LITERATURA: O homem de Nuremberg

         Escrito por Samuel de Jesus no segundo semestre de 2010.

         

          PRIMEIRA PARTE

        Ao pisar em terras brasileiras, Günther  nunca sentira um calor tão forte. Estava embaixo de um sol radiante do meio-dia. No bolso do paletó  tinha um papel amassado com o endereço. Nuremberg tinha ficado para trás, a Alemanha uma triste recordação, Berlin desfigurada pela força das bombas russas. Seu mundo estava destroçado em ruínas.
Escapara, por hora, da caça às bruxas. Tinha plena consciência dos seus atos, mas fugia por instinto de sobrevivência, apesar de tudo era um homem e como todo homem com seus instintos e medo da morte. O Brasil não era o mesmo de antes, daqueles anos felizes em que viveram em Blumenau. Dr. Hans fugira com eles para o Brasil em 1916 durante a Grande Guerra, ficaram no Brasil cinco longos anos e voltaram em 1921 para reconstruir a pátria alemã no pós-guerra.
Poderia ter ido para Blumenau, mas não sabia qual seria a reação de seus tios por parte de mãe, sobretudo não poderia arriscar. A única pessoa que poderia lhe estender a mão era o seu irmão gêmeo Hermann, pois mesmo separados pela guerra, poderia acolhe-lo, embora fosse um intelectual democrata. Tinha a certeza que as ideologias não o separariam. Hermann era um intelectual da estirpe de Theodor Adorno, Thomas Mann, intelectual liberal e que cerrou fileiras contra o nazismo. Seus livros em meio a tantos outros foram queimados em praça pública. 
Nos anos 20 Günter e Hermann moravam ainda com o pai em Nuremberg, havia divergências acaloradas entre os dois, coisas de jovens com o tempo as coisas ficaram mais sérias. Seu pai, Dr. Hans como homem e como médico orgulhava-se pelo fato de Günther ter seguido a sua profissão, embora sua adesão aos nazistas era um dissabor. Nesses tempos ninguém sabia o que exatamente era esse partido. Hans sempre lhes ensinou que os laços familiares deveriam ser mais fortes que as ideologias. Sempre contava que a fraternidade entre consangüíneos foi decisivo para sobreviver à guerra chamada aqui no Brasil de Franco-Prussiana. Seu irmão correra de Berlin a Nuremberg em meio às bombas e os destroços tentando tirar seu irmão mais novo, Hans, do internato. Juntos passaram frio, sobreviveram aos tiros as bombas, a fome, ao ódio, se alimentaram até dos ratos que caçavam.  Para Dr. Hans a família era forte, mais que qualquer outra coisa no mundo.
No enterro do Dr. Hans eles se encontraram depois de um longo tempo, sentiram a mesma dor. Cresceram sem a mãe querida que morrera no parto deles. A morte os reunia mais uma vez.
No dia anterior à Noite dos Cristais, ele mesmo, Günther, seqüestrou o irmão e o mandou em um navio que partira naquela noite para Londres. Deixara no bolso do irmão um recado:

        Caro irmão

Quando estiver lendo esta carta, Berlin já não será a mesma. Nossos sonhos - os do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães - estarão ganhando dimensões decisivas. Mandei-o para Londres de forma tão abrupta, pois não poderia revelar a você o que estaria para acontecer e se soubesse, o que não poderia saber, teria eu cometido dois erros, trairia o Füher e você não iria embora de nossa pátria. Sendo, sobretudo fiel aos ensinamentos de nosso pai, aquele que dizia que deveríamos sempre nos proteger, mandei-o, dessa forma para a Inglaterra. Passado o tempo, saberá que fui realmente seu irmão ao fazer isso. Sabe!! Mesmo o Fuher sendo quem é, ele não está acima de nosso pai. 

