza também e estabeleceu os
objetivos da ALCA até 2005. (GUIMARÃES, 2006, pp. 42,43).
A
principal estratégia da Cúpula de Miami seria a consolidação da influência dos
Estados Unidos sobre os maiores países latino-americanos. A cúpula tentou
fechar acordos para a desregulamentação das economias, promoção da abertura
comercial e financeira dos países latino-americanos. Sobretudo, tentava
conseguir apoio para suas estratégias específicas de combate ao narcotráfico e
ao terrorismo.
Do ângulo militar,
essa estratégia visa colocar sob “protetorado” militar americano os Estados da
América Latina, por meio de acordos que dificultem ou impossibilitem o
desenvolvimento de tecnologias avançadas, que são, muitas vezes, pela sua
natureza, duais (com uso militar e civil), que reduzam seus armamentos
convencionais e, por último, que confiem às suas forças armadas apenas o papel
de guardiões da ordem interna, transformando-as em forças policiais.
(GUIMARÃES, 2006. pp.43).
Petras (2002 apud BORGES, 2002) afirma que o Plano Colômbia na administração George W. Bush fez
parte de uma estratégia que visava aumentar o controle dos Estados Unidos sobre
a América Latina em um cenário internacional desfavorável aos Estados Unidos,
em que a competição européia e a crise econômica apresentava seus sinais
visíveis.
O Plano - Colômbia tem a
característica de ser um projeto financeiro-militar colombiano feito com o
apoio dos Estados Unidos. Seu objetivo é combater o narcotráfico. Esse plano
foi elaborado nos primeiros anos da administração Andrés Pastrana (1998-2002).
Foi orçado em 7,5 bilhões de dólares; desses, 4 bilhões são originários do
governo colombiano e o restante provém de fontes externas (CLINTON libera US$ 1,3 bilhão à
Colômbia, O Estado de São Paulo, 24/08/2000 apud BORGES, 2002).
Os Estados Unidos por
meio do Plano-Colômbia forneceram 1,2 bilhões para que o governo colombiano
destruísse a guerrilha, representada pelas Forças Armadas Revolucionárias da
Colômbia – (FARC) e o Exército de Libertação Nacional – (ELN); também fizeram
alianças secretas com grupos paramilitares.
Os
estrategistas de Washington estão preocupados com vários temas geopolíticos
cruciais, que poderiam afetar de maneira adversa o poder imperial dos Estados
Unidos na região e fronteiras. O tema da insurgência colombiana é parte de uma
matriz geopolítica que visa a questionar e modificar essa hegemonia no Norte da
América do Sul e na zona do Canal do Panamá (PETRAS, 2002, p. 39 apud BORGES
2002).
Borges (2002) salienta que as
relações entre os EUA e os países Andinos são determinadas em grande parte pelo
combate à produção e ao tráfico de drogas. Sua principal hipótese é que os EUA
influenciam as relações entre os países amazônicos ( pois o habitat natural do
produtor das folhas de coca é a região amazônica dos países andinos)
dificultando a solução dos problemas amazônicos e atrapalhando a cooperação
regional.
Os Estados Unidos e seus projetos de militarização na Colômbia e Peru
Recentemente a Colômbia fechou um acordo com os
Estados Unidos para instalação de três bases em seu território (em Malambo, Palanquero e Apiay). Esse fato gerou
(e ainda gera) desconfianças na América do Sul. Embora seja uma decisão
soberana do governo colombiano que pretende decidir sobre esse acordo sem
consultar os países membros da UNASUL. O
general estadunidense Jim Jones, responsável por esse acordo, afirmou que as
bases não representam nenhum tipo de ameaça por se tratar de efetivo muito
reduzido de 800 militares. (MARIN
& MONTEIRO, 2009).
Bogotá
afirma que o objetivo é o de implantar um moderno esquema de cooperação militar
com os Estados Unidos, também afirmou que não pretende executar missões fora do
seu território (MARIN & MONTEIRO, 2009). Desmente essa afirmativa, o incidente
diplomático gerado pela perseguição de Raúl Reyes, número dois das FARC, em
pleno território equatoriano pelos militares colombianos. Soma-se, também, o
pronunciamento do ex-presidente colombiano, Álvaro Uribe, de que o acordo
permite o acesso dos Estados Unidos à informações de inteligência, assim como
vantagens na compra de armas e aviões. (MARIN & MONTEIRO 2009.)
Outras
regiões do mundo recebem uma preocupação maior dos Estados Unidos, mas apesar
de nos mencionar pouco nos discursos oficiais, esse país acompanha de perto
evolução política latino-americana. Exemplo disso foi a inclusão do México no
NAFTA e o fato de terem lançado a ALCA. A estratégia política dos Estados
Unidos para a América Latina tem como principal objetivo manter e preservar a
Doutrina Monroe. Dessa forma pretendiam estruturar um organismo no continente para
legitimar suas intervenções militares e por outro lado alinhar a Política
Externa Latino-Americana à sua e manter regimes (democráticos ou não) para
garantir liberdade de ação na defesa dos interesses estadunidenses. (GUIMARÃES,
2006)
A estratégia militar
para a América latina tinha como objetivo central manter as Américas como zona
de influência militar, através de programas de formação de oficiais e da
defasagem tecnológica das Forcas Armadas, de acordos de vendas de armamentos de
segunda ou terceira geração e de garantia de acesso preferencial norte americano
às matérias primas da região. (GUIMARÃES, 2006, pp.39).
Quando o governo peruano percebeu
que a militarização favorecia grupos como o Sendero Luminoso, mudou sua
postura, passando a investir em programas de desenvolvimento que resultaram na
vitória do Estado peruano. (AMAYO
ZEVALLOS, 1993). Os Estados Unidos fez
oposição à visão desenvolvimentista peruana considerando que era fundamental a
militarização ao invés de desenvolvimento. O presidente Bush (pai) chegou a
propor a criação de um exército interamericano. Este interviria em qualquer
país latino-americano sob a justificativa de combate a guerrilha e ao
narcotráfico. O Peru considerou como inútil essa via da militarização e a
descartou. Esse fato representou uma grande derrota do Governo Bush. (AMAYO
ZEVALLOS, 1993)
A
visão militarista dos Estados Unidos serve aos seus interesses diretos de
expansão hegemônica e de controle sobre a América Latina. Os projetos de desenvolvimento diminuiriam a
margem de dependência de países como o Peru em relação aos norte-americanos.
