Os Estados Unidos e a América Latina.





Fragmento da Tese de Doutoramento de Samuel de Jesus: "Gigante Pela Própria Natureza": as raízes da projeção continental brasileira e seus paradoxos. (22.06.2012)

 Lars Schoults (2000, pp.21) afirma que foi John Quincy Adams  (1767–1848), um dos fundadores dos Estados Unidos, quem elaborou uma concepção que ainda vigora na Política Externa Estadunidense. Adams afirmava que criar uma democracia nos países da América Latina era um absurdo semelhante a propor planos semelhantes para estabelecer a democracia entre os pássaros, as feras e os peixes  e que também o povo da América do Sul é  ignorante e  o mais fanático e supersticioso de toda a cristandade romana católica.
Foi em viagem a Espanha que o jovem Adams começou a desenvolver essa concepção preconceituosa sobre o mundo hispânico.
O jovem John Quincy Adams acompanhou seu pai na malfadada viagem pelo norte da Espanha. O diário de John Quincy aos 12 anos de idade enfatizava a população tosca daquele país (“eles são vagabundos, sujos, grosseiros e, em suma, eu posso compará-los a nada mais do que um bando de porcos”); sua pobreza opressiva, suas habitações imundas (“eles nunca lavam nem varrem o chão”); e especialmente seu catolicismo repressivo. “Pobres criaturas, são devoradas pelos padres. Perto de três quartos do que ganham vai para o clero e com o quarto restante devem viver como puderem. Assim é este reino inteiro enganado e iludido pela sua religião. Dou graças a Deus Todo-Poderoso por eu ter nascido num país onde qualquer um pode viver bem se quiser”. (SCHOULTS, 2000, pp. 21)


            Como Secretário de Estado, John Quincy Adams, também foi influenciado por relatórios de agentes dos EUA na América Latina como Joel Roberts Poinsett, enviado pelo Presidente Madison (1809-1817) a Buenos Aires e Chile entre 1812 a 1814. Seis anos mais tarde, a pedido do Secretário de Estado Adams, Poinsett escreveu suas observações sobre o Cone Sul, onde afirmava dentre outras coisas que o espírito de litígio penetra todas as classes e continuava dizendo que o grupo dos advogados compõe-se de um corpo numeroso; e que sua prática difere em muito a pratica dos advogados estadunidenses. Na América Latina, existe, segundo ele, a arte de multiplicar atos e procrastinar decisões até que o favor do juiz seja assegurado por influência e suborno e que os líderes políticos criollos de Buenos Aires eram especialmente desprovidos de princípios. Afirmava também que não possuiam nada além de baixa esperteza, truques e artifício; segundo ele, esse fato explicaria as frequentes revoluções na América Latina. Alexander Scott foi outro observador enviado pelo Governo dos EUA à Venezuela em 1812 com seis barcos carregados de farinha para ajudar os atingidos por um terremoto que vitimou trinta mil pessoas. (SCHOULTS, 2000, pp. 22).

Na época, os venezuelanos estavam em rebelião aberta contra a Espanha, mas Scott logo concluiu que nem os revolucionários nem a calamidade natural eram responsáveis pelas condições que ele observou. O problema, ele relatou, era que os habitantes da Venezuela eram “tímidos, indolentes, supersticiosos incapazes de empreendimento ou esforço. A considerar os hábitos correntes morais e intelectuais de todas as classes, temo que eles não tenham ainda chegado àquele ponto da dignidade humana que torna o homem adequado à fruição do governo livre e racional”. (SCHOULTS, 2000, pp. 22, 23).
        
            O Cônsul dos Estados Unidos no Rio de Janeiro, Robert Lowry, no início do século XIX, reclamava que na Venezuela povo é mal preparado para os direitos da liberdade civil, isso foi, segundo ele o fermento do despotismo espanhol que certamente contaminou seus dirigentes atuais, do mesmo modo que fez com seus antigos senhores. A monarquia portuguesa no Brasil também não escapou de seus comentários depreciativos, Lowry escreveu a seus superiores relatório no qual afirmava que a Monarquia Brasileira degenerou para uma completa efeminação e voluptuosidade e ainda segundo ele o clima também excita a todo tipo de depravação e delinquência. (SCHOULTS, 2000, pp. 22, 23). John Quincy Adams como Secretário de Estado foi quem inspirou o que seria conhecido como Doutrina Monroe. Isso porque foi enunciada pelo presidente Americano James Monroe (presidente de 1817 a 1825) em sua mensagem ao Congresso em 2 de dezembro de 1823.
            A Doutrina Monroe com o lema a América para os americanos se contrapôs ao colonialismo europeu, à Santa Aliança e à Grã-Bretanha. Monroe invocou nesta doutrina o pensamento de Thomas Jefferson, segundo o qual a América tem um Hemisfério para si mesma; a doutrina cumpriu seus objetivos de frustrar os planos britânicos de recolonização da América e reafirmar o predomínio da influência dos Estados Unidos sobre o continente.
            Posteriormente, a política dos Estados Unidos para a América Latina esteve baseada em variações dessa doutrina objetivando estender sua influência sobre a América Latina. Aqui mencionaremos as principais.
            Desde a independência até a década de 1820, os Estados Unidos amealharam territórios principalmente da Espanha e França para a sua expansão no continente. A anexação do território da Louisiana em 1803 quase fez dobrar as dimensões territoriais dos Estados Unidos. Nesse momento Thomas Jefferson na Presidência comprou de Napoleão Bonaparte por U$ 27.267.622, aproximadamente 2.144.520 km². (AMAYO ZEVALLOS, 1990, pp.14)[1].
            A conquista do território do Texas marca a segunda fase da expansão no continente. Afirma Schoults (2000) que o primeiro movimento formal para anexação de terrítórios do México ocorreu em 1825 quando o Secretário de Estado Clay instruiu o enviado estadunidense Poinsett a procurar uma fronteira de rio mais ao oeste de Sabine. (SCHOULTS, 2000, pp. 37).
            Schoults (2000) afirma que a demografia e não a diplomacia foi determinante para o fim da soberania do México sobre o Texas. O fracasso da “mexicanização” obrigatória e a distância entre a Cidade do México e o Texas fizeram com que o México perdesse o controle da população anglo-saxã no Texas. Esses mantiveram sua cultura anglo-saxã, sua língua, religião e, sobretudo o sistema escravista em laço com o sul dos EUA, monocultor e escravista.

As conexões antigas entre o Texas e o México central dificilmente se equilibravam; de fato, muitas eram prejudiciais à manutenção da soberania mexicana. Os representantes do Texas na legislatura baseada em Saltillo aumentaram irremediavelmente e mesmo esta pobre representação provinciana era viciada pelo centralismo crescente do Estado mexicano. (SCHOULTS, 2000, pp. 39)

Em 02 de março de 1836, os Estados Unidos, após uma guerra sangrenta arrebataram, do México o território do Texas. Liderados por Sam Houston declararam a independência do Texas separando-lhe do México. Fizeram o presidente mexicano, Santa Ana, assinar um Tratado secreto no qual reconhecia essa independência. O Texas ficou nessa condição de "independente" até 1845 quando finalmente foi anexado pelos Estados Unidos. Essa política estava baseada nos princípios do Destino Manifesto.

Uma era a expansão territorial. Uma força política independente poderosa já no início da América Jacksoniana, no final de 1830, a expansão havia se tornado uma ideologia dominante; na década de 1840, ela teria seu próprio nome: Destino Manifesto. (SCHOULTS, 2000, pp. 43)

O México entrou em decadência após a guerra travada com os Estados Unidos. Essa guerra e a outra pela california resultou na perda de metade do seu território e em sua completa devastação. Segundo o encarregado estadunidense Robert Walsh presente na Cidade do México em 1848, essa decadência era resultado da constituição racial da nação e das inabilidades da liderança da elite hispânica, sobretudo ignorância, nas classes inferiores e corrupção nas classes superiores. (SCHOULTS, 2000, pp. 61)
A guerra pelo Texas, seguiu-se outra para anexar a Califórnia (1846). A assinatura do Tratado Guardalupe-Hidalgo em 02 de fevereiro de 1848 concedeu o território da Califórnia aos Estados Unidos. A partir dos territórios do Texas, Califórnia e Messilla surgiram os estados de Nevada, Arizona, Utah, Novo México, Kansas. (AMAYO ZEVALLOS, 1990, PP.17).
            A terceira fase da expansão estadunidense vai até a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). É o período de expansão, no continente rumo as Antilhas e América Central e fora do continente no Oceano Pacífico. Começou com a conquista de Cuba que se deu através da Guerra contra Espanha. Essa guerra é conhecida nos Estados Unidos como a Guerra Hispano Americana.

A 20 de abril (de 1898) o Congresso resolveu que "é dever dos Estados Unidos exigir, e o Governo dos Estados Unidos por isso exige, que o Governo da Espanha imediatamente renuncie à sua autoridade e governo na ilha de Cuba e retire as suas forças terrestres e navais de Cuba e de águas cubanas". ( Resolução de 20 de abril de 1898, KENAN, 1984, pp.11,12  apud AMAYO ZEVALLOS, 1990, pp.27.).

            Jefferson, Monroe e John Quincy Adams consideravam Cuba como parte dos Estados Unidos. Schoults (2000) afirma que os líderes estadunidenses temiam o predomínio da influência européia sobre Cuba e Porto Rico, pois consideravam esses dois países partes integrantes dos EUA.
         No desenrolar do século XIX, os líderes dos EUA permaneciam vigilantes para que um adversário europeu não se aproveitasse da instabilidade na região e se apoderasse de Cuba. Como Jefferson e Monroe, John Quincy Adams considerava Cuba e Porto Rico “apêndices naturais do continente norte-americano”. Em 1823, ele escreveu ao novo ministro dos EUA em Madrid que a “anexação de Cuba a nossa república federal será indispensável à continuidade e à integridade da própria União.” Foi isto que Jefferson já amadurecido disse a Monroe ao mesmo tempo: “seu acréscimo à nossa confederação é exatamente o que falta para expressar nosso poder como nação ao ponto de seu máximo interesse.” Poucos meses depois, ele escreveu novamente ao presidente Monroe: “Confesso sinceramente que sempre considerei Cuba como a adição mais interessante que poderia ser feita a nosso sistema de estados. (SCHOULTS, 2000, pp. 43)



Para os Estados Unidos, Cuba possui uma posição geograficamente estratégica de primeira importância, pois está localizada próxima ao Golfo do México, ao mar das Antilhas e do Panamá. Essa conquista, segundo Jefferson, era fundamental para a defesa da Louisiana e Flórida.
Adams e sua geração estavam dispostos a continuar a política de Jefferson e Madison de evitar mudanças desnecessárias, e nem ele nem seus sucessores imediatos agiriam para adquirir Cuba enquanto a ilha permanecesse uma possessão da Espanha, um poder europeu impotente. Mas conforme Adams e Clay gradualmente desapareciam do cenário político, uma nova geração de líderes, encorajados pelo sucesso da guerra contra o México, decidiram que era o momento certo para adquirir Cuba. A questão surgiu durante o debate de 1848 sobre a ocupação militar do Yucatán, um debate que se concentrou no expansionismo britânico. “Vimos a Grã-Bretanha ano após ano estender suas estações navais, até... ela quase circundar o Golfo do México,” afirmou Jefferson Davis do Mississipi[2]. “Yucatán e Cuba são os pontos que comandam o Golfo do México, que eu considero uma bacia de água pertencente aos Estados Unidos. Sempre que surgir a questão de se os Estados Unidos devem apoderar-se destes portões de entrada do sul e do leste, ou permitir que eles passem a ser posse de qualquer Poder marítimo, quanto a mim, estarei pronto a declarar que meu passo será para diante, e que o cabo de Yucatán e a ilha de Cuba devem ser nossos.” Embora fosse um expansionista relutante, John Calhoun[3] concordou: “é indispensável à segurança dos Estados Unidos que esta ilha não esteja em outras mãos. Se estivesse, nosso comércio de cabotagem entre o Golfo e o Atlântico seria, em caso de guerra, cortados em dois, e efeitos convulsivos se seguiriam.” Nem Davis nem Calhoun mencionaram que Cuba era uma sociedade escravocrata. (SCHOULTS, 2000, pp. 68).