        Günther
   

Em Londres Hermann pediu asilo político e como era um escritor prodígio, muito lido na Inglaterra, sobretudo o fato de ter ido várias vezes participar de encontros e palestras e de ser conhecido pela intelectualidade inglesa recebeu acolhida sem muitas dificuldades. Passou a trabalhar em jornais britânicos e começou a alertar a Europa da ameaça que representava o nazismo. Inicialmente seus artigos pareciam um pouco deslocados, espécie de teoria da conspiração, afinal nesse tempo ninguém calculava o que poderia acontecer, antes que seus textos contra o hitlerismo ganhassem o devido reconhecimento, resolveu fazer as malas e passar férias no Brasil. Foi nesse momento em 1942 que Londres foi bombardeada. Do outro lado do Canal da Mancha os alemães passaram a bombardear Londres noite e dia.
Avaliou que teve sorte de estar em férias no Brasil e seria arriscado voltar, pois era alemão, afinal a Inglaterra não era sua pátria. Conhecia o Brasil pois vivera aqui alguns anos de sua vida. Era um momento em que o governo brasileiro de Vargas não tinha se alinhado aos Estados Unidos e nutria simpatia pelos alemães e seu regime político. Estabeleceu-se em São Paulo, conheceu Mario e Oswald de Andrade e a maioria dos modernistas. Conseguiu emprego no jornal O Estado de S. Paulo. Aprimorou o português que não falava desde a infância. No Brasil não estava longe de formas de governo totalitárias. Durante o Estado Novo passou a não escrever nada sobre política, afinal era um estrangeiro em terra estrangeira e sobretudo temia uma possível deportação para a Alemanha. 
Foram anos bem tranqüilos, ia da casa para o trabalho e do trabalho para casa lia e escrevia. Ultimamente com a vitória dos aliados e a deposição de Vargas estava mais animado com as possibilidades de democracia no Brasil, era o momento  da Constituinte Brasileira, sobretudo, o Partido Comunista tinha eleito uma bancada inteira de deputados federais e inclusive um senador, Luis Carlos Prestes. Era um respiro de democracia que duraria pouco, mais ou menos um ano e meio. 
Hermann começara a escrever um novo livro. Naquela manhã acordou bem cedo pegou o jornal que estava no alpendre, não o abriu e foi fazer um café. Depois leu as últimas notícias e foi para a escrivaninha, sentado em frente da máquina de escrever teclou as primeiras letras. De repente uma dor insuportável no peito, uma dormência, perdeu os sentidos e caiu por sobre a máquina. Ele não tinha ninguém para socorrê-lo, pois não era casado e não tinha filhos,  era sábado de manhã e não tinha que ir para o jornal, não esperava nenhuma visita e tinha pouco contato com a vizinhança. Muitas vezes ficava o final de semana inteiro em casa. Despedira da vida de forma tão abrupta como a partida involuntária da Alemanha, mas deixou sua obra que ainda não havia sido publicada no Brasil. 
Se o infarto ocorresse no dia seguinte teria um dia para ver seu irmão que há quase uma década não via, mas o destino o privou de um impasse. Apesar dos ensinamentos de seu pai. Como abrigar um monstro em casa, como esconder da justiça quem contribuiu para tamanho morticínio ? Pois ele mesmo, Hermann estava ainda atônito, pasmo com a capacidade dos nazistas em eliminar sistematicamente “inválidos“, Judeus e tantos outros considerados por eles inferiores. Em carta escrita antes do final da guerra, Hermann perguntava como estava o irmão e também dizia que estava bem, contou que estava no Brasil e não em Londres e que assim que a guerra terminasse esperava receber o irmão no Brasil, mas Hermann não poderia saber que seu irmão tinha ocupado papel tão relevante em um matadouro de gente, sobretudo a extinção de um povo considerado por Hitler como ratos. Perguntava-se como seu irmão educado sobre princípios cristãos por seu pai poderia ir tão longe.

-

O Chofer de taxi levou Günther ao endereço que estava naquele papel, pagou a corrida, apertou a campanhia que ficava do lado do portão e ficou esperando, mas ninguém saiu, apertou mais duas vezes, mas não queria chamar a atenção da vizinhança, foi até o portão da garagem e verificou que estava só encostado. Naqueles tempos São Paulo não tinha tanta violência, entrar e deixar o portão só encostado durante o dia era algo corriqueiro. Entrou e foi bater na porta dos fundos, chamou por Hermann e não escutou nem uma resposta. Foi até a maçaneta e como a porta também não estava trancada entrou chamando pelo irmão e de repente se assustou com o homem, inconsciente, debruçado sobre a máquina de escrever. Era seu irmão!! Correu com a intenção de socorrê-lo, procurou seu pulso e nada, a vida já não se encontrava naquele corpo de forma definitiva e começou a chorar como uma criança, chorava...chorava.... Ficou ali ajoelhado chorando compulsivamente como se estivesse como réu em um tribunal de justiça recebendo a sentença, mas aquela era divina e não a dos homens. 
De repente a campanhia toca - justo agora?!! O que eu faço?! Poderia simplesmente não ter atendido, mas o medo é uma coisa que assola todos os viventes. Embora nervoso agiu racionalmente, pois se não atendesse poderiam entrar como entrou na casa e se entrassem se deparariam com aquela cena. Pensou na única coisa que lhe veio a mente em um momento de desespero, passar-se por Hermann.
Olhou pela fresta da porta e seus olhos viram uma bela jovem de seus 18 a 19 anos que carregava uma cesta coberta com um pano branco. Quando ele viu o homem por entre a fresta, perguntou:

- Olá senhor!! Quer comprar verduras frescas hoje?

  Ele não entendeu nada, pois a moça tinha a voz bem fininha, bem apagadinha para uma vendedora e fazia muito tempo que não escutava nem falava nada em português. Pensou em responder, mas achou melhor fazer um gesto negativo com as mãos, mostrando que não lhe interessava. Isso bastou, a moça agradeceu e seguiu adiante.


         - Que alívio!! 


