CRITICA AO CAPITALISMO TARDIO

    Escrito por Samuel de Jesus março de 2016

   A crítica ao capitalismo tardio se refere ao período de super acumulação do capitalismo que se inicia no pós Segunda Guerra Mundial e se encerra basicamente nos anos 70. Foram os 30 anos gloriosos. Este período é marcado pelas políticas keynesianas de gestão de mercado, período de pleno emprego e do Estado de Bem Estar Social. A sociedade do pós guerra é marcada pela solidariedade produtiva combinada com mercado de massa.

    As críticas em relação a este período se referem aos impactos negativos gerados ao meio ambiente com a utilização de clorofluorcarbonetos, resultante de um processo de desideologização que visa o estabelecimento de uma racionalidade técnica colocada acima das questões humanas. Hobsbawn (1995) se refere a este período de a "Era de ouro" do capitalismo monopolista, período em que os Estados Unidos e Europa Ocidental concentram três quartos da produção mundial. Neste período ocorre o que Hobsbawn também chama de "Democracia do Consumo". Com os salários valorizados, os trabalhadores tinham acesso ao mercado de consumo. O automóvel era o grande produto a ser consumido pelos trabalhadores que também tinham direito às férias e recursos para viajar.

    O surgimento do Welfare State é uma resposta ao crescente movimento dos trabalhadores que possuíam partidos e todo um círculo operário. Após 1947 temos um período de polarizações políticas e ideológicas, a chamada Guerra Fria (1947-1991), divisão do mundo em duas áreas de influências, uma pró-Washington e outra pró-Moscou.

   O Estado de Bem-Estar Social, o pleno emprego, os direitos trabalhistas e a democracia de mercado são medidas utilizadas pelos capitalistas monopolistas para exercerem o controle do processo produtivo e solucionarem a questão social. O Welfare State emergiu do New Deal que visava a reativação do processo produtivo e a formação de um mercado de consumo em massa. Isto foi possível graças à ação estatal, planejamento, aplicação de recursos, reorientação do sistema capitalista pelo sistema estatal.

   Mandel (1987) afirma que que neste período existe uma desideologização e entende este processo como parte de uma racionalização técnica que não considera os fatores humanos. A onipotência da tecnologia, sobretudo a crença de que as técnicas devem estar acima das grandes questões da humanidade. Segundo Hobsbawn (1995), a efervescência cultural dos anos 60 e 70, sobretudo a revolução estudantil de Paris em 1968, a reivindicação dos negros em relação aos Direitos Civis, a libertação feminina, assim como o movimento contra a Guerra do Vietnam terão profundos impactos, pois a combinação entre aumento da produção e aumento da mão-de-obra não contava mais com uma massa de operariados disciplinados. Para Hobsbawn (1995) a super acumulação tinha chegado à patamares insustentáveis.

    Em nossos dias, existe uma luta dentro das fronteiras do Estado-Nação pela manutenção dos direitos trabalhistas e acesso à assistência à saúde e direitos sociais como previdência social. Por outro lado, existe uma crescente corrente liberal que considera os direitos sociais nocivos ao desenvolvimento nacional, assim tentam suprimí-los.
     O Brasil é um país que possui uma série de políticas sociais muito características do welfare state como a a legislação trabalhista, CLT, o sistema previdenciário, o INSS e o sistema de atendimento à saúde, o SUS. Como no Brasil existem políticas de assistência social em vários estados-nações, mas que sofrem a resistência de setores liberais internacionalistas ou conservadores. Existe sempre um embate entre solidariedade x competitividade engendrado por grupos distintos, os nacionalistas desenvolvimentistas e os liberais internacionalistas (entreguistas). Parece-nos que estas duas vertentes existem há pelo menos 60 anos e são resultado da transição entre capital monopolista e do neoliberalismo.

Referências

HOBSBAWN, E. A Era dos Extremos. São Paulo.- Companhia das Letras, 1995.

Ernest Mandel: O Capitalismo Tardio. Nova Cultural. São Paulo. 1985