A Primavera Brasileira em Teoria.
Nas recentes manifestações para redução da
passagem de ônibus em SP e no Brasil termos como democracia e ditadura
foram utilizados para definir a ação policial violenta sobre os manifestantes.
Aqui uma breve definição conceitual. Segundo Rousseau a democracia se constitui
a partir da livre associação entre pessoas que formam uma comunidade por meio
de um pacto social. Esse pacto permite a delegação de poderes a um
representante e cabe a ele a este gerir a coisa publica. Estabelece-se o que
Rousseau chama de Liberdade condicional
“Encontrar uma forma de associação
que defenda e proteja a pessoa e os bens de cada associado com toda a força
comum, e pela qual cada um, unindo-se a todos, só obedece, contudo a si mesmo,
permanecendo assim tão livre quanto antes.” Esse é o problema fundamental cuja
solução o contrato social oferece. (ROUSSEAU, 1999, p. 70)
A sociedade que surge desse pacto social também chamado contrato social deve reunir os diversos
interesses das partes que o compõe, ou seja, deve consertar, com o objetivo de congregar
o todo. Rousseau afirma que o corpo político deve governar exclusivamente para
a manutenção da integridade do contrato social, pois do contrário seria a
destruição de seu poder.
Mas o corpo político ou o soberano,
existindo senão pela integridade do contrato, não pode obrigar-se, mesmo com
outrem, a nada que derrogue esse ato primitivo, como alienar a parte de si
mesmo ou submeter-se a outro soberano. Violar o ato pelo qual existe seria
destruir-se, e o que nada é nada produz. (ROUSSEAU, 1999, p. 74)
A
destruição do poder desse “soberano” ocorreria a partir da quebra do contrato
social quando este não reúne todos os interesses sociais em torno de si. O
governo Dilma não está respondendo às reivindicações dos movimentos sociais
brasileiros. São várias questões que se apresentaram ao governo e que não
obtiveram resposta ou foram tratados com indiferença governamental. Essas
reivindicações somadas fizeram transbordar o copo de paciência do povo que
chegou à conclusão de que este governo não os representa, sobretudo a conclusão
que defende seus próprios interesses, seus e de uma parcela minoritária da
sociedade, fundamental à manutenção de seu poder.
Não será bom que
aquele que faz as leis as execute, nem que o corpo do povo (o governo) desvie
sua atenção aos desígnios gerais para emprestá-la aos objetivos particulares.
Nada mais perigoso que a influência dos interesses privados nos negócios
públicos; o abuso da lei pelo governo é mal menor que a corrupção do
Legislador, consequência infalível dos desígnios particulares. (ROUSSEAU, 1999.
P. 149 e 150.)
Há
impasses institucionais criados pela inação do governo Dilma. Muitas questões
estão exigindo grandes respostas de seu governo. As lutas pela terra no Brasil
que resultam na morte de missionários, índios e pessoas engajadas na luta pela
terra, desalojamento violento de comunidades como a do Pinheirinho e da Aldeia
Maracanã, contestações à aprovação do código florestal, e o avanço da
construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, a manutenção e suporte a José
Sarney e a volta de Renan Calheiros, o fato do governo se encontrar refém da
bancada evangélica no Congresso Nacional que resultou na escolha de Feliciano
para a Comissão de Direitos Humanos, além disso, a aprovação da lei que decide
sobre a assistência às mulheres que praticaram o aborto, sobretudo a falência
do ensino público. Esse quadro se soma aos preparativos para a Copa do Mundo
que envolveu um investimento do Governo Federal da ordem de mais de cem bilhões
de reais. A Lei Geral da Copa passou por cima de leis nacionais como a que
proíbe a venda de bebidas alcoólicas nos estádios de futebol. A Copa do Mundo
realizada com dinheiro público e seus ingressos caríssimos e a corrupção na
construção dos estádios, por exemplo, o Tribunal de Contas da União obrigou a
devolução de mais de quatrocentos milhões de reais aos cofres públicos no caso
da Construção do estádio Mané Garrincha.
A
violência policial foi utilizada para reprimir as manifestações pelo passe
livre em São Paulo e no Brasil. Sobre esta questão Max Weber afirmou que o Estado consiste em relação de dominação do
homem sobre o homem com base na violência legítima, ou seja, uma violência
compreendida entre os limites estabelecidos pelo Estado e, é isso que dá
sentido ao termo “legitima”, ou seja, uma legitimidade que se baseia na
violência. Em nossos dias, a relação
entre Estado e a violência é praticamente íntima. Para Weber podemos encontrar a violência em
agrupamentos dos mais diversos, inclusive a família, mas apenas o Estado se transforma, portanto, na única
fonte de “direito” a violência. (WEBER, 1968, p.56)
A violência não é, evidentemente, o
único instrumento do qual se vale o Estado – não haja a respeito qualquer
dúvida – mas, é seu instrumento específico. Em nossos dias, a relação entre
Estado e violência é particularmente intima. Em todos os tempos agrupamentos
políticos mais diversos - a começar pela família – recorrem à violência física,
tendo-a como instrumento normal de poder. (WEBER, 1968, p. 56)
Dessa forma a ação policia medida ou desmedida é da natureza do Estado,
sobre isso não podemos nos iludir, pois a conformação estatal pressupõe segundo
Weber a violência, assim não se é de estranhar tamanha brutalidade contra o
povo.
Considerações finais
A teoria é importante para
pensarmos e não cometermos equívocos, a teoria é um bom antídoto também para
conter as ingenuidades. Rousseau faz pensar que o contrato social no Brasil
passa por uma crise e retira as ingenuidades sobre a ação policial, pois a violência
é um monopólio do Estado que desenvolve mecanismos de controle sobre o povo e a
violência é o seu instrumento mais extremo, percebendo a visão de Weber como
uma visão pragmática.
Bibliografia
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do Contrato Social. São Paulo: Nova Cultural, v.1,1999.
WEBER, M. Ciência e política: duas vocações. São Paulo: Cultrix,. 1968.
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