        Voltou para a sala de estar com a saída perfeita. Passaria agora a ocupar a identidade do irmão. A morte pela terceira vez os reuniria, agora em um só. Teria Günther que carregar a identidade do irmão sem revelar a sua. Estranho !!, Eram dois homens em um mesmo corpo e uma mesma mente.
Günther imediatamente procurou a agenda de Hermann. Na agenda estava escrito:

Segunda - Feira, 28 de setembro 

8:00 ir ao sapateiro
8:30  Ir ao jornal.
12:00 almoçar com Mário e após entrevistá-lo
14:00 fechar a matéria  
20:00 Ir a sede do Clube Germânia.  
Procurou pela reportagem incompleta ou alguma coisa que pudesse indicar os rumos desse trabalho, pois sabia que o irmão sempre foi muito organizado com suas coisas. Pelo que leu na agenda, a reportagem estava ainda sendo feita. Procurou aqui e ali e não demorou para encontrar o roteiro com os passos para a elaboração da reportagem. Nele, dava a entender que o irmão estava fazendo uma matéria sobre Mario de Andrade e a importância do Modernismo Brasileiro. Perguntou-se: - Como será esse Modernismo Brasileiro? Quais os seus pressupostos? Quem saberia responder? 
Segunda cedo saiu às ruas e se impressionou com aquele tipo de gente de uma pele escura, para ele, muito mais feios que os judeus. Certamente era o Brasil uma terra de gente negra, de uma cor que ele ainda não tinha visto, pois em Blumenau todos pelo menos eram parecidos com ele. O Brasil de acordo com sua visão nazista era um país certamente inferior. Se tivessem ganhado a guerra deveria manter essa terra distante da Alemanha. Deveria ser feito uma espécie de cinturão. Sobretudo o que mais o chocou é que esse povo organizou a sua sociedade como a alemã. 

- Onde seria esse sapateiro? 

Então resolveu não complicar-se e simplificar, não passaria nesse sapateiro. Perguntou aqui e ali onde ficava o jornal, chegou lá um pouco atrasado e logo que entrou já foi reconhecido pelo porteiro.

        - Olá Sr. Hermann! 


      Então acenou positivamente. Ao subir as escadas um moleque o acompanhou carregando um pacote fechado. Deveria ser uma espécie de faz tudo comum nas repartições e empresas de escritórios. Quando chegou a redação pensou qual seria o local de trabalho do Hermann. Certamente, não poderia perguntar onde ficava sua mesa, então foi perspicaz, pediu para o moleque que imaginou ser um faz-tudo, com o seu português sofrível, que levasse o café para sua mesa, pois ia ao banheiro. Ficou na porta do banheiro disfarçadamente espiando a direção que o faz-tudo tomaria. Quando o jovem foi ao lugar de Hermann e deixou o café em cima da mesa, Günther já sabia para onde iria. Embrenhou no lugar de trabalho de Hermann e começou a bisbilhotar para tomar toda a informação sobre o trabalho do irmão. Em seguida o chefe de edição foi até lá e perguntou como estava a reportagem. Günther afirmou que iria almoçar com Mário de Andrade e que o texto já estava sendo redigido.
Resolver ligar para Mário para confirmar o almoço, a entrevista e também saber o lugar onde haviam combinado. Deu a desculpa de que perdera a agenda e que devido aos muitos compromissos não se lembrava. Mario afirmou que era em um restaurante perto do mercadão municipal, disse o nome. 
Quando chegou no restaurante Günther foi levado até a mesa pelo garçom e se deparou com o tal Mário notou que era um sujeito mestiço. O mestiço Mario já o esperava, levantou da mesa para cumprimentá-lo com um aperto de mão, a igualdade entre eles foi uma sensação estranha, impensável na Alemanha, então os dois se sentaram. Mario perguntou:

-  De que região da Alemanha ele vinha.

Respondeu Günther com um sotaque muito forte.

-  De Nuremberg  

-  E agora passando a guerra pretende voltar para lá?

- Seria importante, mas a Alemanha certamente esta enfrentando um período muito difícil, pretendo ficar no Brasil um tempo ainda.

- Bom, mas o entrevistado aqui serei eu, não?!!

- Sim. Então aproveito para perguntar. O que é modernismo brasileiro?

- Bom, basicamente eu te diria que trata-se de uma nova estética nas artes brasileiras rompendo com o padrão estético francês que envolve Literatura, Artes Plásticas, pintura e esculturas, música. Retratamos o povo brasileiro e tudo que o envolve como a miséria, exploração, por exemplo eu procuro retratar o caráter do brasileiro através de um estória minha chamada Macunaíma, uma espécie de anti-herói preguiçoso e cheio de artimanhas, assim como o brasileiro. É uma critica, você entende, outro exemplo é o Di que retrata o Morro, a Favela, o carnaval. Anita retrata os operários de São Paulo. Retratamos a mestiçagem, o negro, caboclo, o sertanejo do interior do Brasil, assim como o camponês alemão da zovellrein. 

- Mas uma arte que retrata classes inferiores como a do negro?

- Sim, combatemos essa visão preconceituosa.

- Isso foi provado cientificamente.

- Nós, vamos na contramão, formamos uma vanguarda.