Acabariam também com as justificativas de intervenção. Existiu uma pressão do
governo estadunidense para que o Peru e Brasil, aceitassem, em seu território,
os agentes da Drug Enforcement Agency - (DEA). Esse
órgão, sabidamente é o principal órgão de inteligência dos EUA no “combate” a entorpecentes. (AMAYO
ZEVALLOS, 1993).
Os Estados
Unidos e o Brasil: relações entre os governos, os militares brasileiros e
Washington.
O Brasil possui uma grandiosa
importância no continente americano. Isso se deve à sua extensão geográfica,
demográfica, seu potencial econômico e posição geopolítica na América do sul. Esses fatores o permitem fazer frente à
hegemonia estadunidense no hemisfério sul. A amizade com o Brasil é parte da
estratégia norte-americana. Essa estratégia possui duas táticas: primeira,
convencer a elite brasileira sobre a influência hegemônica dos Estados Unidos
no continente, segunda, colaborar para que o Brasil seja o ponto de equilíbrio
no continente, mas impedindo que se torne hegemônico. (GUIMARÃES, 2006, pp.40).
Intelectuais brasileiros como André
Rebouças, engenheiro e uma das vozes mais proeminentes do século XIX,
idealizava o Brasil moderno. Na sua prática cotidiana fazia da engenharia um
instrumento de modernização do país e nesse ideal entendia que o melhor exemplo
de sociedade a ser seguida era a norte americana. Maria Alice de Rezende
Carvalho, sua biografa, afirma:
... em Rebouças a
passagem dos nos 70 para os 80 pode ser entendida como uma transição do
“yankismo”, isto é, da crença da utilidade social do interesse individual para
a defesa de uma via de modernização (cuja referência aos casos alemão e
Italiano seria a ilustração mais eloqüente). Nesse sentido, pode-se dizer que a
“demarche” de Rebouças na década de 1880 constitui-se em acomodar a preservação
da via norte-americana de modernização a abdicação da forma racional de
realizá-lo no Brasil, a revolução democrática e agrária popular, resolvendo-a
nos termos de uma “americanização” adaptada implicou, por suposta, a
consideração de história nacional. (CARVALHO, 1998, pp. 129-130).
Para Rebouças a hegemonia
norte-americana considerava o interesse dos excluídos, dos povos, das classes e
pautava-se pela democratização social de modo a que todos tivessem acesso à
autonomia e riqueza. Outro pensador
latino-americano, o argentino Domingos Faustino Sarmiento, defende em seu livro
Facundo: civilização e barbárie a adoção do modelo norte-americano para
se chegar à “civilização.” (CARVALHO, 2008).
2.3.1
A Política da boa
vizinhança no Primeiro Governo Vargas (1930-1945).
A Política da Boa Vizinhança surgiu
no governo Franklin D. Roosevelt, na década de quarenta do século XX e representou o abandono da prática
intervencionista, assim como a adoção da negociação diplomática, colaboração
econômica e militar. Seu objetivo era diminuir a influência européia na região
e assegurar a liderança americana no que considerava ser o seu quintal.
A
implantação dessa nova estratégia de relacionamento com a América Latina
representou a vitória da corrente política do governo norte-americano que
adotava o livre cambismo como solução para a recuperação dos Estados Unidos no
plano internacional.
(FGV-CPDOC,
2010. Disponível em: http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos30-37
Extraído em 04-03-2012)
Maria Lígia Prado (2000) afirma que
a Política da Boa Vizinhança teve a função de fazer com que o Brasil se
tornasse aliado de Washington contra o Eixo na Segunda Guerra Mundial
(1939-1945). O resultado dessa política foi o envolvimento do Brasil na guerra
ao lado dos aliados em 1943 e posteriormente o alinhamento do Brasil aos
Estados Unidos a partir de 1947, (nesse momento sob a égide da Doutrina
Truman). Foi durante a Segunda Guerra Mundial que a cultura estadunidense
aportou em terras brasileiras difundindo um conjunto de idéias, concepções e
padrões comportamentais, o modo de vida americano, o American Way of Life.
Antes, em 1938, foi criado no Brasil um órgão especial conhecido como Birô
Interamericano para estimular os
Encontros Culturais das Américas. Esse órgão objetivava combater uma influência
alemã nos círculos culturais e sociais brasileiros.
Em 16
de agosto de 1940 o presidente F. Roosevelt instituiu o Office of the
Coordinator of Comercial and Cultural Relations Between the American Republics,
o Birô Interamericano cujo mentor e diretor, Nelson Rockefeller, possuía um
notório volume de investimentos na América Latina. Fundamentalmente o Birô
fazia propaganda política no rádio cinema e publicações impressas. Sua
influência aumentou através da United Press e Associated Press
que eram as principais fontes de notícias da imprensa brasileira; o símbolo
desse período foi o Repórter Esso, patrocinado pela Standard Oil
empresa de Rockefeller.
Maria Ligia Prado (2000) ressalta
que o Birô passou a utilizar o cinema como instrumento de aproximação dos
Estados Unidos e os latinos americanos. No caso Brasileiro, são dois os
fenômenos: Carmen Miranda e Zé Carioca. Carmen “baiana estilizada” torna-se
estrela de Hollywood; aparecia nos filmes dançando e cantando. Segundo os
americanos ela representaria a cultura brasileira, brejeira, alegre, porém
inconseqüente, impulsiva e emocional.
Carmen foi peça de uma
engrenagem complicada que pretendia agradar as platéias brasileiras e
latino-americanas, dentro de uma estratégia de sedução fabricada pelos
produtores de Hollywood e seus amigos burocratas do governo norte-americano.
Seus objetivos não se cumpriram integralmente no Brasil, pois o publico
nacional não se identificou completamente com aquela figura exótica e um tanto
caricata. (PRADO, 2000, PP.338, 339).
Walt Disney, em nome da “amizade” entre Brasil
- Estados Unidos, criou o papagaio Zé Carioca, malandro e inconseqüente, cheio
de truques e artimanhas, simpático, mas que não se pode confiar, sem contar que
o papagaio é um bicho que reproduz aquilo que escuta.
Durante
a Segunda Guerra Mundial, Getulio Vargas procurava, no plano internacional,
manter certa neutralidade do imperialismo
mercantil ianque e também do imperialismo
romanticista germânico. Os assessores de Roosevelt estavam atentos ao
conflito de nossa política externa com relação aos EUA e Alemanha. Vargas em 11
de junho de 1940 proferiu discurso em que deixa subentendido seu apoio à
Alemanha, (três dias antes da invasão de Paris pelos alemães). Em seu diário,
comenta;
O discurso que pronunciei teve muita
repercussão, produzindo alguma surpresa pelo tom, julgado muito forte e, por outros,
tido, insensatamente, como germanófilo.