As conquistas obtidas por meio da Guerra Hispano-Americana (1898) fizeram com que os Estados Unidos se tornassem uma potência emergente. Schoults (2000) comenta a velocidade em que ocorreu a tomada militar das Filipinas e de Cuba das mãos da Espanha.
Foi, como observaria John Hay[4], “uma esplêndida pequena guerra.” A esquadra do Pacífico do Almirante Dewey[5] rumou desapercebida para o porto de Manila na noite de 30 de abril e, quando o dia raiou, ele disse a Gridley, o capitão de sua nau almirante, para atirar quando estivesse pronto. Depois de várias horas de bombardeio, a batalha foi interrompida por três horas para o café da manhã, sendo em seguida retomado por mais uma hora. Na hora do almoço, Dewey havia destruído o controle da Espanha sobre as Filipinas. Foi preciso mais dois meses para as tropas dos EUA se agruparem no sudeste de Cuba, mas assim que elas chegaram, a vitória veio rapidamente. Em 1 e 2 de julho, cerca de 15.000 soldados dos EUA, inclusive Roosevelt em seu uniforme feito sob medida no Brooks Brothers, derrotaram cerca de 2.000 soldados espanhóis em San Juan Hill e na aldeia de El Caney a poucas milhas ao leste de Santiago (de Cuba); em 3 de julho a franzina flotilha do Almirante Pascual Cevera[6] foi destruída ao tentar escapar de Santiago. Esses três dias de combate encerraram a resistência espanhola, e Santiago capitulou em 17 de julho. As baixas dos EUA foram leves (cerca de 300 mortos e menos de 1.500 feridos), os cidadãos em casa ficaram jubilosos e Theodore Roosevelt estava na rota para a Casa Branca. (SCHOULTS, 2000, pp.164, 165)


A expansão segundo a ideologia do Destino Manifesto dos Estados Unidos era baseada na idéia de que o progresso e glória desse país era determinado pela providência divina. (AMAYO ZEVALLOS, 1990, pp. 107). Withelaw Reid, comissariado do governo norte-americano que defendia as conquistas territoriais dos Estados Unidos em conferências pelo país, afirmava;
... Possuimos quase mais da metade da costa ( do Oceano Pacífico) neste lado...Estender agora a autoridade dos Estados Unidos ao grande arquipelago Filipino é como cercar o Mar da China para assegurar-se uma posição dominante quase igual no outro lado do Pacífico... corretamente usada, permitirá a norte américa converter o Oceano Pacífico quase em um lago dos Estados Unidos... O comércio com as Filipinas será uma gota num balde, comparado com o da China para o qual elas nos fornecem uma base incomparável... Somos hoje a nação mais rica do globo. O montante de nosso comércio é maior que o de qualquer potência da terra... Nova York, e não Londres, tem que ser o centro monetário do mundo... (NEARING & FREEMAN, 1969 pp. 353 apud AMAYO, 1990, pp. 108)



Roosevelt: Big Stick e a Diplomacia do Dólar
            O ex-presidente Theodore Roosevelt é um símbolo da Política norte Americana voltada à America Latina, pois suas convicções resultaram em duas políticas de intervenção: a Doutrina do Big Stick (ou política do grande porrete) e a Diplomacia do Dólar (inaugurado por ele e levado em frente pelo seu sucessor William Taft).
            A Diplomacia do Dólar consistia em ajuda financeira dos Estados Unidos à economia dos países sul-americanos com o objetivo de ampliar seu comércio, segundo o presidente Taft esta política significava a diplomacia estimulando o dólar.

O termo “Diplomacia do Dólar” não transmite o sentido claro de quem está fazendo o quê para quem. São os dólares ajudando a diplomacia, ou a diplomacia estimulando o lucro em dólares? O Secretário Assistente (de Estados dos EUA) Huntington Wilson acreditava que os dólares estavam ajudando a diplomacia, “usar o capital do país no campo estrangeiro de uma maneira calculada para realçar as políticas nacionais fixadas. Isto significa a substituição de balas por dólares.” Mas Taft, em sua mensagem de despedida, assegurou que sua política tinha sido “dirigida para o aumento do comércio americano sobre o princípio axiomático de que o Governo dos Estados Unidos deve estender todo apoio a todo empreendimento americano legítimo e benéfico no estrangeiro.” Para Taft, a Diplomacia do Dólar significava diplomacia estimulando o dólar. (SCHOULTS, 2000, pp. 238).
        
 perante o Congresso dos Estados Unidos afirmou que a Colômbia era incapaz de manter a ordem sobre o Panamá e que policiam a região com o objetivo de resguardar os interesses dos Estados Unidos e do mundo civilizado.

O Presidente introduziu sua segunda explicação em sua mensagem anual ao Congresso em dezembro de 1903, quando assegurou que “a experiência de mais de meio século demonstrou que a Colômbia é definitivamente incapaz de manter a ordem no Istmo.” Roosevelt disse ao Congresso que “nós, com efeito policiamos o Istmo no interesse de seus habitantes e de nossas próprias necessidades nacionais, e para o bem de todo o mundo civilizado.” O Presidente argumentou que “se alguma vez um governo pôde dizer ter recebido um mandato da civilização para levar a cabo um objetivo cuja realização era exigida no interesse da humanidade, os Estados Unidos estão nesta posição no que diz respeito ao canal interoceânico.” (SCHOULTS, 2000, pp. 195)

Amayo Zevallos (1990) afirma que a apropriação e domínio do Canal do Panamá (1903) era essencial para controlar o comércio mundial, além de constituir um dos territórios estratégicos mais importantes do mundo. Theodore Roosevelt justificou tudo isso segundo o seu Corolário que é uma reinterpretação da Doutrina Monroe...

Qualquer país com um povo bem comportado pode contar com nossa amizade sincera. Se uma nação mostrar que sabe atuar com razoável decência e eficiência em assuntos sociais e políticos, se ela souber manter a ordem e pagar suas obrigações, não precisa temer a intervenção dos Estados Unidos. O mal estar crônico ou a impotência que causem um relaxamento das ligaduras da sociedade poderão, na América como em qualquer parte, suscitar finalmente a intervenção de alguma nação civilizada, e no hemisfério ocidental a aderência à Doutrina Monroe poderá forçar os Estados Unidos, ainda que relutando, em casos flagrantes dos mencionados mal estar ou impotência, a exercer o poder de polícia internacional. (SKIDMORE & SMITH, 1984, pp.419 apud AMAYO, 1990, pp.115).

            O Corolário Roosevelt tornou-se uma Política do Estado norte-americano, a principal diretriz da Política Externa Estadunidense. Roosevelt seria um “Cowboy” que lutaVA com armas na mão contra o inimigo racial e “culturalmente inferior”. Theodore afirma que se a descoberta da América foi o inicio de um período de expansão racial, sobretudo a conquista do Oeste comprovou a superioridade saxã na América e a americana no mundo. (OLIVEIRA, 2000, pp.146).
Schoults afirma que Theodore Roosevelt acreditava que as civilizações mostravam a sua superioridade através da guerra que, sobretudo aperfeiçoaria a raça humana.
Inquieto, irrefletido e possuído de um insaciável desejo de proteger a masculinidade da nação, Roosevelt lutava com unhas e dentes contra qualquer proposta que pudesse amolecer as pessoas, chegando ao ponto de conceber a tarifa aduaneira como uma questão de caráter masculino: “Neste país a indulgência perniciosa na doutrina do livre comércio parece produzir inevitavelmente degeneração adiposa da fibra moral.” Para Roosevelt, a guerra era a maneira pela qual as civilizações superiores demonstravam sua superioridade, “empurrando” seus inferiores e deste modo aperfeiçoando a raça humana. Este darwinismo social pode ser explicação suficiente para a belicosidade de Roosevelt, mas é difícil ler sua correspondência e não concluir que alguma motivação adicional vinha da percepção de que a guerra oferecia uma oportunidade para ascensão pessoal. (SCHOULTS, 2000, pp. 158, grifo do autor)

Além disso, por exemplo, Maria Lígia Coelho Prado (2000, pp. 324) mostra que a concepção de superioridade dos Estados Unidos com relação aos seus vizinhos do sul deve ser observada do ponto de vista religioso, pois os protestantes (eles) se consideram superiores aos católicos. Essa concepção foi incorporada à Política Externa Norte Americana para América Latina desde os tempos da Doutrina Monroe.        
A já mencionada Doutrina do Grande Porrete que foi adotada pelo presidente estadunidense Theodore Roosevelt. Ela atribui aos Estados Unidos o papel de polícia internacional no hemisfério ocidental. (OLIVEIRA, 2000). Roosevelt se apropriou de um provérbio africano que assim dizia: fale com suavidade e tenha à mão um grande porrete. As intenções desta política era proteger os interesses econômicos dos Estados Unidos na América Latina e propiciar maior envolvimento em questões internacionais. Roosevelt é responsável também por ter iniciado a Doutrina chamada de Diplomacia do Dólar.
            Bastos (2005) afirma a Diplomacia do Dólar tinha como objetivo criar e consolidar uma zona econômica e militar segura, controlada por investidores, marines e pró-cônsules estadunidenses; também aumentar as exportações e obter alimentos e insumos baratos. Essa doutrina previa difundir o uso do dólar. Utilizava o não pagamento de dívidas como pretexto para intervir militarmente, uma intervenção “saneadora” diante da instabilidade política e econômica dos países latinos. Este tipo de estratégia que usa o dólar como meio ou fim da política externa foi iniciada pela administração republicana de Theodore Roosevelt (1901-1909) e consolidada pelo presidente também Republicano William Taft (1909-1913) que batizou esse estilo de intervenção de “Diplomacia do Dólar” e, ao que sabemos, prosseguiu nas administrações posteriores. (BASTOS, 2005, pp.. 28, 29).