- Gostei do fato de retratar os trabalhadores.

- Sim, Anita. Maravilhoso, não?!!

- Marrravilllhossso?!! O que isso quer dizer?

- Algo extraordinário, fora do comum, especial, especialíssimo!! Soube que na Alemanha é um grande escritor, tem livros publicados, uma grande mente.

- Podemos dizer que sim.

- Do que fala seus livros?

Günther pensou rápido. Disse de forma econômica, mas a contragosto.

- De tudo que se opõe ao Partido Nacional Socialista.

- É uma crítica?

- Podemos dizer que sim, mas me diga quando começou esse modernismo?

- Começou com a Semana de Arte Moderna de 1922, há 18 anos. Nossa!! Naqueles tempos nos vaiaram. Você acredita? Mas essa Semana mudou definitivamente a forma de se fazer arte no Brasil. Uma arte genuinamente brasileira.

Para Günther foi chocante tudo aquilo era como se os bárbaros aprendessem com eles e começassem a preparar sua própria civilização. O que pretendia Mário é a criação de uma sub-cultura que pretendia tomar conta da cultura genuinamente moderna, na verdade uma apropriação da cultura clássica dos gregos, Atenas o ideal de civilização Alemã. Que sonho lindo para ele, Lins seria a capital do novo mundo, após a segunda grande guerra, mas era um sonho de civilização que se foi. Para ele pretendiam os bárbaros fazer uma civilização à sua semelhança. - Meu Deus?!! Um germânico puro entre as bestas feras. Ele não compreendia por que Hermann tinha preferido esta terra à Alemanha e os nobres ideais do Füher.
No final da tarde encontrou a “civilização” no Clube Germânia, um a ilha, um pedacinho da pátria alemã em meio a terra de bárbaros. O clube fez com que ficasse mais próximo de sua pátria, assim pretendia mudar-se para perto do clube. Sentia-se livre, afinal poderia conversar sobre qualque assunto. Ali seria o seu Oasis no “deserto”. Os dias foram se passando  
------
Era cedo e os homens bateram na porta, Gunther ainda dormia. A primeira coisa foi colocar o par de óculos que estava sobre o criado-mudo e levantou-se procurando o sobretudo e foi rumo à porta da frente. Disse já se esquecendo de quem era.

- Bom dia! 

  Gunther apenas fez um gesto com a cabeça em sinal cumprimento, pois não podia ficar falando muito.

- Somos agentes da polícia e estamos procurando Hermann Wolfgang Platzer.

- Gunther ficou gélido, mas não perdeu o controle.

-Pois não!!

- Gostaríamos de perguntar se sabe o paradeiro de seu irmão chamado Gunther? 

-Certamente não senhor!!

- Desculpe-me a insistência, mas ele não tentou entrar em contato?

- Não.

  - O senhor se importaria se entrássemos para dar uma revista?

- Gunther na pele de Hermann fez sinal e hesitação e estava inda pálido, tomado por um pavor.

-Senhor Hermann certamente não está a par de nossos poderes. Podemos pedir ou entrar sem lhe pedir.

Gunther achou melhor não fazer alarde.

- Pois não!! Podem entrar senhores.

Um dos agentes foi revistar toda casa, mas o agente que havia se apresentado como Pereira ficou ali pela sala mesmo.  Foi até a biblioteca e procurou olhar os livros da biblioteca cheio de clássicos modernos tinha Platão, Homero, Sêneca, entre tantos outros, mas de repente deparou-se com um livro que embora estivesse escrito em Alemão tinha a foto do Fuher.

- Não adianta vocês alemães, todos vocês alemães são adeptos desse demônio.

Gunther tinha vontade de matá-lo por referir-se ao Fuher daquela maneira, mas ficou imóvel. Pensou que se aquele homem estivesse na Alemanha e falasse assim teria sacado sua arma e dado um tiro na sua cara e depois jogado seu corpo aos cães famintos para que o devorassem.

O agente ainda o provocou.

- Falo do seu líder e você não diz nada?

Continuou calado

- É, não quer falar nada, não? Mas você já disse com seu silêncio, mas não vamos levá-lo não! Pois não temos nada haver com esse cão chamado Hitler. Lá os Europeus se te pegassem com esse livro que deve ter sido escrito por esse Satanás, aí sim. Haaa...!! Estaria mau.
Pereira perguntou para seu ajudante.

- E aí Cido nada? Né?

- Nada.

- Então está bem! Fala pro seu irmão se ele aparecer que os americanos estão procurando ele e voltaremos para pegá-lo.

Pereira estava já saindo percorrendo os olhos pela sala e algo chamou sua atenção.
- Que é isso?

Viu um porta-retrato com a foto de Günter e Hermann adolescentes ainda em Nuremberg. 
- São gêmeos??!!!

E olhou para Gunther espantado. Parecia que muitas coisas passavam por sua mente. Teria ele descoberto tudo? Perguntou-se, mas Pereira não lhe disse mais nem uma palavra, virou as costas e foi embora.