(VARGAS, 1995, pp. 319)
Tota (2000, pp. 27) salienta que a
ambigüidade do discurso de Vargas pode ser encontrada nos seguintes trechos;
...marchamos para um futuro diverso
(...) passou a época de nacionalismos imprevidentes, das demagogias estéreis
(...) os povos vigorosos aptos à vida necessitam seguir o rumo de suas
aspirações. (TOTA,
2000, pp. 27)
Posteriormente, Vargas, diante das
repercussões negativas de seu discurso, em um gesto hábil, manifestou simpatia
pela política de solidariedade pan-americana proposta por Roosevelt. No dia 12
escreveu em seu diário:
Fervem os comentários em torno do
discurso do dia 11: os alemães embandeiraram, os ingleses atacaram, os
americanos se manifestaram consternados. Internamente, acusaram-me de
germanófilo (...) começaram os entendimentos entre o chefe da Missão Militar
Americana com os nossos militares e o Ministro do Exterior sobre o nosso
aparelhamento bélico. (VARGAS, 1995, pp. 319, 320)
Tota
(2000, pp. 28) afirma que não há como negar que a Segunda Guerra Mundial
representa uma virada nas relações culturais entre Brasil e Estados Unidos,
porém essa politica, de fato, foi iniciada na Administração Hoover, como
afirmado anteriormente, que eleito em 1928 fez uma viagem a América Latina,
exatamente em Amapala, Honduras, ali teria cunhado a expressão good Neighbor, bom vizinho para designar
a mudança da política externa de seu governo para a América Latina.
2.3.2 A FEB e seus vínculos com os Estados Unidos
Getúlio Vargas sabia que os
Estados Unidos não queriam a participação direta do Brasil na Segunda Guerra
Mundial. Vargas acreditava que a participação do Brasil colocaria o país em uma
posição de destaque no mundo Pós-Guerra. Os oficiais brasileiros inicialmente
freqüentaram a escola de comando do Estado Maior Estadunidense em Leavenworth
(Kansas), mas até 1944, mais de mil oficiais brasileiros passaram pelos cursos
militares nas escolas americanas. (National Geografhic Brasil: edição especial
FEB, pp.13).
Em
1943, depois de o Brasil ter declarado guerra ao Eixo (Alemanha, Itália e
Japão), formou-se a Força Expedicionária Brasileira – (FEB). Os princípios e os
equipamentos dos soldados brasileiros estavam ultrapassados. Foi preciso
começar do zero. As diferenças entre os brasileiros e estadunidenses, em termos
de equipamento, instrução, manutenção e alimentação eram enormes. Os soldados
brasileiros consumiam alimentos de baixo valor calórico e nutricional como jabá
e feijão. Os alimentos consumidos pelos soldados estadunidenses eram
considerados de luxo. Consumiam frutas em calda, carne de porco, chocolates e
também dispunham de bons uniformes, boas armas e viaturas. (National Geografhic Brasil: edição especial
FEB, 2005, pp.13).
A proximidade de
convívio entre soldados e oficias era uma novidade para os brasileiros, pois no
Brasil existia um grande distanciamento entre os soldados e seus superiores. Na
Itália os expedicionários se deram conta do atraso do Brasil e da forma
autoritária como eram tratados. A participação do Exército brasileiro na guerra
impulsionou o envolvimento dos militares em assuntos da política brasileira.
Quando a guerra terminou, a FEB era a elite do Exército Brasileiro. Eram os
mais bem treinados e possuíam as melhores instruções e equipamentos. Nutriam
uma grande admiração pelos moldes norte-americanos. (National Geografhic Brasil:
edição especial FEB, 2005, pp.14)
Na guerra, os soldados
da FEB criaram vínculos profundos com os soldados estadunidenses. Eles
partilharam os mesmos alojamentos, conviveram dia a dia no campo de batalha e
sofreram a mesmas coisas, dividiram os mesmos campos (quando eram prisioneiros
dos alemães), curaram seus ferimentos e enterraram seus mortos, muitas vezes em
cerimônias conjuntas. (National Geografhic Brasil: edição especial FEB, 1995,
pp. 23).
2.3.3
A
Escola Superior de Guerra
Skidmore
(1982) afirma que a Escola Superior de Guerra – (ESG) é o ponto irradiador da
influência dos Estados Unidos sobre a oficialidade brasileira. Foi fundada em
1949 por Cordeiro de Farias, na época, líder militar Anti-Getulista. Sua
fundação também foi uma decorrência de Acordos militares entre Brasil e Estados
Unidos do inicio dos anos 50. Inicialmente teve como modelo o National War
College de Washington. Nas décadas seguintes a ESG virou reduto de oposição
ao populismo brasileiro com uma ideologia fortemente anticomunista e de
alinhamento político aos estadunidenses. Contribuiu decisivamente para o Golpe
Militar de 1964.
A Ditadura Militar de 1964 teve o
apoio estadunidense e nesse período as posições oscilaram entre alinhamento
ideológico e uma política mais independente que resultou em acordos como o do
projeto nuclear brasileiro elaborado em parceria com a Alemanha. Antes disso,
em 1961, o governo Kennedy, com medo do avanço da Revolução Cubana (1959) na
América Latina propôs a “Aliança para o progresso” que tentava promover o
desenvolvimento Latino Americano. Através da Aliança tentou evitar o avanço do
comunismo no continente; nisso os corpos de paz eram importantes, pois
conformavam uma agencia de assistência internacional de trabalho voluntário e
financiado pelo tesouro norte-americano. Tinham por finalidade enviar às nações
“carentes” especialistas em educação, saúde e agricultura que deveriam ensinar
as populações conhecimentos técnicos básicos nessas áreas. (PRADO, 2000, pp.343.)
Os Estados Unidos
imaginavam que o comunismo poderia surgir do nordeste devido à extrema pobreza
dessa região do Brasil, além do fato de existirem lideranças populares como a
de Francisco Julião e movimentos como as ligas camponesas. Essas preocupações
fizeram com que as ações dos Corpos de Paz se concentrassem nessa região do
Brasil. A partir do golpe militar a ação dos Corpos de Paz aumentou no país, em
1966 chegaram a 639 voluntários, seu maior número. Encerraram suas atividades
no Brasil em 1980. (PRADO, 2000. pp.343, 344).