De fato, a inauguração da diplomacia do dólar permitiu a Roosevelt alegar que estava superando o imperialismo típico dos países europeus. Na prática, estava criando um novo método de projeção de poder em que a intervenção militar não vinha proteger investimentos prévios; ao contrário, novos empréstimos é que estariam prevenindo a intervenção militar. O refunding da dívida dominicana com bancos europeus, financiado com lançamentos de títulos em Wall Street, aumentava a influência financeira e política estadunidense em uma região estratégica e retirava o pretexto para incursão militar européia: as canhoneiras européias seriam substituídas por dólares. (BASTOS, 2005, pp. 38).

            Ou ainda

Foi William Howard Taft (1909-1913), que cunhou a expressão Diplomacia do Dólar. Segundo ele, a Diplomacia do Dólar substituiria canhoneiras e balas por dólares, e marines por bancos. A experiência de Taft na gestão de colônias e protetorados não era recente: foi o primeiro pró-cônsul civil das Filipinas (1901) e, como Secretário da Guerra de Roosevelt desde 1904, chefiou o envio de navios para acelerar a retificação do tratado dominicano em 1905, e a instalação de um governo de ocupação em Cuba entre 1906 e 1909. A alegação de que substituiria balas por dólares não se mostrou verdadeira: a primeira barganha de “empréstimo por controle fiscal” na Nicarágua, em 1910, foi imposta a um governo que marines tinham ajudado a colocar no poder, e chancelou a aliança com as novas autoridades. (BASTOS, 2005, pp. 39).



                           A Política da Boa vizinhança.

            O americanismo tomou corpo nos Estados Unidos principalmente na primeira metade do século XX e está associada a seus heróis americanos e às idéias de liberdade, direitos individuais e independência. Por meio desses ideais seriam superadas as diferenças de classe, credo e raça. Porém, o elemento ideológico mais importante, o progressivismo, está associado ao racionalismo, ou seja, a visão de um mundo de abundância e capacidade criativa do homem desse país. (TOTA, 2000 pp.19)
Tota (2000, pp.19) escreve que a americanização do Brasil foi uma estratégia que objetivava quebrar possíveis resistências à aproximação do Brasil com os Estados Unidos. Esse plano seria executado através da Política de Boa Vizinhança que não foi limitada ao Brasil, mas a toda América Latina. Na pratica, foi montado uma “fabrica de ideologias” pelo governo norte-americano tal como o americanismo. Este foi elaborado com determinadas matérias primas ideológicas em que o sufixo “ismo” se tornou um poderoso armamento intencional. A ideologia da democracia é um dos seus fundamentos mais importantes.
Hoover, eleito em 1928, foi o primeiro presidente estadunidense a visitar o Brasil, mas na condição de presidente eleito. Lançou uma nova diretriz política para as relações entre Estados Unidos e América Latina. A esse respeito afirmou a necessidade de uma nova postura dos EUA para desfazer suspeitas e temores e adquirir o respeito e confiaças das nações latino-americanas. Em Honduras, Hoover falou sobre ser um bom vizinho, ou seja, parar de enviar forças armadas dos EUA para os países da América Latina, assim repudiou a intervenção para proteger investidores dos EUA. (SCHOULTS, 2000, pp. 325)

Imediatamente após sua eleição em 1928, Herbert Hoover organizou uma viagem de boa vontade de dois meses pela América Latina. Ele escreveria mais tarde em suas memórias que “como Secretário de Comércio desenvolvi uma crescente insatisfação com nossas políticas em relação à América Latina. Eu estava convencido de que, a menos que mostrássemos uma atitude inteiramente diversa, nunca desfaríamos as suspeitas e temores em relação ao “Colosso do Norte” nem ganharíamos o respeito daquelas nações.” E assim, em sua primeira parada em Honduras, o Presidente eleito falou sobre ser um bom vizinho o que, na época, significava parar de enviar forças armadas dos EUA para os países da América Latina. Concluindo quase três décadas de lenta mudança política, o Presidente Hoover limpou a casa, começando um mês após sua posse quando, numa clara referência à longa disputa com o México, o novo Presidente especificamente repudiou a intervenção para proteger investidores dos EUA. (SCHOULTS, 2000, pp. 325).

O americanismo adotava uma imagem que valorizava o homem branco, protestante, condutor do progresso e contrário a vida selvagem. Segundo esta concepção do sul do Rio Grande se concentrava a América dos índios, negros, de mulheres e crianças. Essa América Latina deveria ser domesticada através de lições de progresso e de capitalismo para se “desenvolverem”, deixando assim sua posição de “inferioridade”. (TOTA, 2000, pp.30).
Nas eleições presidenciais de 1940, Roosevelt tentava a reeleição. Para ele, seria importante o apoio de republicanos defensores da proximidade maior dos Estados Unidos com a América Latina, republicanos como Nelson Rockefeller, o grande burguês estadunidense, dono da Standard Oil Company. Rockefeller tinha feito uma viagem à Venezuela para inspecionar as áreas de exploração de petróleo de sua empresa. Essa viagem só fez aumentar o seu interesse pela América Latina.
Observou que seus funcionários viviam em péssimas condições de trabalho. Quando voltou a seu país, determinou que por meio da fundação Rockefeller fosse adotada uma nova postura no tratamento aos seus funcionários; assim tentava fazer com que sua companhia ganhasse uma imagem mais humana. A fundação enviou para América Latina médicos, professores e missionários. Temia que uma onda de antiamericanismo pudesse afetar seus negócios na América Latina. (TOTA, 2000, pp.44)
Após a invasão da Dinamarca pelos alemães em abril de 1940, os mentores da política externa dos EUA passaram realmente a se preocuparem com sua influência no continente. A situação de pobreza em que viviam os países latino-americanos poderia fomentar a criação e fortalecimento de grupos revolucionários comunistas ou facistas. Então foi criada a Comissão interamericana de Desenvolvimento que adotaria uma série de posturas visando o desenvolvimento econômico, social e militar da América Latina. (TOTA, 2000, pp.46)
Rockefeller fazia parte da JUNTA que era um grupo não oficial. Esse grupo, sob a liderança de Rockefeller, elaborou um memorando chamado Hemisphere Economic Policy, adotado pelo Governo Roosevelt como uma diretriz da política externa estadunidense para a América Latina. Segundo esse memorando, o governo estadunidense deveria se aliar aos grupos nacionalistas e não se opor a eles. Deveria também tornar a economia latino-americana mais competitiva. Isso ocorreria em estreita cooperação econômica e cultural entre os governos das Américas. Como medida de emergência propunha a compra da produção agrícola e mineral da região. (TOTA, 2000, pp.47 e 48)
Posteriormente apareceria na Doutrina da Política da Boa vizinhança. Foi criada e apresentada pelo governo da administração Franklin D. Roosevelt (1933-1945). Iníciou-se na Conferência Panamericana de Montevideo, em dezembro de 1933.  No campo político-estratégico, possibilitou aos Estados Unidos a defesa de sua área de influência frente à competição internacional do nascente sistema de poder alemão. O Brasil então estava sobre a Ditadura do Estado Novo (1937-1945). Esse regime autoritário guardava semelhanças com os regimes políticos italiano e alemão, pois eram regimes autoritários de Direita. Esse fato fez os membros dos órgãos de Estado norte-americano a acreditarem que o governo brasileiro nutria simpatias pelo regime político alemão. ( FGV-CPDOC, 2010, dísponivel em: http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos30-37/RelacoesInternacionais/BoaVizinhanca, extraído em 11-12-2010).
            No campo econômico, a política de boa vizinhança serviu aos interesses dos Estados Unidos que tentavam se recuperar dos efeitos da crise de 1929. O discurso de solidariedade e cooperação com a América Latina possibilitou a formação de mercados externos para os produtos e investimentos norte-americanos, além de garantir o suprimento de matérias-primas para suas indústrias. (FGV-CPDOC, 2010, dísponivel em: http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos3037/RelacoesInternacionais/BoaVizinhanca, extraído em 11-12-2010).  
 Após a Segunda Guerra Mundial é iniciado um novo momento da Política Externa Estadunidense. Em 1947 começa a Guerra Fria que representa a divisão do mundo em duas esferas de influência. A esfera política capitalista, liderada pelos Estados Unidos e a esfera política socialista, liderada pela União Soviética. Na América do Sul os Estados Unidos tentará exercer o controle político através da Doutrina Truman.
            Essa doutrina se refere a um conjunto de práticas do governo dos Estados Unidos, em escala mundial. Harry S. Truman pronunciou, em 12 de março de 1947, diante do Congresso Nacional dos Estados Unidos, um duro discurso no qual se comprometia defender o mundo capitalista contra a ameaça comunista. Esse discurso marca o inicio da Doutrina Truman que faz parte do contexto da Guerra Fria marcada pelo forte antagonismo com o bloco comunista.
            A Doutrina Truman é conhecida também como Doutrina da Contenção. Essa estratégia  tinha como objetivo reter o avanço do comunismo no Ocidente. Para isso, os Estados Unidos utilizavam estratégias militares, econômicas, políticas e diplomáticas. A Doutrina de Contenção foi criada pelo diplomata estadunidense John Frost Kennan (ex- embaixador dos EUA na União Soviética). A palavra Contenção se originou através de um relatório apresentado por Kennan ao secretário de Defesa James Forrestal em 1947. Essa doutrina foi associada à política externa do presidente Harry Truman (1945-1953) e se estendeu por grande parte da Guerra Fria (1947-1989). Por influência dessa doutrina foi criado o Tratado do Atlântico Norte – (OTAN[7]) (um pacto de defesa mútua entre os países capitalistas). (PECEQUILO, 2003).
            Outra política estadunidense voltada para a América Latina foi a Aliança para o Progresso. Este foi um programa dos Estados Unidos cuja origem remonta ao discurso de 13 de março de 1961 quando o presidente John F. Kennedy recebia, na Casa Branca, os embaixadores latino-americanos. Posteriormente, foi referendada no Conselho Interamericano Econômico e Social da Organização dos Estados Americanos[8] - (OEA), ocorrida em Punta del Este, no Uruguai, entre 05 e 17 de Agosto de 1961[9]. Seu resultado foi a Declaração e Carta de Punta del Este. A aliança durou entre 1961 e 1971. Seu investimento foi da ordem de 20 bilhões de dólares.  A Aliança para o Progresso era claramente uma forma de reação à Revolução Cubana (1959), pois a Administração Kennedy nutria o medo de uma cubanização da América Latina, dessa forma tentava promover o desenvolvimento econômico e social mediante a colaboração financeira e técnica em toda a América Latina.  (PECEQUILO, 2003)
            Na década de oitenta do século XX a administração Reagan esteve com sua atenção voltada para a América Latina, o caso mais importante é o do Irã-Contras. Em 1983, com medo de que os Estados Unidos entrassem em um novo Vietnam sul americano, o Congresso Norte-Americano impôs limites para a ajuda do governo estadunidense aos Contras (Guerrilha pró-Estados Unidos cujo objetivo era derrubar a Revolução Socialista Nicaraguense.) Inconformada com a decisão, a administração Reagan (1981-1988) por intermédio da CIA, montou uma operação secreta para ilegalmente financiar os Contras. Para Arrecadar dinheiro necessário, a CIA passou a colaborar com os cartéis de narcotráfico colombianos, assim adquirindo narcodólares com os quais comprava armas do Irã e as fornecia aos Contras. Noriega teria sido o homem-chave desta operação.  (ARBEX, 1993, pp 28, 29)
            A  Doutrina Bush[10], (1989-1992) para a América Latina teve como destaque a invasão do Panamá. Em 20 de dezembro de 1989, o Panamá foi invadido pelos Estados Unidos com 13 mil marines, na chamada Operação Causa Justa. A principal alegação era a de que o general Manuel Antonio Noriega tinha ligações com o narcotráfico e desenvolvia uma política hostil aos Estados Unidos. Noriega era sabidamente agente da CIA pelo menos desde 1967. Noriega fez carreira política à sombra de Omar Torrijos, ditador do Panamá que chegou ao poder em 1968; Noriega era o chefe da polícia panamenha nesse período. Nas décadas seguintes seu poder cresceu através de tramas, fraudes e golpes palacianos. Em 1981 com a morte de Torrijos, Noriega passou a exercer um poder político incontestável em seu país. O ápice do envolvimento de Noriega com a CIA foi sua participação no esquema clandestino de financiamento da guerrilha, pró-Estados Unidos, contra o governo socialista da Nicarágua chamado “Escândalo Irã-Contras (1983).” (ARBEX, 1993, pp. 1993).
            O Panamá situa-se em um ponto de importância estratégica mundial, em uma área cuja distância terrestre entre os oceanos Pacífico e Atlântico é a menor do mundo. No inicio do século XX os Estados Unidos construíram o Canal do Panamá. Pagaram 10 milhões de dólares pelos direitos de exploração do canal cuja construção foi encerrada em 1914. O canal do Panamá faz parte da expansão imperialista estadunidense que incluía a anexação de territórios continentais que pertenciam à América espanhola, Califórnia mexicana, Cuba e o Panamá.  (ARBEX, 1993, pp. 30).
            Sua estratégia de implantação envolvia a formação de blocos regionais. Entre os países do norte seria formado um bloco, o Mercado Comum do Norte - (MERCONORTE), englobando Estados Unidos, México e Canadá e ao sul, o Mercado Comum do Sul – (MERCOSUL), formado pelos países andinos e amazônicos. Compreenderia também várias iniciativas bilaterais entre Estados Unidos e os países latino-americanos.
            NAFTA[11] e a ALCA[12] são desdobramentos da Iniciativa Bush, mas todas elas correspondem a Doutrina Monroe. Segundo Samuel Pinheiro Guimarães a ALCA faz parte de uma estratégia norte-americana com objetivos políticos, econômicos e militares de longo prazo que se inicia na Cúpula de Miami de 1994, que reuniu 34 países, aprovando uma declaração de princípios sobre o fortalecimento da democracia, abertura dos mercados, integração continental, desenvolvimento sustentável e a luta contra pobreza também e estabeleceu os objetivos da ALCA até 2005. (GUIMARÃES, 2006, pp. 42,43).
            A principal estratégia da Cúpula de Miami seria a consolidação da influência dos Estados Unidos sobre os maiores países latino-americanos. A cúpula tentou fechar acordos para a desregulamentação das economias, promoção da abertura comercial e financeira dos países latino-americanos. Sobretudo, tentava conseguir apoio para suas estratégias específicas de combate ao narcotráfico e ao terrorismo.

