Adoniran e a modernidade.

Por Samuel de Jesus

         Adoniran incorporou o homem simples, artista na vida em intenso contato com o povo. Falava errado. Era assim mesmo para que o povo entendesse. O pogresso, frexada, revorve, artomove, escuita, lampida, muié. Em seu samba retrata além do amor, a visão sobre São Paulo do quarto centenário, moderno, dinâmico e veloz. Cantou sobre a construção do viaduto Santa Efigênia, as demolições das malocas, sinal da urbanização paulistana, falou sobre o progresso como elemento para o desencantamento da vida boêmia, da boa malandragem, mas na visão do homem simples, que se torna ainda mais excluído na modernização. Certamente é uma dos cronistas da São Paulo que tornava-se símbolo da urbanização do país, lá nos anos 50. Nesse momento o Brasil deixava de ser um país rural para ser um país eminentemente urbano. Homem de rua. O bom corintiano, de que origem for, não pode se negar a dizer - É nóis!!  

Venha ver
Venha ver eugênia
Como ficou bonito
O viaduto santa efigênia
Venha ver

Foi aqui,
Que você nasceu
Foi aqui,
Que você cresceu
Foi aqui que você conheceu
O seu primeiro amor

Eu me lembro
Que uma vez você me disse
Que um dia que demolissem o viaduto
Que tristeza, você usava luto
Arrumava sua mudança
E ia embora pro interior

Quero ficar ausente
O que os olhos não vê
O coração não sente

Link: http://www.vagalume.com.br/adoniran-barbosa/viaduto-santa-efigenia.html#ixzz2VUXosZK8
         
 
          Conheci Adoniran através de meu pai e sua caixinha de fósforo sonora, mas meu pai não tinha a determinação necessária, nem o talento necessário para seguir cantando, era fogo de palha, mas ficou a vivida lembrança. Adoniran, meu pai e eu temos em comum a paixão pelo Corinthians. Quando me lembro do Corinthians a relação com Adoniran é imediata. O Corinthians é povão, um clube que adotou a camisa branca pelo fato de ter pouco dinheiro, então a camisa branca não desbotava, ou seja uma boa malandragem, bem brasileira, ao contrário da pontualidade Anglo-Saxã, a malandragem necessária para aqueles que não nasceram no berço esplêndido e precisam dar aquele jeitinho.
Como seria se Adoniran tivesse vivido mais alguns anos? Após 1982 tivemos a campanha pelas Diretas Já e o inicio do processo de redemocratização do Brasil, o Plano Cruzado, a eleição de Fernando Collor de Mello, muito embora tivesse passado pelos Anos de Chumbo incólume, mas até aí é fácil, pois sabíamos quem era o inimigo. A impressão é a de que Adoniran se despediu quando o melhor momento da festa estava para acabar e antes que alguém começasse a ir embora ele se despediu.

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