2.3.4 A Operação Brother Sam e o “amigo americano”
Thomas
Skidmore (1982) afirma não existir dúvidas de que Lincoln Gordon (ex-embaixador
dos EUA no Brasil em 1964) foi um entusiasta do governo ditatorial brasileiro,
pois em 23 de abril de 1964 falou em Porto Alegre que a queda de Goulart simbolizou uma nova arrancada do Brasil para
a realização dos ideais da Aliança para o Progresso. Em 05 de maio do mesmo ano
na Escola Superior de Guerra exaltou a “Revolução” Brasileira e disse que ela
poderia ser comparada como um momento decisivo da História Mundial, assim como
foi o Plano Marshall (1947), o Bloqueio de Berlim (1948-1949), a derrota do
comunismo na Coréia e a resolução da Crise dos Mísseis em Cuba (1962).
Em 1966, quando encerrou sua missão
no Brasil, Licoln Gordon, afirmara sua crença no compromisso, do governo
Castelo Branco[1] em
restaurar os procedimentos “democráticos” no Brasil, compatíveis com os princípios
da política Estados Unidos - América Latina. É importante afirmar que as
palavras de Lincoln Gordon eram endossadas por Washington. (SKIDMORE, (1982)
2000, PP. 397).
Marta Huggins (1998) revela não só
envolvimento entre a Central americana de inteligência (CIA) no treinamento da
repressão brasileira (no período pós – Ato Institucional nº 5), mas a montagem
de uma estrutura de repressão baseada no DOI-CODI[2].
A Casa Branca sabia e a CIA através do Office of Public Safety Brasil (OPS-Brasil),
montou, operacionalizou a estrutura de repressão e treinou seus agentes.
Richard Helms, diretor da CIA,
afirma que pelo menos indiretamente a OPS contribuiu para uma centralização da
Polícia Brasileira (HUGGINS, 1998, pp. 188). Os Comandantes Militares de cada um dos Exércitos
Brasileiros, tinham responsabilidade por tudo que envolvia a segurança.
Sobretudo legitimou a ideologia baseada na divisão do país em “verdadeiros
cidadãos” de um lado e “subversivos” de outro, a parte “desviante”. A criação
do DOI – CODI, uma rede nacional interligada de forças de segurança da polícia
e das forças armadas, todas sobre o controle militar direto.
Em 1969, o primeiro
desses novos órgãos foi instituído em São Paulo como a Operação Bandeirantes (OBAN),
comando das operações de defesa interna em âmbito estadual. Um ano depois, esse
modelo estendeu-se para todo o Brasil como DOI-CODI, sendo sua missão obter
informações e neutralizar os terroristas. (HUGGINS, 1998, pp. 189)
Richard Helms entendia o DOI-CODI em comissões
compostas por membros das forças armadas e da polícia. A posição mais alta na
hierarquia era ocupado por cada comandante dos distritos militares.
A estrutura do
DOI-CODI destinava-se a ajudar as forças de segurança do Brasil a superar as
disputas de jurisdição e falta de coordenação entre os inumeros órgãos
militares e civis de inteligência e segurança, como explicou o próprio Helms. (
HUGGINS, 1998, pp. 189).
A utilidade da normatização da violência estatal no
Brasil obedeceu a interesses dos Estados Unidos, pois ofereceram treinamento,
tecnologia, apoio moral e político à tortura no Brasil promovida pela polícia e
pelo governo brasileiro. Washington sabia sobre essa prática (HUGGINS, 1998,
pp. 189-190).
Os DOIs dos maiores
Estados eram divididos em três esquadrões: um prendia e caçava os sujeitos
(“busca e captura”), outro captava informações e recolhia os prisioneiros (
“informação e interrogação”) e o outro analisava as informações obtidas a
partir das infiltrações obtidas a partir da infiltração em associações e interrogatórios
de informantes (“informação”) (HUGGINS, 1998, pp. 191).
Os consultores de segurança da OPS – Brasil
consideravam seu trabalho como uma espécie de “missão religiosa”, consideravam
seu método legitimo para acabar com a desordem brasileira, pois seu principal
objetivo era proporcionar segurança aos Estados Unidos e garantir as
“liberdades democráticas”. O DOPS era essêncial nessa estrutura, pois os
militares estavam despreparados inicialmente para coletar informações de
inteligência civil, para interrogar prisioneiros para conduzir operações de
segurança interna. (FON, 1986 apud HUGGINS, 1996, pp.190).
Helms, diretor da CIA, utilizou o
termo “guerra santa” para falar da violência do Governo Brasileiro contra os
“terroristas” afirmou ainda que “a violência não era nada de novo no Brasil”
Em algumas regiões,
particularmente no nordeste (do Brasil), a violência é tida como um meio
tradicional - e muitas vezes bastante respeitável – de punição. Em muitas áreas
rurais, os espancamentos e, em casos extremos, os tiros da polícia e até mesmo
dos proprietários de terras locais constituem há muito tempo um dos métodos
favoritos para manter as classes inferiores em seu lugar... em quanto esse tipo
de tratamento não resulta em mortes, a população rural mantêm-se indiferente. (HELMS,
1971 apud HUGGINS, 1998, pp.204).
Martins Filho (1998) destaca a
participação da CIA na Sexta-Feira Sangrenta. Afima:
Para
Huggins, contudo, o OPS operou em 1968 não apenas como observador, mas como
ativo assessor, sugerindo inclusive mudanças de tática para colocar as forças
repressivas à altura das passeatas-relâmpago do movimento estudantil. Uma
dessas novas medidas foi a colocação de franco-atiradores no alto dos
edifícios, o que talvez explique as numerosas mortes da "sexta-feira sangrenta"
(MARTINS FILHO, 1998, pp. 04, 05).
A
sexta-feira sangrenta se refere ao dia 21 do julho de 1968 em que ocorreu um
grande protesto contra a Ditadura Militar (1964-1985) nas ruas do Rio de
Janeiro. Foram levantadas barricadas, na Avenida Rio Branco e apedrejamento do
Consulado dos Estados Unidos.
Sá Corrêa (1977) revela os canais de telex que ligavam a
Casa Branca e a embaixada estadunidense no Brasil que confirmam a Operação Brother Sam (ver anexo H e I.),
cujo objetivo era evitar o estrangulamento dos golpistas de 64, em seu ponto mais frágil que era a falta de
combustível, isso considerando a hipótese de uma luta longa. O Embaixador
Licoln Gordon foi responsável por acioná-lo. (CORRÊA, 1977, pp. 97).
A
Operação Brother Sam não daria o apoio bélico, mas estratégico, pois o maior
temor dos EUA seria a falta de combustível, assim 40 mil barris de gasolina
comum, 15 mil barris de gasolina de aviação, 33 mil barris de óleo diesel e 20
mil barris de querosene estavam prontos para serem enviados ao Brasil via
Montevidéu.
