Algumas notas sobre o consumismo

Escrito por Samuel de Jesus em 2005.

      Aqui, direto do arquipélago Brasil e a nítida impressão de estar exilado dentro de sua própria pátria, pois afinal todos estão surdos e incompreensíveis e hoje descobri o valor do dinheiro, sem ele você não tem acesso nem ao cafezinho da manhã, forçosamente trouxe-me uma experiência sociológica e isso me faz compreender o fato de meus alunos não terem quinze reais para comprar um livro, embora tenha o sebo, literatura excelente a cinco reais, mas mesmo assim ainda não dá, mas me ocorre que os seus celulares são mais caros que os dos professores e ocorre-me agora também que talvez nem o pãozinho seja prioridade. Certa noite, ao passar por uma avenida movimentada em Franca (SP), vi alguns moradores de rua embaixo de uma fachada envolto aos cobertores, papelões e uma TV ligada e não me perguntem como fizeram para instalar a antena e arrumar uma tomada. É inacreditável, mas juro que vi. O Brasil é um país grotescamente surreal e o artista mais realista não é capaz de imaginar.
Essa geração anos 2000 é assustadora, pois não são como as pessoas acima de trinta anos, que pertencem a uma geração muito anterior a esta, as pessoas acima dos trinta cultuam a noção de preservação de sua vida e dos outros, mas essa geração abaixo dos 20 anos, não possui essa convicção que fora introduzida pelo cristianismo, não tem perspectiva de futuro algum, vivem o aqui e agora, talvez seja por isso que os educadores estão encontrando dificuldades na escola, não adianta criar leis mais duras ou aplicá-las e muito menos criar outras, pois essa geração é como os peixes que se debatem nas pedras que dizem: foda-se! Por outro lado 75% dos jovens estão desempregados, é altíssimo também o índice de assassinatos de jovens. É cada vez maior a exigência de consumo pelos meios de comunicação e a ilusão do consumo, a ideia de que ela trará a felicidade. Ter o celular da hora é mais importante que ter a comida na mesa, o prazer instantâneo e a ideia de que não há nada a perder.
Na verdade existe uma ditadura do consumo, quem não consome aquilo que o mercado exige está humilhado, mesmo o produto não valendo o quanto pesa. Na verdade vende a ilusão, aquele que questiona se o produto vale o que custa é considerado pão duro ou miserável. Se para um adulto é difícil resistir a essa pressão, imagine para um jovem inexperiente, imaturo que está apreendendo a viver e que principalmente não sabe o preço das coisas e o quanto custa.  As campanhas publicitárias passam a ideia que o modelo de consumo é o ideal e aquele que não consome será um eterno solitário. Só digo o seguinte, tomemos cuidado! Pois estamos criando aos poucos uma monstruosidade social e seus reflexos já podem ser sentidos no Brasil, mas para ser ainda mais objetivo, nos EUA, por exemplo, a ideia do loser ou perdedor, exerce uma pressão brutal no cidadão e os jovens são o lado mais fraco da corda que arrebenta sempre de uma forma dramática. Um país minado de jovens francos atiradores.
 

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