Do ângulo militar, essa estratégia visa colocar sob “protetorado” militar americano os Estados da América Latina, por meio de acordos que dificultem ou impossibilitem o desenvolvimento de tecnologias avançadas, que são, muitas vezes, pela sua natureza, duais (com uso militar e civil), que reduzam seus armamentos convencionais e, por último, que confiem às suas forças armadas apenas o papel de guardiões da ordem interna, transformando-as em forças policiais. (GUIMARÃES, 2006. pp.43).

             Petras (2002 apud BORGES, 2002) afirma que o Plano Colômbia na administração George W. Bush fez parte de uma estratégia que visava aumentar o controle dos Estados Unidos sobre a América Latina em um cenário internacional desfavorável aos Estados Unidos, em que a competição européia e a crise econômica apresentava seus sinais visíveis.
            O Plano - Colômbia tem a característica de ser um projeto financeiro-militar colombiano feito com o apoio dos Estados Unidos. Seu objetivo é combater o narcotráfico. Esse plano foi elaborado nos primeiros anos da administração Andrés Pastrana (1998-2002). Foi orçado em 7,5 bilhões de dólares; desses, 4 bilhões são originários do governo colombiano e o restante provém de fontes externas (CLINTON libera US$ 1,3 bilhão à Colômbia, O Estado de São Paulo, 24/08/2000 apud  BORGES, 2002).
            Os Estados Unidos por meio do Plano-Colômbia forneceram 1,2 bilhões para que o governo colombiano destruísse a guerrilha, representada pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – (FARC) e o Exército de Libertação Nacional – (ELN); também fizeram alianças secretas com grupos paramilitares.

Os estrategistas de Washington estão preocupados com vários temas geopolíticos cruciais, que poderiam afetar de maneira adversa o poder imperial dos Estados Unidos na região e fronteiras. O tema da insurgência colombiana é parte de uma matriz geopolítica que visa a questionar e modificar essa hegemonia no Norte da América do Sul e na zona do Canal do Panamá (PETRAS, 2002, p. 39 apud BORGES 2002).

            Borges (2002) salienta que as relações entre os EUA e os países Andinos são determinadas em grande parte pelo combate à produção e ao tráfico de drogas. Sua principal hipótese é que os EUA influenciam as relações entre os países amazônicos ( pois o habitat natural do produtor das folhas de coca é a região amazônica dos países andinos) dificultando a solução dos problemas amazônicos e atrapalhando a cooperação regional.

            Os Estados Unidos e seus projetos de militarização na Colômbia e Peru
            Recentemente a Colômbia fechou um acordo com os Estados Unidos para instalação de três bases em seu território (em Malambo, Palanquero e Apiay). Esse fato gerou (e ainda gera) desconfianças na América do Sul. Embora seja uma decisão soberana do governo colombiano que pretende decidir sobre esse acordo sem consultar os países membros da UNASUL.  O general estadunidense Jim Jones, responsável por esse acordo, afirmou que as bases não representam nenhum tipo de ameaça por se tratar de efetivo muito reduzido de 800 militares. (MARIN & MONTEIRO, 2009).
            Bogotá afirma que o objetivo é o de implantar um moderno esquema de cooperação militar com os Estados Unidos, também afirmou que não pretende executar missões fora do seu território (MARIN & MONTEIRO, 2009). Desmente essa afirmativa, o incidente diplomático gerado pela perseguição de Raúl Reyes, número dois das FARC, em pleno território equatoriano pelos militares colombianos. Soma-se, também, o pronunciamento do ex-presidente colombiano, Álvaro Uribe, de que o acordo permite o acesso dos Estados Unidos à informações de inteligência, assim como vantagens na compra de armas e aviões. (MARIN & MONTEIRO 2009.)
            Outras regiões do mundo recebem uma preocupação maior dos Estados Unidos, mas apesar de nos mencionar pouco nos discursos oficiais, esse país acompanha de perto evolução política latino-americana. Exemplo disso foi a inclusão do México no NAFTA e o fato de terem lançado a ALCA. A estratégia política dos Estados Unidos para a América Latina tem como principal objetivo manter e preservar a Doutrina Monroe. Dessa forma pretendiam estruturar um organismo no continente para legitimar suas intervenções militares e por outro lado alinhar a Política Externa Latino-Americana à sua e manter regimes (democráticos ou não) para garantir liberdade de ação na defesa dos interesses estadunidenses. (GUIMARÃES, 2006)

A estratégia militar para a América latina tinha como objetivo central manter as Américas como zona de influência militar, através de programas de formação de oficiais e da defasagem tecnológica das Forcas Armadas, de acordos de vendas de armamentos de segunda ou terceira geração e de garantia de acesso preferencial norte americano às matérias primas da região. (GUIMARÃES, 2006, pp.39).
             Quando o governo peruano percebeu que a militarização favorecia grupos como o Sendero Luminoso, mudou sua postura, passando a investir em programas de desenvolvimento que resultaram na vitória do Estado peruano.  (AMAYO ZEVALLOS, 1993).  Os Estados Unidos fez oposição à visão desenvolvimentista peruana considerando que era fundamental a militarização ao invés de desenvolvimento. O presidente Bush (pai) chegou a propor a criação de um exército interamericano. Este interviria em qualquer país latino-americano sob a justificativa de combate a guerrilha e ao narcotráfico. O Peru considerou como inútil essa via da militarização e a descartou. Esse fato representou uma grande derrota do Governo Bush. (AMAYO ZEVALLOS, 1993)
            A visão militarista dos Estados Unidos serve aos seus interesses diretos de expansão hegemônica e de controle sobre a América Latina.  Os projetos de desenvolvimento diminuiriam a margem de dependência de países como o Peru em relação aos norte-americanos. Acabariam também com as justificativas de intervenção. Existiu uma pressão do governo estadunidense para que o Peru e Brasil, aceitassem, em seu território, os  agentes  da  Drug Enforcement Agency - (DEA). Esse órgão, sabidamente é o principal órgão de inteligência  dos EUA no “combate” a entorpecentes. (AMAYO ZEVALLOS, 1993).   
                        Os Estados Unidos e o Brasil: relações entre os governos, os militares brasileiros e Washington.