Outro
petroleiro, o Chapacket, traria 35 mil barris de querosene, 40 mil de gasolina
comum e 33 mil de aviação, o terceiro barco Hampton Road preparado para o porto
de pequeno calado, carregaria 150 mil barris. E o quarto Nash Bulk, 56 mil
barris de gasolina comum, 39 mil de gasolina de aviação e 92 mil de querosene.
(CORREA, 1977, pp. 17).
Esse
volume todo de combustível somado aos quatro petroleiros que levavam 136 mil
barris, corresponderia a um dia de consumo do Brasil no ano de 1976 ou 1977.
Por exemplo o Santa Inez estava pronto para zarpar de Aruba rumo ao Brasil no
dia 02 de abril e chegaria na vizinhança de Santos entre 10 e 11 de abril. No
mesmo dia se encontraria por aqui o porta-aviões Forrestal cuja missão era garantir
o desembarque do combustível. (SÁ CORRÊA, 1977, pp.17)
O
embarque de munição é apresentado, num comunicado do Estado Maior conjunto da
Força Aérea como missão de apoio ao plano operacional de que a força tarefa
naval fora encarregada. Destina-se à Operação Brother Sam 110 toneladas de
armas e munições e há mensagem que falam em encaixotar 250 carabinas de calibre
12. (SÁ CORRÊA, 1997, pp.17).
O grau
de envolvimento da OPS no treinamento da repressão brasileira chegou a tal
ponto que fora construída uma sala de simulação. Nessa sala era ensinado
à polícia o “combate” aos “subversivos“; depois do AI-5, segundo Huggins,
existem dados que confirmam a triplicação do número de policiais brasileiros
enviados aos EUA para treinamento e também em 1969 a OPS teve participação
na criação da Operação Bandeirantes - OBAN (na fase do Regime Militar chamada
de policialização do Regime Militar brasileiro).
Finalmente,
a autora mostra com abundância de evidências que a tortura serviu não apenas ao
regime brasileiro, mas aos objetivos de segurança nacional dos EUA, naquela
quadra da Guerra Fria. Para Huggins, também é impossível isentar os Estados
Unidos da degeneração das atividades policiais nos tristemente conhecidos
"esquadrões da morte" atuantes no Brasil nos anos 60 e 70. (MARTINS
FILHO, 1998, pp. 04, 05).
A partir dessa informação,
observamos uma colaboração secreta de agentes dos EUA na montagem de um aparato
de perseguição, tortura e aniquilamento de insurgentes ao Regime Militar no
Brasil (1964-1985). Isso envolveu, inclusive, ensino e treinamento de práticas
de tortura. Esse fato revela um estreito grau de cumplicidade entre a CIA e as
Forças Armadas brasileiras.
Está escrito em um telegrama de 04
de março de 1964 da Embaixada dos Estados Unidos no Rio de Janeiro destinada ao
Secretário para Assuntos Latino Americanos (ver
anexo N.) que os militares brasileiros seriam um
fator estabilizador e moderador na cena política brasileira e um fator
essencial para conter os “excessos” da esquerda do Governo Goulart. Destaca
ainda que os militares brasileiros não possuem origem aristocrática, possuem
orientação nacionalista, mas não facista e pró-constitucionalista democrática.
Sobretudo possuem capacidade de suprimir as desordens internas dentro dos
limites constitucionais. Salienta ainda que durante o período pós-guerra se
beneficiaram da orientação pró-americana de Oficiais da Forças Armadas
Brasileiras, resultando em uma aliança ativa durante a Segunda Guerra, porém
estes oficiais estavam se aposentando, o que tornava necessária a aproximação
com a nova oficialidade para manter relações estreitas e eficazes. (GORDON, 1964
apud SÁ CORRÊA, 1977, pp.87)
Sobre a atuação do Esquadrão da
Morte paulista é preciso citar Meu Depoimento sobre o Esquadrão da
Morte do autor Hélio Pereira Bicudo quem na época foi Procurador de Justiça
do Estado de São Paulo e responsável por investigar a atuação do Esquadrão da
Morte Paulista no ano de 1970. Essa importante obra relata as ações do
Esquadrão da Morte em
São Paulo. Bicudo afirma:
Um livro sobre o
"Esquadrão da Morte" e sua atuação em São Paulo , muito embora
os fatos já se tenham afastado no tempo, é de conteúdo, sem dúvida, polêmico.
Vai daí que após muito meditar, resolvi transmitir a minha experiência na luta
contra os policias que, num dado instante se arvoraram em árbitros da justiça,
e praticaram toda uma gama de delitos e se envolveram em todas as formas de
corrupção. E foi justamente por este último motivo que a luta travada contra o
"Esquadrão da Morte" foi bastante árdua e permite uma conclusão
pessimista quanto aos resultados. É que em São Paulo , os principais implicados na execução
dos crimes do "Esquadrão" passaram a atuar no campo da polícia
política, integrando o sistema de segurança, ao qual transmitiram suas técnicas
de ação. Inversamente, os que se dispuseram a apontar os crimes por eles
cometidos, inspirados inicialmente e depois acalentados por um governador e por
um secretário de Estado, inebriados pelo poder, passaram a ser classificados
como inimigos do regime e como tal tratados. (BICUDO, 1977, pp.21).
O historiador estadunidense James
Green publicou recentemente um livro chamado Apesar de Vocês: oposição
à Ditadura nos Estados Unidos (1964-1985). Nesse livro descreve
questionamentos, no final dos anos 60, sobre o apoio dos Estados Unidos à
Ditadura Militar Brasileira. Foram os exilados brasileiros que começaram a
angariar apoio dentro dos Estados Unidos contra a ditadura. Um dos fatos mais
importantes foi a prisão e deportação do grupo teatral Leaving Theater em Ouro Preto no ano de
1979. Esse incidente teve grande repercussão nos Estados Unidos e chamou a
atenção da opinião pública norte-americana para o regime ditatorial brasileiro.
Também
a expulsão do Brasil do pastor Brady Tyson sob a acusação de ter promovido uma
greve em Osasco/SP em 1966. Nos anos 70, Tyson convidou Marcio Moreira Alves,
Deputado Federal cassado pelo Ato Institucional n°05, a percorrer os Estados
Unidos denunciando o regime de excessão vivido pelo Brasil. Moreira Alves
tentou convencer os membros do Partido Democrata a não seguirem a política de
apoio ao governo militar brasileiro. A estilista Zuzu Angel também denunciou,
nos Estados Unidos, as violações dos Direitos Humanos no Brasil. Seu filho,
Stewart Angel, foi perseguido, torturado e morto por órgãos do governo militar.