Certamente foi uma manhã intrigante.

Pereira disse para Cido depois.

- Já pensou? Os dois poderiam trocar.

Cido respondeu.

- Poderia ser.  Já pensou?

- É! Vamos verificar.

- Como?

- Podemos ver se algum Hermann saiu do país. 

Mais tarde Pereira verificou se havia saído do país algum Hermann. A resposta foi não, assim achou que foi besteira, mas que poderia, claro! Poderia ser.
Resolveu deixar para lá. Depois retornou aos americanos dizendo que até aquele momento nada, nem um Gunther entrou no país.
---------------
Era noite e se perdeu na biblioteca do irmão a ler os livros. Na Alemanha o Fuher proibira os livros entre a população. Os livros somente eram permitidos para aqueles membros do partido responsável por pensar as coisas. Na Alemanha Dr. Gunther desenvolvia estudos para uma tese sobre o branqueamento, resultado dos contatos com membros da comunidade alemã radicada no Brasil simpatizantes da tese da pureza racial aos quais lamentava não poder contar naquele momento. Considerava sua visão humanística para os padrões do nazismo. Quando descobrisse os métodos do branqueamento não seria mais preciso os fornos crematórios e nem os chuveiros de cianureto. Claro!! Para ele, aquilo tudo era um paliativo cruel, porém necessário. Queria fazer uma revolução! Sua tese representava uma nova etapa no alcance da pureza racial. Leu muito o conde de Gobineau, sem dúvida, para ele, um grande estudioso da Eugenia. 
Na biblioteca de Hermann havia uma prateleira inteira com livros classificados na estante como literatura brasileira. Um dos primeiros livros foi O Cortiço de Aluisio de Azevedo. Impressionou-se com o fato de um simples comerciante pudesse chegar ao status de nobre ascendendo à Corte brasileira pelo fato de ter se tornado um burguês. Ao ler Os Bruzundangas começou a entender como as coisas funcionavam no Brasil em termos de política. Percebeu ali comportamentos, formas de agir que não permitiriam ao Brasil alcançar o patamar da Alemanha. Ao terminar O Triste Fim de Policarpo Quaresma pensou que Policarpo era um nacionalista, mas que estava errado por querer fazer com que o Brasil adotasse a língua dos indígenas, encontrou um livro que falava sobre Hans Staden um alemão que viveu entre os indígenas do Brasil há séculos atrás.
Por meio da Literatura Brasileira conhecia mais um pouco daquele lugar. 

------------

Nos dias que se seguiam foi escrevendo um diário, na verdade era o seu confessionário. Poderia desabafar, escrevia sobre seu dia antes de dormir, muitas vezes escrevia coisas que ele não tinha coragem de dizer para si mesmo. Sua solidão era muito grande e seu mundo acabara subitamente, antes estava se sentindo confortavelmente seguro, pois imaginava que encontrara o disfarce perfeito, mas aquele lance em que o agente olhara para a foto na parede e constatava que ele e seu irmão eram gêmeos. Perguntava-se o que passara pela mente daquele agente? Seu olhar mostrava espanto. O que ele poderia fazer a respeito? Mesmo se desconfiasse, como provaria?
Todos os dias escrevia no diário, aproximadamente uma hora, escrevia sobre a tristeza da perda de seu irmão, sobre como escapou do cerco e como se sentia por ser caçado como um animal, sobre o sonho de que um dia seu mundo pudesse ser recomposto, muito embora a realidade apresentasse evidência de que seria improvável. Aquele mundo que o cercava ganhou e o mundo então, para ele, estava ameaçado de degenerar-se. Era assim que pensava. Cada vez mais recôndito no lar de seu querido irmão Hermann e em seu corpo, cercado de seus livros e de seu estilo de vida. Günther estava preso de uma forma ou de outra se considerarmos que o indivíduo só vive quando pensa e não só, mas quando externa seus pensamentos e toma atitudes para transformar suas idéias em coisas factíveis. 
Particularmente naqueles dias estava abalado, após as notícias sobre a criação do Estado de Israel. O Sionismo estava vitorioso e para ele isso era algo impensável.O mundo ficava muito pequeno para ele. Todos os dias do jornal para casa de casa para o jornal. O pior. Para manter disfarce tinha que escrever como um liberal era o que esperavam de Hermann, pois Hermann representava para a democracia o alemão que se opôs ao nazismo. Isso talvez fosse uma bandeira que Hermann fazia questão de deixar hasteada bem no alto da colina, pois talvez pensasse na Alemanha do Pós-Guerra. Hermann em seus últimos escritos encontrados por Günther, mostrava sua desaprovação da divisão da Alemanha em fatias. Se vivesse seria uma das vozes que defenderiam a unificação da Alemanha. Há poucos os alemães haviam sido derrotados e uma nova guerra começara, mas fria.
Preso ao corpo de Hermann o grande disfarce era escrever coisas que Günther escrevia ou escreveria, assim deveria entender como pensava um democrata. A melhor dica era a sua biblioteca. Mergulhou fundo em seus livros. O democrata era aquele que imaginava que não deveria prevalecer uma só tese, mas várias, mas entre elas deveria existir o consenso, ou seja um fio condutor que reunisse um ponto em comum entre elas. Inicialmente Günther pensou que isso seria difícil, afinal como fazer com que todos concordem, é preciso uma pulso forte, embora tivesse entendido que na democracia o líder é aquele que consegue uma coalisão, o estadista, mas pela persuasão e não pela força. Passou a entender como se constituía a hegemonia, ou seja para determinado grupo político tenha a hegemonia é necessário o reconhecimento de sua liderança, mas ao mesmo tempo que esse grupo esteja revestido de um caráter coletivo e que seja aceito. Tal como uma pacto. Entendeu que esse exemplo servia para a política em geral seja a democrática, seja totalitária.