            O Brasil possui uma grandiosa importância no continente americano. Isso se deve à sua extensão geográfica, demográfica, seu potencial econômico e posição geopolítica na América do sul. Esses fatores o permitem fazer frente à hegemonia estadunidense no hemisfério sul. A amizade com o Brasil é parte da estratégia norte-americana. Essa estratégia possui duas táticas: primeira, convencer a elite brasileira sobre a influência hegemônica dos Estados Unidos no continente, segunda, colaborar para que o Brasil seja o ponto de equilíbrio no continente, mas impedindo que se torne hegemônico. (GUIMARÃES, 2006, pp.40).
            Intelectuais brasileiros como André Rebouças, engenheiro e uma das vozes mais proeminentes do século XIX, idealizava o Brasil moderno. Na sua prática cotidiana fazia da engenharia um instrumento de modernização do país e nesse ideal entendia que o melhor exemplo de sociedade a ser seguida era a norte americana. Maria Alice de Rezende Carvalho, sua biografa, afirma:
... em Rebouças a passagem dos nos 70 para os 80 pode ser entendida como uma transição do “yankismo”, isto é, da crença da utilidade social do interesse individual para a defesa de uma via de modernização (cuja referência aos casos alemão e Italiano seria a ilustração mais eloqüente). Nesse sentido, pode-se dizer que a “demarche” de Rebouças na década de 1880 constitui-se em acomodar a preservação da via norte-americana de modernização a abdicação da forma racional de realizá-lo no Brasil, a revolução democrática e agrária popular, resolvendo-a nos termos de uma “americanização” adaptada implicou, por suposta, a consideração de história nacional. (CARVALHO, 1998, pp. 129-130).
            Para Rebouças a hegemonia norte-americana considerava o interesse dos excluídos, dos povos, das classes e pautava-se pela democratização social de modo a que todos tivessem acesso à autonomia e riqueza.  Outro pensador latino-americano, o argentino Domingos Faustino Sarmiento, defende em seu livro Facundo: civilização e barbárie a adoção do modelo norte-americano para se chegar à “civilização.” (CARVALHO, 2008).
            2.3.1 A Política da boa vizinhança no Primeiro Governo Vargas (1930-1945).

            A Política da Boa Vizinhança surgiu no governo Franklin D. Roosevelt, na década de quarenta do século XX e representou o abandono da prática intervencionista, assim como a adoção da negociação diplomática, colaboração econômica e militar. Seu objetivo era diminuir a influência européia na região e assegurar a liderança americana no que considerava ser o seu quintal.
A implantação dessa nova estratégia de relacionamento com a América Latina representou a vitória da corrente política do governo norte-americano que adotava o livre cambismo como solução para a recuperação dos Estados Unidos no plano internacional. 
(FGV-CPDOC, 2010. Disponível em: http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos30-37 Extraído em 04-03-2012)

            Maria Lígia Prado (2000) afirma que a Política da Boa Vizinhança teve a função de fazer com que o Brasil se tornasse aliado de Washington contra o Eixo na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). O resultado dessa política foi o envolvimento do Brasil na guerra ao lado dos aliados em 1943 e posteriormente o alinhamento do Brasil aos Estados Unidos a partir de 1947, (nesse momento sob a égide da Doutrina Truman). Foi durante a Segunda Guerra Mundial que a cultura estadunidense aportou em terras brasileiras difundindo um conjunto de idéias, concepções e padrões comportamentais, o modo de vida americano, o American Way of Life. Antes, em 1938, foi criado no Brasil um órgão especial conhecido como Birô Interamericano  para estimular os Encontros Culturais das Américas. Esse órgão objetivava combater uma influência alemã nos círculos culturais e sociais brasileiros.
            Em 16 de agosto de 1940 o presidente F. Roosevelt instituiu o Office of the Coordinator of Comercial and Cultural Relations Between the American Republics, o Birô Interamericano cujo mentor e diretor, Nelson Rockefeller, possuía um notório volume de investimentos na América Latina. Fundamentalmente o Birô fazia propaganda política no rádio cinema e publicações impressas. Sua influência aumentou através da United Press e Associated Press que eram as principais fontes de notícias da imprensa brasileira; o símbolo desse período foi o Repórter Esso, patrocinado pela Standard Oil empresa de Rockefeller.
            Maria Ligia Prado (2000) ressalta que o Birô passou a utilizar o cinema como instrumento de aproximação dos Estados Unidos e os latinos americanos. No caso Brasileiro, são dois os fenômenos: Carmen Miranda e Zé Carioca. Carmen “baiana estilizada” torna-se estrela de Hollywood; aparecia nos filmes dançando e cantando. Segundo os americanos ela representaria a cultura brasileira, brejeira, alegre, porém inconseqüente, impulsiva e emocional.
Carmen foi peça de uma engrenagem complicada que pretendia agradar as platéias brasileiras e latino-americanas, dentro de uma estratégia de sedução fabricada pelos produtores de Hollywood e seus amigos burocratas do governo norte-americano. Seus objetivos não se cumpriram integralmente no Brasil, pois o publico nacional não se identificou completamente com aquela figura exótica e um tanto caricata. (PRADO, 2000, PP.338, 339).
             Walt Disney, em nome da “amizade” entre Brasil - Estados Unidos, criou o papagaio Zé Carioca, malandro e inconseqüente, cheio de truques e artimanhas, simpático, mas que não se pode confiar, sem contar que o papagaio é um bicho que reproduz aquilo que escuta.
Durante a Segunda Guerra Mundial, Getulio Vargas procurava, no plano internacional, manter certa neutralidade do imperialismo mercantil ianque e também do imperialismo romanticista germânico. Os assessores de Roosevelt estavam atentos ao conflito de nossa política externa com relação aos EUA e Alemanha. Vargas em 11 de junho de 1940 proferiu discurso em que deixa subentendido seu apoio à Alemanha, (três dias antes da invasão de Paris pelos alemães). Em seu diário, comenta;

O discurso que pronunciei teve muita repercussão, produzindo alguma surpresa pelo tom, julgado muito forte e, por outros, tido, insensatamente, como germanófilo.  (VARGAS, 1995, pp. 319)



            Tota (2000, pp. 27) salienta que a ambigüidade do discurso de Vargas pode ser encontrada nos seguintes trechos;

...marchamos para um futuro diverso (...) passou a época de nacionalismos imprevidentes, das demagogias estéreis (...) os povos vigorosos aptos à vida necessitam seguir o rumo de suas aspirações. (TOTA, 2000, pp. 27)

            Posteriormente, Vargas, diante das repercussões negativas de seu discurso, em um gesto hábil, manifestou simpatia pela política de solidariedade pan-americana proposta por Roosevelt. No dia 12 escreveu em seu diário:


Fervem os comentários em torno do discurso do dia 11: os alemães embandeiraram, os ingleses atacaram, os americanos se manifestaram consternados. Internamente, acusaram-me de germanófilo (...) começaram os entendimentos entre o chefe da Missão Militar Americana com os nossos militares e o Ministro do Exterior sobre o nosso aparelhamento bélico. (VARGAS, 1995, pp. 319, 320)


Tota (2000, pp. 28) afirma que não há como negar que a Segunda Guerra Mundial representa uma virada nas relações culturais entre Brasil e Estados Unidos, porém essa politica, de fato, foi iniciada na Administração Hoover, como afirmado anteriormente, que eleito em 1928 fez uma viagem a América Latina, exatamente em Amapala, Honduras, ali teria cunhado a expressão good Neighbor, bom vizinho para designar a mudança da política externa de seu governo para a América Latina.

            2.3.2 A FEB e seus vínculos com os Estados Unidos

             Getúlio Vargas sabia que os Estados Unidos não queriam a participação direta do Brasil na Segunda Guerra Mundial. Vargas acreditava que a participação do Brasil colocaria o país em uma posição de destaque no mundo Pós-Guerra. Os oficiais brasileiros inicialmente freqüentaram a escola de comando do Estado Maior Estadunidense em Leavenworth (Kansas), mas até 1944, mais de mil oficiais brasileiros passaram pelos cursos militares nas escolas americanas. (National Geografhic Brasil: edição especial FEB, pp.13).
            Em 1943, depois de o Brasil ter declarado guerra ao Eixo (Alemanha, Itália e Japão), formou-se a Força Expedicionária Brasileira – (FEB). Os princípios e os equipamentos dos soldados brasileiros estavam ultrapassados. Foi preciso começar do zero. As diferenças entre os brasileiros e estadunidenses, em termos de equipamento, instrução, manutenção e alimentação eram enormes. Os soldados brasileiros consumiam alimentos de baixo valor calórico e nutricional como jabá e feijão. Os alimentos consumidos pelos soldados estadunidenses eram considerados de luxo. Consumiam frutas em calda, carne de porco, chocolates e também dispunham de bons uniformes, boas armas e viaturas.  (National Geografhic Brasil: edição especial FEB, 2005, pp.13).
            A proximidade de convívio entre soldados e oficias era uma novidade para os brasileiros, pois no Brasil existia um grande distanciamento entre os soldados e seus superiores. Na Itália os expedicionários se deram conta do atraso do Brasil e da forma autoritária como eram tratados. A participação do Exército brasileiro na guerra impulsionou o envolvimento dos militares em assuntos da política brasileira. Quando a guerra terminou, a FEB era a elite do Exército Brasileiro. Eram os mais bem treinados e possuíam as melhores instruções e equipamentos. Nutriam uma grande admiração pelos moldes norte-americanos. (National Geografhic Brasil: edição especial FEB, 2005, pp.14)
            Na guerra, os soldados da FEB criaram vínculos profundos com os soldados estadunidenses. Eles partilharam os mesmos alojamentos, conviveram dia a dia no campo de batalha e sofreram a mesmas coisas, dividiram os mesmos campos (quando eram prisioneiros dos alemães), curaram seus ferimentos e enterraram seus mortos, muitas vezes em cerimônias conjuntas. (National Geografhic Brasil: edição especial FEB, 1995, pp. 23).





            2.3.3 A Escola Superior de Guerra
            Skidmore (1982) afirma que a Escola Superior de Guerra – (ESG) é o ponto irradiador da influência dos Estados Unidos sobre a oficialidade brasileira. Foi fundada em 1949 por Cordeiro de Farias, na época, líder militar Anti-Getulista. Sua fundação também foi uma decorrência de Acordos militares entre Brasil e Estados Unidos do inicio dos anos 50. Inicialmente teve como modelo o National War College de Washington. Nas décadas seguintes a ESG virou reduto de oposição ao populismo brasileiro com uma ideologia fortemente anticomunista e de alinhamento político aos estadunidenses. Contribuiu decisivamente para o Golpe Militar de 1964.
            A Ditadura Militar de 1964 teve o apoio estadunidense e nesse período as posições oscilaram entre alinhamento ideológico e uma política mais independente que resultou em acordos como o do projeto nuclear brasileiro elaborado em parceria com a Alemanha. Antes disso, em 1961, o governo Kennedy, com medo do avanço da Revolução Cubana (1959) na América Latina propôs a “Aliança para o progresso” que tentava promover o desenvolvimento Latino Americano. Através da Aliança tentou evitar o avanço do comunismo no continente; nisso os corpos de paz eram importantes, pois conformavam uma agencia de assistência internacional de trabalho voluntário e financiado pelo tesouro norte-americano. Tinham por finalidade enviar às nações “carentes” especialistas em educação, saúde e agricultura que deveriam ensinar as populações conhecimentos técnicos básicos nessas áreas. (PRADO, 2000, pp.343.)
            Os Estados Unidos imaginavam que o comunismo poderia surgir do nordeste devido à extrema pobreza dessa região do Brasil, além do fato de existirem lideranças populares como a de Francisco Julião e movimentos como as ligas camponesas. Essas preocupações fizeram com que as ações dos Corpos de Paz se concentrassem nessa região do Brasil. A partir do golpe militar a ação dos Corpos de Paz aumentou no país, em 1966 chegaram a 639 voluntários, seu maior número. Encerraram suas atividades no Brasil em 1980. (PRADO, 2000. pp.343, 344).