Esses fatos foram marcantes para o despertar
de consciência de setores liberais estadunidenses de que o apoio do governo dos
Estados Unidos ao Regime Militar Brasileiro não podia continuar. Em 1969 houve
uma mudança no Congresso desse país com relação ao apoio de seu governo à
Ditadura Brasileira. Os congressistas passaram a exigir a garantia dos Direitos
Humanos no Brasil. (GREEN, 2009)
Dois congressistas
foram importantes para essa tomada de posição. Edward Kennedy que fez um
discurso em 1970 denunciando a postura do governo ditatorial brasileiro e
criticando a política pró-ditadura dos EUA. O segundo foi Frank Church,
influente senador que investigou as atividades ilegais da CIA e do FBI. A
política do Governo Carter de Direitos Humanos nasceu por causa do Brasil,
sobretudo resultado dessa pressão promovida por setores progressistas
estadunidenses. (GREEN, 2009)
Na campanha presidencial norte-americana de
1976, o candidato democrata, Carter, acusou o Partido Republicano de apoiar as
ditaduras vigentes no Brasil e no Chile. Sua campanha apoiava o fim da ditadura
e o restabelecimento da democracia, sobretudo o respeito aos direitos humanos.
Em visita ao Brasil em 1978, o presidente Carter discursou:
Hoje estamos
todos nos unindo num esforço global em prol da causa da liberdade humana e do
Estado de Direito. Esta é uma luta que só será vitoriosa quando estivermos
dispostos a reconhecer as nossas próprias limitações e a falarmos uns com os
outros com franqueza e compreensão. (Folha de S. Paulo, 30-03-1978).
A defesa dos
Direitos Humanos frente à Ditadura Militar Brasileira teve impacto nos rumos do
governo militar. Essa mudança da Política Externa Estadunidense foi um dos
fatores que contribuíram para a queda do Regime Militar, mas não deixa de
representar uma influência da Política Externa Estadunidense sobre os rumos da Política Interna Brasileira mesmo sob o argumento da
defesa dos Direitos Humanos. O presidente norte-americano Jimmy Carter
fez uma visita de três dias ao Brasil. Nessa visita, ouviu relatos de violações
dos direitos humanos no país. O Comitê Brasileiro pela Anistia criticou o apoio
público que Carter terminou dando ao regime militar e entregou durante o
encontro realizado em Brasília um dossiê com o histórico dos últimos 14 anos de
ditadura, em que denunciava a existência de 10 mil brasileiros no exílio. Deste
total, 122 haviam sido banidos por leis de exceção. (Universidade de
Passo fundo, 2010).
O documento citava também os relatórios da Anistia
Internacional em que constam os nomes de milhares de brasileiros torturados
pelos órgãos policiais, dos quais centenas foram mortos e de 600 pessoas que
tiveram seus direitos políticos cassados. Já os jornais norte-americanos Washington Post e The New York Times
destacaram a forma fria com que Geisel recebeu Carter, devido às divergências
entre ambos a questão direitos humanos e a oposição norte-americana à
proliferação nuclear. (Universidade de Passo fundo, 2010).
A relação entre os dois países ficou tensa quando, um ano
antes dessa visita, a Primeira Dama estadunidense Rosalyn Carter contou ao
presidente Geisel que esteve em Recife e ouviu de dois missionários, saidos da
prisão, que haviam sido torturados. Geisel reagiu negativamente às palavras da
Primeira–Dama estadunidense. Após esse incidente, cinco acordos militares entre
os dois países foram cancelados. Principalmente após o Departamento de Estado
norte-americano ter levado ao Congresso, um relatório sobre as torturas a
presos políticos no Brasil. (Universidade de Passo fundo, 2011).
Geisel,
em carta a Carter datada de 1974, mostra toda a sua divergência com Carter em
relação a questão dos Direitos Humanos e deixa claro que o gesto do governo
estadunidense é uma interferência na política interna do Brasil.
No
que concerne à questão dos Direitos Humanos, considera o Brasil que seu
respeito constitui um dos principais deveres políticos e morais do Estado.
Existem é claro, prioridades a serem atendidas para assegurar aos cidadãos o
gozo pleno desses direitos, inclusive no que se refere a condições essenciais
de desenvolvimento econômico e social do país. Não creio que sejam muito
diferentes os nossos pontos de vista. O Brasil considera, porém, que a
responsabilidade por determinar essas prioridades e por assegurar respeito
àqueles direitos é do próprio Estado e não pode ser atribuído a outros Estados.
Não faltamos com a nossa recuperação voluntária para o exame do assunto em
foros internacionais, o que o Brasil recusa, e continuará recusando, é a intervenção
de outros países em assuntos que consideram internos, pois temos o dever para
com o nosso povo de não lhes criar novas formas de dependência. (GEISEL, 1974)
2.3.5
Unipolaridade e multipolaridade na Política Externa Estadunidense para a
América Latina.
De fato, a Política
Externa Norte-Americana para a América Latina teve mudanças que correspondem a
diferentes conjunturas sociais, políticas e econômicas e cada uma reflete um
momento histórico. Reunindo todas as doutrinas e políticas formuladas por
Washington para a América Latina, observamos pontos em comum entre cada uma
delas. Podemos afirmar que essa política sofre alternâncias, umas vezes é
unipolar (adotando uma postura política unilateral), outras vezes multipolar
(buscando uma postura articulada ao consenso internacional), mas sempre
procurando manter a posição de liderança hegemônica bem de acordo com a
Doutrina Monroe.
Na
verdade essas são as variáveis que dão flexibilidade necessária para a
afirmação de sua política exterior, mas sua essência é o Destino Manifesto
cuja expressão real seria o destino dado por Deus ao povo dos Estados Unidos para reinar sobre a
América e depois sobre o mundo. Dessa forma o rompimento
dos tentáculos europeus que dominavam o continente americano e o avanço
estadunidense rumo ao oeste e ao sul do continente, fazem parte de sua missão
civilizadora de conversão dos “bárbaros” aos princípios de democracia e
liberdade como parte do desenrolar do seu destino.
Essas
convicções estão implícitas
tanto na formação de uma ordem política internacional como a Liga das Nações, anterior
a Organização das Nações Unidas – (ONU), quanto à colaboração ativa na
derrubada de governos democráticos como o de João Goulart no Brasil (legalmente
referendado pelas urnas em 1960 e por um plebiscito em 1962) e ainda a
articulação e sustentação da ditadura que veio a seguir.