--------------

Já era noite quando Günther chegara do jornal, entrou em casa normalmente e foi direto tomar banho. Antes de dormir procurou sua agenda e para sua surpresa não a encontrou. Um desespero tomou conta dele como se o seu mundo estivesse se decompondo, fragmentando-se em cacos. E agora? Era absoluta a certeza que tinha guardado-a no lugar secretissimo. Quem havia entrado em sua casa de forma inexplicável e subtraído seus segredos contidos naqueles papeis manuscritos? Ao que sabia somente ele tinha a chave, mas teria Hermann passado a chave para alguém? mas como? Alguém tinha informações sobre ele e seu disfarce. Poderia ser o agente da Polícia ou que mais poderia? Estava, ali, sem poder fazer nada. Inerte, a espera do pior, sobretudo perdera o controle da situação.
Ficou como um barco à deriva prestes a bater nas pedras. Pensou para onde iria, o que faria. Alguém sabia quem era ele e o que fizera na vida. Ele não sabia se ia embora imediatamente ou se esperava. Será que ele mesmo colocou em outro lugar e não se lembrava, pois afinal a casa estava trancada. Revirou a cada procurou em cada canto, mas nada. Como poderia?
Na manhã seguinte alguém tocara a campanhia. Quem seria? Seria a pessoa que pegou a sua agenda, seria os agentes do governo que vinham prende-lo? Abriu a porta e encontrou uma jovem com seu diário na mão. Aquela jovem que vendia verduras. Tinha uma expressão assustada, mas antes que Gunther dissesse alguma coisa, ela lhe deu a agenda e foi dizendo....

- Isto é seu Sr. Gunther. Pensei que fosse algo para mim senhor. 

Gunther se perguntou o que era aquilo tudo? Como assim? Como a menina entra na casa, perguntou:

- Você tem a chave da casa? 

- Sim.

- Por favor! Entre.

Günter e a a menina se sentaram nos sofá da sala que ficavam um de frente para o outro, ideal para uma boa conversa. A primeira pergunta foi:

- Por que tem a chave?

- Eu e o senhor Hermann éramos amigos.

- Como assim? Aquele dia você perguntou se queria comprar verduras, não me pareceu que tinham amizade.

- Era sempre a primeira coisa que perguntava. Ele dizia sim e eu entrava. Quando viajava eu arrumava a casa. Ele sempre deixava o pagamento escondido no lugar em que achei a sua agenda, muitas vezes deixava também presentinhos. 

- Você leu a agenda?

-Sim.

-Leu até que ponto?

-Só o começo, mas o suficiente para saber que o senhor chama-se Gunther, é mais velho do querido Sr. Hermann.

- Eu e o Sr. Hermann conversávamos toda a semana, mas há pelo menos três semanas esteve afastado, pensei que o Sr. era ele. Achava que estava me evitando, não queria mais conversar comigo, mas precisava ter a certeza. Estava insegura, pois também não tinha me pedido a chave. Se não queria conversar mais comigo por que não tinha pedido a chave? Então entrei para ver se não teria algum presentinho no esconderijo, então encontrei a agenda. 

- Qual é o seu nome?

- Cassandra. 

- Cassandra. Embora eu e meu irmão estivéssemos de lados opostos tínhamos um mesmo pai que nos ensinou a amizade. 

- Já tenho saudades do Sr. Hermann. Nunca mais irei vê-lo.

Cassandra lamentou e disse adeus!! Saiu da casa com lágrimas nos olhos. Isto era algo muito duro para ela. Os dias que passava na casa de Hermann acalentavam seu coração. Ela não tinha mãe nem irmãos. Seu pai quando não estava trabalhando vivia pelos bares e quando chegava em casa dormia, dormia... Cultivar as verduras e hortaliças foi uma maneira de ocupar o tempo. Uma vez por semana, nos dias em que Hermann estava em casa, terminava as tarefas e ia para a casa dele. Essas tardes eram um acalento, perguntava para ele como era o mundo que ela não conhecia, perguntava sobre a sua família. Ajudava Hermann a cuidar da pequena estufa de flores que imagina estarem morrendo. Era preciso cuidar disso. Esqueceu de perguntar, mas voltaria depois que o seu coração estivesse mais calmo. 
Günther deu um suspiro de alívio. Ficou alegre por estar tudo bem, mas que apuro! Sentiu confiança na menina que certamente nada contaria, afinal ela tinha revelado a ele o seu segredo que certamente não tinha contado a mais ninguém. 