            2.3.4 A Operação Brother Sam e o “amigo americano”

            Thomas Skidmore (1982) afirma não existir dúvidas de que Lincoln Gordon (ex-embaixador dos EUA no Brasil em 1964) foi um entusiasta do governo ditatorial brasileiro, pois em 23 de abril de 1964 falou em Porto Alegre que a queda de Goulart simbolizou uma nova arrancada do Brasil para a realização dos ideais da Aliança para o Progresso. Em 05 de maio do mesmo ano na Escola Superior de Guerra exaltou a “Revolução” Brasileira e disse que ela poderia ser comparada como um momento decisivo da História Mundial, assim como foi o Plano Marshall (1947), o Bloqueio de Berlim (1948-1949), a derrota do comunismo na Coréia e a resolução da Crise dos Mísseis em Cuba (1962).
            Em 1966, quando encerrou sua missão no Brasil, Licoln Gordon, afirmara sua crença no compromisso, do governo Castelo Branco[1] em restaurar os procedimentos “democráticos” no Brasil, compatíveis com os princípios da política Estados Unidos - América Latina. É importante afirmar que as palavras de Lincoln Gordon eram endossadas por Washington. (SKIDMORE, (1982) 2000, PP. 397).
            Marta Huggins (1998) revela não só envolvimento entre a Central americana de inteligência (CIA) no treinamento da repressão brasileira (no período pós – Ato Institucional nº 5), mas a montagem de uma estrutura de repressão baseada no DOI-CODI[2]. A Casa Branca sabia e a CIA através do Office of Public Safety Brasil (OPS-Brasil), montou, operacionalizou a estrutura de repressão e treinou seus agentes.
            Richard Helms, diretor da CIA, afirma que pelo menos indiretamente a OPS contribuiu para uma centralização da Polícia Brasileira (HUGGINS, 1998, pp. 188). Os Comandantes Militares de cada um dos Exércitos Brasileiros, tinham responsabilidade por tudo que envolvia a segurança. Sobretudo legitimou a ideologia baseada na divisão do país em “verdadeiros cidadãos” de um lado e “subversivos” de outro, a parte “desviante”. A criação do DOI – CODI, uma rede nacional interligada de forças de segurança da polícia e das forças armadas, todas sobre o controle militar direto.

Em 1969, o primeiro desses novos órgãos foi instituído em São Paulo como a Operação Bandeirantes (OBAN), comando das operações de defesa interna em âmbito estadual. Um ano depois, esse modelo estendeu-se para todo o Brasil como DOI-CODI, sendo sua missão obter informações e neutralizar os terroristas. (HUGGINS, 1998, pp. 189)

Richard Helms entendia o DOI-CODI em comissões compostas por membros das forças armadas e da polícia. A posição mais alta na hierarquia era ocupado por cada comandante dos distritos militares.
A estrutura do DOI-CODI destinava-se a ajudar as forças de segurança do Brasil a superar as disputas de jurisdição e falta de coordenação entre os inumeros órgãos militares e civis de inteligência e segurança, como explicou o próprio Helms. ( HUGGINS, 1998, pp. 189).
A utilidade da normatização da violência estatal no Brasil obedeceu a interesses dos Estados Unidos, pois ofereceram treinamento, tecnologia, apoio moral e político à tortura no Brasil promovida pela polícia e pelo governo brasileiro. Washington sabia sobre essa prática (HUGGINS, 1998, pp. 189-190).
Os DOIs dos maiores Estados eram divididos em três esquadrões: um prendia e caçava os sujeitos (“busca e captura”), outro captava informações e recolhia os prisioneiros ( “informação e interrogação”) e o outro analisava as informações obtidas a partir das infiltrações obtidas a partir da infiltração em associações e interrogatórios de informantes (“informação”) (HUGGINS, 1998, pp. 191).

Os consultores de segurança da OPS – Brasil consideravam seu trabalho como uma espécie de “missão religiosa”, consideravam seu método legitimo para acabar com a desordem brasileira, pois seu principal objetivo era proporcionar segurança aos Estados Unidos e garantir as “liberdades democráticas”. O DOPS era essêncial nessa estrutura, pois os militares estavam despreparados inicialmente para coletar informações de inteligência civil, para interrogar prisioneiros para conduzir operações de segurança interna. (FON, 1986 apud HUGGINS, 1996, pp.190).
            Helms, diretor da CIA, utilizou o termo “guerra santa” para falar da violência do Governo Brasileiro contra os “terroristas” afirmou ainda que “a violência não era nada de novo no Brasil”

Em algumas regiões, particularmente no nordeste (do Brasil), a violência é tida como um meio tradicional - e muitas vezes bastante respeitável – de punição. Em muitas áreas rurais, os espancamentos e, em casos extremos, os tiros da polícia e até mesmo dos proprietários de terras locais constituem há muito tempo um dos métodos favoritos para manter as classes inferiores em seu lugar... em quanto esse tipo de tratamento não resulta em mortes, a população rural mantêm-se indiferente. (HELMS, 1971 apud HUGGINS, 1998, pp.204).

            Martins Filho (1998) destaca a participação da CIA na Sexta-Feira Sangrenta. Afima:
Para Huggins, contudo, o OPS operou em 1968 não apenas como observador, mas como ativo assessor, sugerindo inclusive mudanças de tática para colocar as forças repressivas à altura das passeatas-relâmpago do movimento estudantil. Uma dessas novas medidas foi a colocação de franco-atiradores no alto dos edifícios, o que talvez explique as numerosas mortes da "sexta-feira sangrenta" (MARTINS FILHO, 1998, pp. 04, 05).

            A sexta-feira sangrenta se refere ao dia 21 do julho de 1968 em que ocorreu um grande protesto contra a Ditadura Militar (1964-1985) nas ruas do Rio de Janeiro. Foram levantadas barricadas, na Avenida Rio Branco e apedrejamento do Consulado dos Estados Unidos.
Sá Corrêa (1977) revela os canais de telex que ligavam a Casa Branca e a embaixada estadunidense no Brasil que confirmam a Operação Brother Sam (ver anexo H e I.), cujo objetivo era evitar o estrangulamento dos golpistas de 64, em seu ponto mais frágil que era a falta de combustível, isso considerando a hipótese de uma luta longa. O Embaixador Licoln Gordon foi responsável por acioná-lo. (CORRÊA, 1977, pp. 97).
            A Operação Brother Sam não daria o apoio bélico, mas estratégico, pois o maior temor dos EUA seria a falta de combustível, assim 40 mil barris de gasolina comum, 15 mil barris de gasolina de aviação, 33 mil barris de óleo diesel e 20 mil barris de querosene estavam prontos para serem enviados ao Brasil via Montevidéu.

Outro petroleiro, o Chapacket, traria 35 mil barris de querosene, 40 mil de gasolina comum e 33 mil de aviação, o terceiro barco Hampton Road preparado para o porto de pequeno calado, carregaria 150 mil barris. E o quarto Nash Bulk, 56 mil barris de gasolina comum, 39 mil de gasolina de aviação e 92 mil de querosene. (CORREA, 1977, pp. 17).

            Esse volume todo de combustível somado aos quatro petroleiros que levavam 136 mil barris, corresponderia a um dia de consumo do Brasil no ano de 1976 ou 1977. Por exemplo o Santa Inez estava pronto para zarpar de Aruba rumo ao Brasil no dia 02 de abril e chegaria na vizinhança de Santos entre 10 e 11 de abril. No mesmo dia se encontraria por aqui o porta-aviões Forrestal cuja missão era garantir o desembarque do combustível. (SÁ CORRÊA, 1977, pp.17)

O embarque de munição é apresentado, num comunicado do Estado Maior conjunto da Força Aérea como missão de apoio ao plano operacional de que a força tarefa naval fora encarregada. Destina-se à Operação Brother Sam 110 toneladas de armas e munições e há mensagem que falam em encaixotar 250 carabinas de calibre 12. (SÁ CORRÊA, 1997, pp.17).


O grau de envolvimento da OPS no treinamento da repressão brasileira chegou a tal ponto que fora construída uma sala de simulação. Nessa sala era ensinado à polícia o combate aos “subversivos“; depois do AI-5, segundo Huggins, existem dados que confirmam a triplicação do número de policiais brasileiros enviados aos EUA para treinamento e também em 1969 a OPS teve participação na criação da Operação Bandeirantes - OBAN (na fase do Regime Militar chamada de policialização do Regime Militar brasileiro).

Finalmente, a autora mostra com abundância de evidências que a tortura serviu não apenas ao regime brasileiro, mas aos objetivos de segurança nacional dos EUA, naquela quadra da Guerra Fria. Para Huggins, também é impossível isentar os Estados Unidos da degeneração das atividades policiais nos tristemente conhecidos "esquadrões da morte" atuantes no Brasil nos anos 60 e 70. (MARTINS FILHO, 1998, pp. 04, 05).