O apoio dos Estados
Unidos à Ditadura Militar foi amplo, envolvendo, como já foi visto, ensino de
técnicas de tortura à Polícia de São Paulo participando também da criação do
esquadrão da morte através de seus órgãos de Estado como a CIA. Uma
contradição, por exemplo, com os ideais
de democracia e liberdade impostos principalmente pelos Estados Unidos na
Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU ao ser fundada em 1945.
Nas últimas décadas, o
Plano Colômbia, a instalação das bases estadunidenses nesse país e a instalação,
no Brasil, do Sistema de Vigilância da Amazônia são demonstrações da
continuidade da presença dos Estados Unidos na América do Sul. O Sistema de
Vigilância da Amazônia (SIVAM) implantado com equipamentos financiados
principalmente pelo Export-Import Bank (EXIMBANK) que costumeiramente financia
projetos de interesse da Secretaria de Defesa dos Estados Unidos. No Brasil, o
SIVAM foi imposto pelo governo sem uma profunda discussão no Congresso
Brasileiro e à revelia da comunidade cientifica brasileira, sem licitação e com
um contrato secreto.
Isabel
Cristina Rossi em sua tese de mestrado intitulada SIVAM: um caso de
dependência tecnológica tem como foco de pesquisa o controle eletrônico do
SIVAM. Ela destaca a disputa ferrenha entre a RAYTHEON estadunidense e a
francesa THOMSON-ALCATEL. Essa disputa envolveu até um telefonema do então
presidente norte-americano Bill Clinton ao então presidente brasileiro Fernando
Henrique Cardoso e o envio de um representante da Casa Branca para intervir
junto ao governo brasileiro. Ao final, tivemos o anúncio da escolhida, a
empresa norte-americana RAYTHEON, escolhida sem licitação.
Guimarães
(2000, pp.21) afirma que a
grande estratégia dos Estados
Unidos é fazer com que seja
mantida sua hegemonia política em âmbito global. Quanto ao Brasil afirma que do
ponto de vista da estratégia militar, os EUA tem procurado, em primeiro lugar,
manter sua influência sobre a doutrina e o equipamento militar brasileiro, com
redução dos efetivos adaptados para enfrentar os “narcotraficantes” e
“terroristas”. Pretende também evitar o surgimento de uma indústria bélica
brasileira competitiva, sobretudo evitar que o Brasil adquira tecnologias
modernas e de destruição em massa. (GUIMARÃES, 2000, p. 40).
O
caso das bases militares na Colômbia e o caso SIVAM mostram que até em períodos
recentes os EUA tem obtido sucesso em sua política hegemônica em relação à
América do Sul e Brasil.
[1] Castelo Branco, promovido a Tenente Coronel, em 15 de abril de 1943, Na
FEB ocupava a Terceira Seção que era responsável por traçar os planos
operacionais no cenário de guerra. (Dulles, 1979)
[2] DOI era o Departamento
de Ordem Interna, consistia em uma força de prontidão para combater diretamente
as organizações “subversivas”, desmontar sua estrutura pessoal e material. Em
cada uma das zonas de defesa interna (DOI-COD) possuía um CODI (Centro de
Comando de Operações de defesa interna), identificava as prioridades, analisava
informações obtidas pela inteligência, planejava missões e esquadrões do DOI.
(HUGGINS, 1998, pp. 190).
[1] Devemos ressaltar a
compra também do território do Alaska da Rússia. Segundo Amayo Zevallos (1990
pp. 24, 25, 26, 35, 36, 37, 38 e 39), a presença da Rússia no continente
americano foi um incomodo para os EUA. William Henry Seward a partir de 1860
começou a elaborar um plano para que os Estados Unidos se expandissem até o
Alaska. Os custos da Guerra da Criméia
(1853-56) fizeram com que os russos se dispusessem a vendê-lo aos EUA. Em 1867
assinou-se o Tratado pelo qual o Alaska passou às mãos dos EUA. O Alaska custou
US$ 7.2000.000. A expansão fora da América do Norte iniciou-se na década de
1890, mas o marco foi 1898. Com a exceção do Havaí, os principais territórios,
nessa expansão externa, foram arrebatados da Espanha. Havaí anexado em 1898,
nesse mesmo ano, Cuba, Porto Rico, Filipinas, anexadas da Espanha depois da
vitória contra esse país. Nas Filipinas os Estados Unidos fizeram uma
verdadeira Guerra de conquista. Em 1898 e após a revolta popular contra a
Espanha, a luta pela independência prosseguiu com o apoio dos Estados Unidos.
Após sua vitória contra os independentistas filipinos, ocorreu a alienação das
Filipinas aos Estados Unidos. Manteve seu status colonial nas Filipinas até
1946, mas mantiveram suas bases militares.
[2] Em
dezembro de 1860, a Carolina do Sul tornou-se o primeiro estado a sair da
União. Logo ela foi acompanhada por outros cincos estados - Alabama, Flórida,
Geórgia, Louisiana e Mississippi. Os principais líderes políticos e senhores de
escravos, em sucessivas reuniões ainda em dezembro de 1860, aprovaram a
constituição dos confederados, formalizando a criação dos Estados Confederados
da América. Tais estados elegeram Jefferson Davis, do Mississippi, como
presidente do país. Disponível no Portal São Francisco: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/guerra-da-secessao/guerra-da-secessao1.php extraído em 08/05/2012.
[3] Ex – Senador e vice presidente dos Estados Unidos (1825 – 1832)
disponível em: http://bioguide.congress.gov/scripts/biodisplay.pl?index=c000044
Extraído em 09/05/2012.
[4] John Milton Hay (1838 -
1905) foi um americano diplomata, autor, jornalista e secretário particular e assistente de Abraham
Lincoln. Disponível em:
http://www.nndb.com/people/121/000059941/ Extraído em 09/05/2012Hay's highest office
was serving as United States Secretary of State
under Presidents William
McKinley and Theodore
Roosevelt .
[5] George Dewey (1837 - 1917) foi um almirante da Marinha dos Estados Unidos da América. Ele é mais
conhecido por sua vitória na Batalha
de Cavite durante a Guerra Hispano-Americana. Ele também era a
única pessoa na história dos Estados Unidos ter atingido o posto de almirante
da Marinha, o posto mais alto na Marinha dos Estados Unidos. Disponível em: http://www.history.navy.mil/bios/dewey_george.htm
Extraído em 09/05/2012.