------------

No final da tarde lá estava Cassandra batendo na sua porta.

- Olá Sr. Gunther! Posso entrar?

- Sim.

- Vim saber se o senhor está regando as plantas.

- Sim, mas ando descuidado ultimamente.

- é que eu o Sr. Hermann cuidávamos das flores. 

- Cassandra, você poderia fazer isso, pois não tenho paciência e não entendo muito.

- Claro! Eu gostaria muito. Virei sempre pelas manhãs cuidar delas. A cada três dias.
- Que bom!! 

- Agora preciso ver como elas estão lá no fundo.

- Pode ir.

Cassandra gastou pelo menos, uma hora, lá no fundo, aguando, reforçando o adubo e depois voltou pedindo uma toalha para lavar as mãos.

- Sr. Gunther uma toalha, por favor!

Gunther interrompeu a leitura do jornal e foi pegar a toalha. Foi somente nessa hora que reparou o quanto era bonita a jovem que estava ali na sua frente, olhou-a com ternura, mas voltou a leitura do jornal, pois o assunto lhe interessava. Para Cassandra o fato de Gunther se parecer com Hermann lhe dava a impressão de que seu querido pudesse não ter partido. Ás vezes esquecia. O  português de Gunther tinha melhorado visivelmente naquelas semanas tanto a leitura quanto a fala. Engraçado, voltou a falar rapidamente. Desde criança sabia, mas as palavras ultimamente iam brotando sem parar.
A cada três dias Cassandra aparecia para cuidar das plantas. Achava que isso era bom, pois casa ficava movimentada e tinha com que conversar. Pediu que ela ficasse com a chave e disse podia entrar sem autorização. Embora seu querido Hermann a tivesse deixado nesta vida, Gunther poderia ser um amigo, poderia ocupar o seu lugar aos pouquinhos, quem sabe. Cuidar das flores era para Cassandra uma forma de manter seu vínculo com Hermann. Ao cuidar das flores estava preservando a sua memória e isso dava forças para prosseguir frente as dificuldades e os problemas dessa vida.
Gunther de fato não sabia até que ponto do diário Cassandra tinha lido. O fato é que ao Cassandra saber de suas angustias, aflições, ela se tornava uma pessoa íntima. Finalmente encontrara nos trópicos alguém para compartilhar seus segredos. Diante dela ele poderia ser quem era, sem disfarces. Pensava que ela pudesse não ter lido as passagens dos diário em escreveu sobre seus traumas e coisas que o atormentavam, lembranças do campo de concentração, o cheiro de morte que nunca esquecia, era como se estivesse impregnado nele. Uma certa tarde de domingo Gunther foi ajudar Cassandra com as flores ali na estufa começaram a conversar em meio ao trabalho e do nada refletiu
- Nunca imaginei que tivesse tantos horrores em uma guerra. O que aquelas pessoas fizeram para vocês?

Gunther, parou de repente e olhou para Cassandra assustado. Virou o rosto de lado, pensando como iria responder, então disse:

- Pensei nisso muitas e muitas vezes. Em uma guerra o homem mostra a sua face, lidamos e cometemos atitudes extremas, perdemos o controle. É como um sistema do qual você é compelido a cometer um massacre. Você que gosta tanto de ler já leu o livro O Médico e o Monstro. Um senhor que após uma experiência fez surgir o seu lado monstruoso. É mais ou menos isso.
Gunther definiu dessa maneira os motivos para o Holocausto. De fato era uma forma muito branda para definir coisas tão serias. 
Cassandra não perguntou, não disse mais nada 

