A ERA DE TREVAS DA ESCOLA PÚBLICA EM SP: O ESPAÇO DA (DES)EDUCAÇÃO.
Por Samuel de Jesus
Segundo
o professor Milton Santos em seu belíssimo livro intitulado: Por uma outra globalização: do pensamento
único à consciência universal, a política nestes tempos é feita no mercado.
Os atores são as empresas globais que não tem preocupações éticas. Sua
ideologia baseia-se na concepção de que para sobreviver é preciso competir, ou
seja, individualismo ou morte! Essa lógica pressupõe a ausência do altruísmo.
Ela, sobretudo, representa a morte da política, pois a política supõe uma visão
do conjunto, ela se realiza quando existe a consideração de todos e tudo, do
conjunto de realidades e do conjunto de relações. Essa "política" das
empresas representa a morte da Política (no seu sentido público). (SANTOS,
2011, p. 67). Ainda segundo o professor Milton Santos "Nas condições
atuais, de um modo geral, estamos assistindo a não política, isto é, à política
feita pelas empresas, sobretudo as maiores." (SANTOS, 2011, p. 67-68).
Na
educação observamos esse processo implantado pelo governo neoliberal do PSDB e
levado a cabo por um número considerável de profissionais da educação que
tentam transformar a escola em um apêndice das empresas. Seu objetivo é formar jovens
para o mercado de trabalho e não para a formação crítica e cidadã. No Estado de
São Paulo o modelo educacional para o ensino médio é a do jovem técnico. Essa
política visa suprir as carências de recursos humanos em vários setores da
empresa paulista. O espaço para o conhecimento filosófico, social e histórico
fica cada vez mais reduzido. São Paulo está na contra marcha do que estabelece
as Diretrizes e Bases da Educação. Nas últimas semanas o governo estadual
suprimiu Filosofia, História e Ciências Sociais do currículo da Escola de Tempo
Integral paulista.
O
profissional da educação da rede estadual de São Paulo, em sua maioria, lê
muito pouco e raramente vai a museus, não frequenta teatros, são despolitizados
e não refletem sobre o papel da escola. A consequência disso é a sua
resistência a mudanças e, sobretudo, o prevalecimento de uma ótica conservadora
entre os educadores paulistas. Como os educadores não abrem os seus horizontes
intelectuais, não se colocam no papel de agente da mudança, ele se recrudesce e
passa a reafirmar velhos hábitos, antigos preconceitos, torna-se um cumpridor
de tarefas incapaz de questionar o mundo que o cerca.
Isso nos
faz compreender por que em uma escola estadual do interior de São Paulo a
direção colocou câmeras de segurança nas salas de aula. Certamente os educadores
nunca leram o livro 1984 de George Orwell que conta a história de uma sociedade
vigiada por câmeras, onde as pessoas não possuem o direito a privacidade e a
intimidade, uma sociedade controlada, em constante guerra, onde o Estado
controla o povo através do medo e onde pensar é um crime grave. Em casos como o
dessa escola que chegou a colocar câmeras na sala de aula, a posição passiva
dos professores é uma séria omissão profissional. Os professores deveriam
rejeitar essa medida e reivindicar a autonomia profissional do professor, a
liberdade de sua atuação profissional como um ser pensante e formador de seres
pensantes.
Estamos
inevitavelmente assistindo a morte da política em seu sentido público e a
constituição da "política" da empresa, afinal perde-se a visão de
conjunto de realidades e relações, a ausência da ética e do altruísmo e o
prevalecimento da competição e individualismo. Isso explicaria a falta de
solidariedade entre os profissionais da educação. A escola passa por um
desmonte intelectual e a grande ameaça é a de que se torne um campo de
treinamento, onde se cumpre apenas tarefas pré-estabelecidas pelas empresas,
lugar onde não se valorizará o pensamento, um lugar onde nada realmente de novo
poderá nascer e florescer.
Referência bibliográfica:
SANTOS.
Milton. Por uma outra globalização:
do pensamento único à consciência universal. 21a. Edição - Rio de Janeiro:
Record, 2011.
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