[6] Pascual Cervera y Topete nasceu em Medina Sidonia, Cádiz, Espanha
, em 1839. His naval career began in 1852, when he
attended the Naval Academy of San Fernando. Sua carreira naval começou
em 1852, quando frequentou a Academia Naval de San Fernando. During his career, Cervera showed outstanding dedication
and courage which resulted in several promotions of rank. Cervera serviu
na Guerra Hispano-Americana de 1898. Disponível em: http://www.loc.gov/rr/hispanic/1898/cervera.html
Extraído em 09/05/2012.
[7] A OTAN é uma organização militar
comum de defesa, contando, atualmente, com 28 países-membros. Ela foi criada
por um tratado assinado no dia 4 de abril de 1949 em Washington. À seus 12
fundadores (Estados Unidos, Bélgica, Canadá, Dinamarca, França, Reino Unido,
Islândia, Itália, Luxemburgo, Noruega, Holanda, Portugal), se somaram, com os
anos, sete países: Grécia, Turquia, Alemanha, Espanha, Polônia, Hungria e
República Tcheca. Em março de 2004, uma segunda leva de sete países chegou à
aliança: Lituânia, Estônia, Letônia, Eslováquia, Eslovênia, Bulgária e Romênia.
Dois outros países, Albânia e Croácia, entram no clube na cúpula do 60º
aniversário da Otan, em 2009. O artigo 5 do tratado da Otan constitui a espinha
dorsal da organização. Ele estipula que qualquer ataque contra um dos países
membros será considerado um ataque contra todos. Pela primeira vez desde a criação
da Otan, os aliados invocaram este artigo em 2001 para marcar seu apoio aos
Estados Unidos no dia seguinte aos atentados terroristas de 11 de setembro. A
sede da Otan foi primeiro em Londres, depois em Paris, e enfim em Bruxelas
desde 1966. Seu comando militar (SHAPE) está situado em Mons (Bélgica). O órgão
principal de decisão política da OTAN é o Conselho do Atlântico Norte, no setor
político. A França, que é um membro fundador da OTAN, retirou-se da estrutura
militar de comando em 1966, em seguida a uma decisão do general Charles de
Gaulle, mas anunciou sua volta em 2008 e a concretizou em 2009. Fonte:
Disponível em: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/03/saiba-o-que-e-otan.html
Extraído em setembro de 2011.
[8] A Organização dos Estados Americanos é o mais antigo
organismo regional do mundo. A sua origem remonta à Primeira Conferência
Internacional Americana, realizada em Washington, D.C., de outubro de 1889 a abril de 1890. Esta
reunião resultou na criação da União Internacional das Repúblicas Americanas, e
começou a se tecer uma rede de disposições e instituições, dando início ao que
ficará conhecido como “Sistema Interamericano”, o mais antigo sistema
institucional internacional. A OEA foi fundada em 1948 com a assinatura, em
Bogotá, Colômbia, da Carta
da OEA que entrou em vigor em dezembro de 1951. Posteriormente, a Carta foi
emendada pelo Protocolo
de Buenos Aires, assinado em 1967 e que entrou em vigor em fevereiro de
1970; pelo Protocolo
de Cartagena das Índias, assinado em 1985 e que entrou em vigor em 1988;
pelo Protocolo
de Manágua, assinado em 1993 e que entrou em vigor em janeiro de 1996; e
pelo Protocolo
de Washington, assinado em 1992 e que entrou em vigor em setembro de 1997.
A Organização foi criada para alcançar nos Estados membros, como estipula o
Artigo 1º da Carta, “uma ordem de paz e de justiça, para promover sua solidariedade,
intensificar sua colaboração e defender sua soberania, sua integridade
territorial e sua independência”. Hoje, a OEA congrega os 35 Estados
independentes das Américas e constitui o principal fórum governamental
político, jurídico e social do Hemisfério. Além disso, a Organização concedeu o
estatuto de observador permanente a 67
Estados e à União
Europeia (EU). Para atingir seus objetivos mais importantes, a OEA
baseia-se em seus principais pilares que são a democracia, os direitos humanos,
a segurança e o desenvolvimento. Fonte: site da OEA, disponível em: http://www.oas.org/pt/sobre/quem_somos.asp
extraído 12/11/2011.
[9] No ano
seguinte, sexta resolução, adotada em 31 de janeiro de 1962 na oitava Reunião
de Consulta de Ministros de Relações Exteriores onde Cuba foi excluída do
sistema interamericano de nações.
Disponivel em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u576072.shtml
Extraído em 03/03/2012
[10] A Doutrina Bush (pai) (1989-1992) e a Iniciativa Bush
(pai), (1990-1992) são partes de uma mesma estratégia, aplicadas em planos
distintos. A Doutrina Bush, também poderá ser chamada de “guerra ao
narcotráfico” cujo objetivo era (e ainda é) obter o controle militar de territórios
alegando a necessidade de reprimir ao narcotráfico pela via armada. A
iniciativa Bush tem como objetivo, o aprofundamento da dependência dos mercados
latino-americanos à economia dos EUA. Segundo José Arbex Júnior (1993, pp. 81).
A Iniciativa para as Américas (junho de 1990), preconizava a formação de um
“mercado comum” que abrangesse desde o Alasca (ao extremo norte das Américas)
até a Patagônia (Extremo-sul). Sua iniciativa propunha a queda de todas as
barreiras alfandegárias e protecionistas entre os países do continente
americano. (ARBEX 1993, pp.82, 83)
[11] O NAFTA (North America Free Trade
Agreement) foi iniciado em 1988, entre norte-americanos e canadenses, e por
meio do Acordo de Liberalização Econômica, assinado em 1991, formalizou-se o
relacionamento comercial entre os Estados Unidos e o Canadá. Em 13 de agosto de
1992, o bloco recebeu a adesão dos mexicanos. O NAFTA entrou em vigor em 1º de
janeiro de 1994, com um prazo de 15 anos para a total eliminação das barreiras
alfandegárias entre os três países, estando aberto a todos os Estados da
América Central e do Sul. São Países-Membros do NAFTA: Estados Unidos,
Canadá e México. Disponível em: http://www.naftaworks.org/ Extraído em: 10-05-2011.
[12]
A Área de Livre Comércio das
Américas (ALCA), uma idéia lançada pelos Estados Unidos, surge em 1994, durante
a realização da Cúpula das Américas, quando foram assinados a Declaração de
Princípios e o Plano de Ação, com o objetivo de eliminar as barreiras
alfandegárias entre os 34 países americanos, exceto Cuba, e assim formar uma
área de livre de comércio para as Américas, até o final de 2005. Fonte
disponível em: http://www.camara.gov.br/mercosul/blocos/ALCA.htm
Extraído em 10-05-2011.
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