---------------------

Em uma manhã chuvosa Cassandra não veio. Gunther achou estranho, pois tinham combinado comprar algumas sementes de gerânio, mas sabe como são os jovens, às vezes entusiasmam-se com alguma coisa e depois esquecem. Resolveu ficar por ali mesmo quem sabe mais tarde ela apareceria e de fato apareceu uma hora depois não conseguia encontrar seu pai. Gunther, então ajudou-a, foram aos hospitais e não demorou para que Cassandra recebesse a terrível notícia da morte de seu pai. Coitadinha duas perdas em um mês. A pobre menina estava desconsolada, era muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, duas perdas em um curto espaço de tempo. 
Gunther ajudou Cassandra a enterrar o pai, pois parecia, para ele, que não tinham nenhum parente próximo. Cassandra não poderia organizar os preparativos para o enterro, estava em estado de choque. A menina quase não conversava, fechou-se em copas. No velório estavam apenas os curiosos que não ficavam, faziam uma oração e iam embora. Cassandra estava ali muda, encolhidinha, não falava nem uma palavra. Gunther achava que ela naquele estado ficou sem avisar os amigos de trabalho ou os parentes mais distantes, mas isso não importava muito. O pai de Cassandra foi enterrado às cinco horas da tarde de forma solitária, não havia mais ninguém além de Günter e Cassandra, nem os amigos de bar.
Pensou como a morte é capaz de separar, mas ao mesmo tempo unir as pessoas. Que seria de Cassandra se o pai tivesse morrido e ele não estivesse ali para ajudar? Achou melhor levá-la para a casa de Hermann até que se recuperasse, talvez se, nos próximos dias, ela cuidasse das flores... Colocou-a na cama de Hermann e ele foi dormir no quarto de visitas. No dia seguinte, antes que Cassandra acordasse, apareceu com os gerânios. Ela, já estava desperta, mas ainda deitada. Ele sentou-se na ponta da cama e baixou a cabeça expressando lamento. Ela repentinamente levantou-se e foi em sua direção, abraçou forte como se o mundo quisesse levá-la. A impressão que ela tinha era a de que Hermann não havia ido embora, ela sempre fazia essa confusão, embora Gunther se parecesse muito com Hermann também na forma atenciosa e carinhosa como a tratava. Daí sempre a confusão. Era como se seu querido não tivesse ido embora de todo. Gunther, diferentemente de Hermann era mais reservado. 
Naqueles dias não conversaram muito, embora tivessem plantado os gerânios.  Ela, começou a organizar a casa. Talvez, mentalmente, ela tentava organizar sua vida em meio à tempestade. Ela estava ali sozinha e o mundo inteiro à sua frente prestes a devorá-la. Os dias foram passando e passando, pensou que certamente o tempo daria um jeito nas coisas. Esqueceu a horta e ficava horas na biblioteca, não lia sentada na mesa, levou para biblioteca o tapete grande. Era em cima desse tapete que ela fica sentada a ler e o que lia pequenos contos e histórias, algo que se identificasse. Ela já ficava à vontade na casa, afinal era de Hermann e não de Gunther, os dois eram usuários da casa.

----------------


CONTINUA.............

Foram tempos de grande satisfação, pois lá fora estava o mundo como um devorador, algo ameaçador para os dois. A casa de Hermann parecia um esconderijo confortável e quente. Eram tempos alegres e tranquilos. Passavam horas sobre as sombras das árvores do quintal, lendo algum livro ou em picnics e outras vezes utilizavam um tempo ainda maior com o jardim com as plantas que cresciam e ensaiavam as primeiras flores.  Para Cassandra Hermann ficava cada dia mais distante e Gunther mais presente. Ela de fato não se importava mais com os acontecimentos europeus que o fizeram aparecer e os reprovava inteiramente, mas o que importava era o fato de que o irmão de Hermann se revelava mais atencioso e carinhoso para com ela. A situação, em que ambos se encontravam, os unia inteiramente.
----------------------------------------------------
Gunther estava mais tempo em casa que no trabalho. Sempre utilizava a desculpa de estar em uma investigação jornalística. O tempo que passava com Cassandra o impedia de pensar em algo para apresentar ao seu editor-chefe. O trabalho evidentemente sofreu uma queda e seus superiores estavam prestes a perguntar o que estava acontecendo. Este perigo poderia gerar algumas suspeitas sobre o seu disfarce, até então, perfeito. Foi nestes dias que a preocupação de Gunther iria aumentar, pois voltara a receber na redação do jornal a visita dos investigadores do DOPS. Este fato o irritou muito e ele não disfarçou.
- Boa tarde Sr. Hermann ???
- Alguma notícia sobre meu irmão???
- Nem rastro, nem vestígio. Sabe...estava pensando se você não é Gunther disfarçado de Hermann, afinal...para mim vocês são a mesma coisa.
Neste momento Gunther gelou e dentro de si queria ofendê-lo e arrebentar sua cabeça com um tiro, porém visivelmente desconcertado optou por ironizar.
- Quem sabe? Não é mesmo?? A vida é cheia de surpresas e sorriu cinicamente.
Neste momento, o policial Pereira passou a ter a certeza de que se tratava de Gunther. Porém tinha apenas algumas peças do quebra-cabeças. Por exemplo, Hermann onde está? É conivente? Eles trocam de papéis? Porém não era simples a tarefa de Pereira, afinal poderiam achar que ele estava louco e sem juízo. Poderia torturá-lo para obter a resposta ou qualquer opção do tipo.
Gunther viu seu perfeito disfarce balançar e prestes a cair. Pensou que poderia matar Pereira, vontade não faltava e seria fácil fazer isto com aquele negro que considerava sujo, imundo e se perguntava que mundo era este onde um negro poderia encará-lo e ele ali não poder fazer nada. Queria matá-lo com crueldade extrema, mas seria isto possível? Estava desesperado, pois sua casa, seu recanto...o mundo estava prestes a invadi-lo.


                                

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

The political sins of Dilma.

Sobre o Acordo de Cooperação em Defesa entre Brasil e Estados Unidos.

O Campo #Cibernetico da Guerra e o Livro Branco de Defesa do Brasil