            A partir dessa informação, observamos uma colaboração secreta de agentes dos EUA na montagem de um aparato de perseguição, tortura e aniquilamento de insurgentes ao Regime Militar no Brasil (1964-1985). Isso envolveu, inclusive, ensino e treinamento de práticas de tortura. Esse fato revela um estreito grau de cumplicidade entre a CIA e as Forças Armadas brasileiras.
            Está escrito em um telegrama de 04 de março de 1964 da Embaixada dos Estados Unidos no Rio de Janeiro destinada ao Secretário para Assuntos Latino Americanos (ver anexo N.) que os militares brasileiros seriam um fator estabilizador e moderador na cena política brasileira e um fator essencial para conter os “excessos” da esquerda do Governo Goulart. Destaca ainda que os militares brasileiros não possuem origem aristocrática, possuem orientação nacionalista, mas não facista e pró-constitucionalista democrática. Sobretudo possuem capacidade de suprimir as desordens internas dentro dos limites constitucionais. Salienta ainda que durante o período pós-guerra se beneficiaram da orientação pró-americana de Oficiais da Forças Armadas Brasileiras, resultando em uma aliança ativa durante a Segunda Guerra, porém estes oficiais estavam se aposentando, o que tornava necessária a aproximação com a nova oficialidade para manter relações estreitas e eficazes. (GORDON, 1964 apud SÁ CORRÊA, 1977, pp.87)
            Sobre a atuação do Esquadrão da Morte paulista é preciso citar Meu Depoimento sobre o Esquadrão da Morte do autor Hélio Pereira Bicudo quem na época foi Procurador de Justiça do Estado de São Paulo e responsável por investigar a atuação do Esquadrão da Morte Paulista no ano de 1970. Essa importante obra relata as ações do Esquadrão da Morte em São Paulo. Bicudo afirma:
Um livro sobre o "Esquadrão da Morte" e sua atuação em São Paulo, muito embora os fatos já se tenham afastado no tempo, é de conteúdo, sem dúvida, polêmico. Vai daí que após muito meditar, resolvi transmitir a minha experiência na luta contra os policias que, num dado instante se arvoraram em árbitros da justiça, e praticaram toda uma gama de delitos e se envolveram em todas as formas de corrupção. E foi justamente por este último motivo que a luta travada contra o "Esquadrão da Morte" foi bastante árdua e permite uma conclusão pessimista quanto aos resultados. É que em São Paulo, os principais implicados na execução dos crimes do "Esquadrão" passaram a atuar no campo da polícia política, integrando o sistema de segurança, ao qual transmitiram suas técnicas de ação. Inversamente, os que se dispuseram a apontar os crimes por eles cometidos, inspirados inicialmente e depois acalentados por um governador e por um secretário de Estado, inebriados pelo poder, passaram a ser classificados como inimigos do regime e como tal tratados. (BICUDO, 1977, pp.21).

             O historiador estadunidense James Green publicou recentemente um livro chamado Apesar de Vocês: oposição à Ditadura nos Estados Unidos (1964-1985). Nesse livro descreve questionamentos, no final dos anos 60, sobre o apoio dos Estados Unidos à Ditadura Militar Brasileira. Foram os exilados brasileiros que começaram a angariar apoio dentro dos Estados Unidos contra a ditadura. Um dos fatos mais importantes foi a prisão e deportação do grupo teatral Leaving Theater em Ouro Preto no ano de 1979. Esse incidente teve grande repercussão nos Estados Unidos e chamou a atenção da opinião pública norte-americana para o regime ditatorial brasileiro.
            Também a expulsão do Brasil do pastor Brady Tyson sob a acusação de ter promovido uma greve em Osasco/SP em 1966. Nos anos 70, Tyson convidou Marcio Moreira Alves, Deputado Federal cassado pelo Ato Institucional n°05, a percorrer os Estados Unidos denunciando o regime de excessão vivido pelo Brasil. Moreira Alves tentou convencer os membros do Partido Democrata a não seguirem a política de apoio ao governo militar brasileiro. A estilista Zuzu Angel também denunciou, nos Estados Unidos, as violações dos Direitos Humanos no Brasil. Seu filho, Stewart Angel, foi perseguido, torturado e morto por órgãos do governo militar.
             Esses fatos foram marcantes para o despertar de consciência de setores liberais estadunidenses de que o apoio do governo dos Estados Unidos ao Regime Militar Brasileiro não podia continuar. Em 1969 houve uma mudança no Congresso desse país com relação ao apoio de seu governo à Ditadura Brasileira. Os congressistas passaram a exigir a garantia dos Direitos Humanos no Brasil. (GREEN, 2009)
            Dois congressistas foram importantes para essa tomada de posição. Edward Kennedy que fez um discurso em 1970 denunciando a postura do governo ditatorial brasileiro e criticando a política pró-ditadura dos EUA. O segundo foi Frank Church, influente senador que investigou as atividades ilegais da CIA e do FBI. A política do Governo Carter de Direitos Humanos nasceu por causa do Brasil, sobretudo resultado dessa pressão promovida por setores progressistas estadunidenses. (GREEN, 2009)
             Na campanha presidencial norte-americana de 1976, o candidato democrata, Carter, acusou o Partido Republicano de apoiar as ditaduras vigentes no Brasil e no Chile. Sua campanha apoiava o fim da ditadura e o restabelecimento da democracia, sobretudo o respeito aos direitos humanos. Em visita ao Brasil em 1978, o presidente Carter discursou:

Hoje estamos todos nos unindo num esforço global em prol da causa da liberdade humana e do Estado de Direito. Esta é uma luta que só será vitoriosa quando estivermos dispostos a reconhecer as nossas próprias limitações e a falarmos uns com os outros com franqueza e compreensão. (Folha de S. Paulo, 30-03-1978).


            A defesa dos Direitos Humanos frente à Ditadura Militar Brasileira teve impacto nos rumos do governo militar. Essa mudança da Política Externa Estadunidense foi um dos fatores que contribuíram para a queda do Regime Militar, mas não deixa de representar uma influência da Política Externa Estadunidense sobre os rumos da Política Interna Brasileira mesmo sob o argumento da defesa dos Direitos Humanos. O presidente norte-americano Jimmy Carter fez uma visita de três dias ao Brasil. Nessa visita, ouviu relatos de violações dos direitos humanos no país. O Comitê Brasileiro pela Anistia criticou o apoio público que Carter terminou dando ao regime militar e entregou durante o encontro realizado em Brasília um dossiê com o histórico dos últimos 14 anos de ditadura, em que denunciava a existência de 10 mil brasileiros no exílio. Deste total, 122 haviam sido banidos por leis de exceção. (Universidade de Passo fundo, 2010).
O documento citava também os relatórios da Anistia Internacional em que constam os nomes de milhares de brasileiros torturados pelos órgãos policiais, dos quais centenas foram mortos e de 600 pessoas que tiveram seus direitos políticos cassados. Já os jornais norte-americanos Washington Post e The New York Times destacaram a forma fria com que Geisel recebeu Carter, devido às divergências entre ambos a questão direitos humanos e a oposição norte-americana à proliferação nuclear. (Universidade de Passo fundo, 2010).
A relação entre os dois países ficou tensa quando, um ano antes dessa visita, a Primeira Dama estadunidense Rosalyn Carter contou ao presidente Geisel que esteve em Recife e ouviu de dois missionários, saidos da prisão, que haviam sido torturados. Geisel reagiu negativamente às palavras da Primeira–Dama estadunidense. Após esse incidente, cinco acordos militares entre os dois países foram cancelados. Principalmente após o Departamento de Estado norte-americano ter levado ao Congresso, um relatório sobre as torturas a presos políticos no Brasil. (Universidade de Passo fundo, 2011).
            Geisel, em carta a Carter datada de 1974, mostra toda a sua divergência com Carter em relação a questão dos Direitos Humanos e deixa claro que o gesto do governo estadunidense é uma interferência na política interna do Brasil.

         No que concerne à questão dos Direitos Humanos, considera o Brasil que seu respeito constitui um dos principais deveres políticos e morais do Estado. Existem é claro, prioridades a serem atendidas para assegurar aos cidadãos o gozo pleno desses direitos, inclusive no que se refere a condições essenciais de desenvolvimento econômico e social do país. Não creio que sejam muito diferentes os nossos pontos de vista. O Brasil considera, porém, que a responsabilidade por determinar essas prioridades e por assegurar respeito àqueles direitos é do próprio Estado e não pode ser atribuído a outros Estados. Não faltamos com a nossa recuperação voluntária para o exame do assunto em foros internacionais, o que o Brasil recusa, e continuará recusando, é a intervenção de outros países em assuntos que consideram internos, pois temos o dever para com o nosso povo de não lhes criar novas formas de dependência. (GEISEL, 1974)

             2.3.5 Unipolaridade e multipolaridade na Política Externa Estadunidense para a América Latina.

De fato, a Política Externa Norte-Americana para a América Latina teve mudanças que correspondem a diferentes conjunturas sociais, políticas e econômicas e cada uma reflete um momento histórico. Reunindo todas as doutrinas e políticas formuladas por Washington para a América Latina, observamos pontos em comum entre cada uma delas. Podemos afirmar que essa política sofre alternâncias, umas vezes é unipolar (adotando uma postura política unilateral), outras vezes multipolar (buscando uma postura articulada ao consenso internacional), mas sempre procurando manter a posição de liderança hegemônica bem de acordo com a Doutrina Monroe.
            Na verdade essas são as variáveis que dão flexibilidade necessária para a afirmação de sua política exterior, mas sua essência é o Destino Manifesto cuja expressão real seria o destino dado por Deus ao povo dos Estados Unidos para reinar sobre a América e depois sobre o mundo. Dessa forma o rompimento dos tentáculos europeus que dominavam o continente americano e o avanço estadunidense rumo ao oeste e ao sul do continente, fazem parte de sua missão civilizadora de conversão dos “bárbaros” aos princípios de democracia e liberdade como parte do desenrolar do seu destino.
            Essas convicções estão implícitas tanto na formação de uma ordem política internacional como a Liga das Nações, anterior a Organização das Nações Unidas – (ONU), quanto à colaboração ativa na derrubada de governos democráticos como o de João Goulart no Brasil (legalmente referendado pelas urnas em 1960 e por um plebiscito em 1962) e ainda a articulação e sustentação da ditadura que veio a seguir.
            O apoio dos Estados Unidos à Ditadura Militar foi amplo, envolvendo, como já foi visto, ensino de técnicas de tortura à Polícia de São Paulo participando também da criação do esquadrão da morte através de seus órgãos de Estado como a CIA. Uma contradição, por exemplo,  com os ideais de democracia e liberdade impostos principalmente pelos Estados Unidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU ao ser fundada em 1945. 
            Nas últimas décadas, o Plano Colômbia, a instalação das bases estadunidenses nesse país e a instalação, no Brasil, do Sistema de Vigilância da Amazônia são demonstrações da continuidade da presença dos Estados Unidos na América do Sul. O Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM) implantado com equipamentos financiados principalmente pelo Export-Import Bank (EXIMBANK) que costumeiramente financia projetos de interesse da Secretaria de Defesa dos Estados Unidos. No Brasil, o SIVAM foi imposto pelo governo sem uma profunda discussão no Congresso Brasileiro e à revelia da comunidade cientifica brasileira, sem licitação e com um contrato secreto.
            Isabel Cristina Rossi em sua tese de mestrado intitulada SIVAM: um caso de dependência tecnológica tem como foco de pesquisa o controle eletrônico do SIVAM. Ela destaca a disputa ferrenha entre a RAYTHEON estadunidense e a francesa THOMSON-ALCATEL. Essa disputa envolveu até um telefonema do então presidente norte-americano Bill Clinton ao então presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso e o envio de um representante da Casa Branca para intervir junto ao governo brasileiro. Ao final, tivemos o anúncio da escolhida, a empresa norte-americana RAYTHEON, escolhida sem licitação.
            Guimarães (2000, pp.21) afirma que a grande estratégia dos Estados  Unidos  é fazer com que seja mantida sua hegemonia política em âmbito global. Quanto ao Brasil afirma que do ponto de vista da estratégia militar, os EUA tem procurado, em primeiro lugar, manter sua influência sobre a doutrina e o equipamento militar brasileiro, com redução dos efetivos adaptados para enfrentar os “narcotraficantes” e “terroristas”. Pretende também evitar o surgimento de uma indústria bélica brasileira competitiva, sobretudo evitar que o Brasil adquira tecnologias modernas e de destruição em massa. (GUIMARÃES, 2000, p. 40).
            O caso das bases militares na Colômbia e o caso SIVAM mostram que até em períodos recentes os EUA tem obtido sucesso em sua política hegemônica em relação à América do Sul e Brasil.
                       



[1] Castelo Branco, promovido a Tenente Coronel, em 15 de abril de 1943, Na FEB ocupava a Terceira Seção que era responsável por traçar os planos operacionais no cenário de guerra. (Dulles, 1979)
[2] DOI era o Departamento de Ordem Interna, consistia em uma força de prontidão para combater diretamente as organizações “subversivas”, desmontar sua estrutura pessoal e material. Em cada uma das zonas de defesa interna (DOI-COD) possuía um CODI (Centro de Comando de Operações de defesa interna), identificava as prioridades, analisava informações obtidas pela inteligência, planejava missões e esquadrões do DOI. (HUGGINS, 1998, pp. 190).





[1] Devemos ressaltar a compra também do território do Alaska da Rússia. Segundo Amayo Zevallos (1990 pp. 24, 25, 26, 35, 36, 37, 38 e 39), a presença da Rússia no continente americano foi um incomodo para os EUA. William Henry Seward a partir de 1860 começou a elaborar um plano para que os Estados Unidos se expandissem até o Alaska.  Os custos da Guerra da Criméia (1853-56) fizeram com que os russos se dispusessem a vendê-lo aos EUA. Em 1867 assinou-se o Tratado pelo qual o Alaska passou às mãos dos EUA. O Alaska custou US$ 7.2000.000. A expansão fora da América do Norte iniciou-se na década de 1890, mas o marco foi 1898. Com a exceção do Havaí, os principais territórios, nessa expansão externa, foram arrebatados da Espanha. Havaí anexado em 1898, nesse mesmo ano, Cuba, Porto Rico, Filipinas, anexadas da Espanha depois da vitória contra esse país. Nas Filipinas os Estados Unidos fizeram uma verdadeira Guerra de conquista. Em 1898 e após a revolta popular contra a Espanha, a luta pela independência prosseguiu com o apoio dos Estados Unidos. Após sua vitória contra os independentistas filipinos, ocorreu a alienação das Filipinas aos Estados Unidos. Manteve seu status colonial nas Filipinas até 1946, mas mantiveram suas bases militares.
[2] Em dezembro de 1860, a Carolina do Sul tornou-se o primeiro estado a sair da União. Logo ela foi acompanhada por outros cincos estados - Alabama, Flórida, Geórgia, Louisiana e Mississippi. Os principais líderes políticos e senhores de escravos, em sucessivas reuniões ainda em dezembro de 1860, aprovaram a constituição dos confederados, formalizando a criação dos Estados Confederados da América. Tais estados elegeram Jefferson Davis, do Mississippi, como presidente do país. Disponível no Portal São Francisco: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/guerra-da-secessao/guerra-da-secessao1.php extraído em 08/05/2012.
[3] Ex – Senador e vice presidente dos Estados Unidos (1825 – 1832) disponível em: http://bioguide.congress.gov/scripts/biodisplay.pl?index=c000044 Extraído em 09/05/2012.
[4] John Milton Hay (1838 - 1905) foi um americano diplomata, autor, jornalista e secretário particular e assistente de Abraham Lincoln. Disponível em: http://www.nndb.com/people/121/000059941/ Extraído em 09/05/2012Hay's highest office was serving as United States Secretary of State under Presidents William McKinley and Theodore Roosevelt .
[5] George Dewey (1837 - 1917) foi um almirante da Marinha dos Estados Unidos da América. Ele é mais conhecido por sua vitória na Batalha de Cavite durante a Guerra Hispano-Americana. Ele também era a única pessoa na história dos Estados Unidos ter atingido o posto de almirante da Marinha, o posto mais alto na Marinha dos Estados Unidos. Disponível em: http://www.history.navy.mil/bios/dewey_george.htm Extraído em 09/05/2012.
[6] Pascual Cervera y Topete nasceu em Medina Sidonia, Cádiz, Espanha , em 1839. His naval career began in 1852, when he attended the Naval Academy of San Fernando. Sua carreira naval começou em 1852, quando frequentou a Academia Naval de San Fernando. During his career, Cervera showed outstanding dedication and courage which resulted in several promotions of rank. Cervera serviu na Guerra Hispano-Americana de 1898. Disponível em: http://www.loc.gov/rr/hispanic/1898/cervera.html Extraído em 09/05/2012.
[7] A OTAN é uma organização militar comum de defesa, contando, atualmente, com 28 países-membros. Ela foi criada por um tratado assinado no dia 4 de abril de 1949 em Washington. À seus 12 fundadores (Estados Unidos, Bélgica, Canadá, Dinamarca, França, Reino Unido, Islândia, Itália, Luxemburgo, Noruega, Holanda, Portugal), se somaram, com os anos, sete países: Grécia, Turquia, Alemanha, Espanha, Polônia, Hungria e República Tcheca. Em março de 2004, uma segunda leva de sete países chegou à aliança: Lituânia, Estônia, Letônia, Eslováquia, Eslovênia, Bulgária e Romênia. Dois outros países, Albânia e Croácia, entram no clube na cúpula do 60º aniversário da Otan, em 2009. O artigo 5 do tratado da Otan constitui a espinha dorsal da organização. Ele estipula que qualquer ataque contra um dos países membros será considerado um ataque contra todos. Pela primeira vez desde a criação da Otan, os aliados invocaram este artigo em 2001 para marcar seu apoio aos Estados Unidos no dia seguinte aos atentados terroristas de 11 de setembro. A sede da Otan foi primeiro em Londres, depois em Paris, e enfim em Bruxelas desde 1966. Seu comando militar (SHAPE) está situado em Mons (Bélgica). O órgão principal de decisão política da OTAN é o Conselho do Atlântico Norte, no setor político. A França, que é um membro fundador da OTAN, retirou-se da estrutura militar de comando em 1966, em seguida a uma decisão do general Charles de Gaulle, mas anunciou sua volta em 2008 e a concretizou em 2009. Fonte: Disponível em: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/03/saiba-o-que-e-otan.html Extraído em setembro de 2011.

[8] A Organização dos Estados Americanos é o mais antigo organismo regional do mundo. A sua origem remonta à Primeira Conferência Internacional Americana, realizada em Washington, D.C., de outubro de 1889 a abril de 1890. Esta reunião resultou na criação da União Internacional das Repúblicas Americanas, e começou a se tecer uma rede de disposições e instituições, dando início ao que ficará conhecido como “Sistema Interamericano”, o mais antigo sistema institucional internacional. A OEA foi fundada em 1948 com a assinatura, em Bogotá, Colômbia, da Carta da OEA que entrou em vigor em dezembro de 1951. Posteriormente, a Carta foi emendada pelo Protocolo de Buenos Aires, assinado em 1967 e que entrou em vigor em fevereiro de 1970; pelo Protocolo de Cartagena das Índias, assinado em 1985 e que entrou em vigor em 1988; pelo Protocolo de Manágua, assinado em 1993 e que entrou em vigor em janeiro de 1996; e pelo Protocolo de Washington, assinado em 1992 e que entrou em vigor em setembro de 1997. A Organização foi criada para alcançar nos Estados membros, como estipula o Artigo 1º da Carta, “uma ordem de paz e de justiça, para promover sua solidariedade, intensificar sua colaboração e defender sua soberania, sua integridade territorial e sua independência”. Hoje, a OEA congrega os 35 Estados independentes das Américas e constitui o principal fórum governamental político, jurídico e social do Hemisfério. Além disso, a Organização concedeu o estatuto de observador permanente a 67 Estados e à União Europeia (EU). Para atingir seus objetivos mais importantes, a OEA baseia-se em seus principais pilares que são a democracia, os direitos humanos, a segurança e o desenvolvimento. Fonte: site da OEA, disponível em: http://www.oas.org/pt/sobre/quem_somos.asp extraído 12/11/2011.
[9] No ano seguinte, sexta resolução, adotada em 31 de janeiro de 1962 na oitava Reunião de Consulta de Ministros de Relações Exteriores onde Cuba foi excluída do sistema interamericano de nações.
Disponivel em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u576072.shtml Extraído em 03/03/2012


[10] A Doutrina Bush (pai) (1989-1992) e a Iniciativa Bush (pai), (1990-1992) são partes de uma mesma estratégia, aplicadas em planos distintos. A Doutrina Bush, também poderá ser chamada de “guerra ao narcotráfico” cujo objetivo era (e ainda é) obter o controle militar de territórios alegando a necessidade de reprimir ao narcotráfico pela via armada. A iniciativa Bush tem como objetivo, o aprofundamento da dependência dos mercados latino-americanos à  economia dos EUA. Segundo José Arbex Júnior (1993, pp. 81). A Iniciativa para as Américas (junho de 1990), preconizava a formação de um “mercado comum” que abrangesse desde o Alasca (ao extremo norte das Américas) até a Patagônia (Extremo-sul). Sua iniciativa propunha a queda de todas as barreiras alfandegárias e protecionistas entre os países do continente americano. (ARBEX 1993, pp.82, 83)
[11]  O NAFTA (North America Free Trade Agreement) foi iniciado em 1988, entre norte-americanos e canadenses, e por meio do Acordo de Liberalização Econômica, assinado em 1991, formalizou-se o relacionamento comercial entre os Estados Unidos e o Canadá. Em 13 de agosto de 1992, o bloco recebeu a adesão dos mexicanos. O NAFTA entrou em vigor em 1º de janeiro de 1994, com um prazo de 15 anos para a total eliminação das barreiras alfandegárias entre os três países, estando aberto a todos os Estados da América Central e do Sul. São Países-Membros do NAFTA: Estados Unidos, Canadá e México. Disponível em:  http://www.naftaworks.org/  Extraído em: 10-05-2011.
[12] A Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), uma idéia lançada pelos Estados Unidos, surge em 1994, durante a realização da Cúpula das Américas, quando foram assinados a Declaração de Princípios e o Plano de Ação, com o objetivo de eliminar as barreiras alfandegárias entre os 34 países americanos, exceto Cuba, e assim formar uma área de livre de comércio para as Américas, até o final de 2005. Fonte disponível em: http://www.camara.gov.br/mercosul/blocos/ALCA.htm Extraído em 10-05-2011.






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