Brasil e a Integração Amazônica: sob a égide das confianças.
Samuel de Jesus*
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O Tratado de Cooperação Amazônica constitui importante fórum de discussões e solução de problemas, assim como a formulação de políticas conjuntas que pudessem fomentar o desenvolvimento Sul - Americano. As teses sobre a Amazônia, produzidas no Brasil, parecem não considerar a Amazônia como uma grande área de floresta pertencente a outros sete países do hemisfério sul. No Brasil, pela maneira como todos se reportam a Amazônia, tem-se a falsa impressão de que se trata de uma região unicamente brasileira. Isto não é uma coisa à toa, sem importância, mas reflete o pensamento do brasileiro sobre a Amazônia.
O Pacto amazônico Passou a existir durante o Regime Militar Brasileiro, mais precisamente na década de 70. Representava naquele momento uma recondução da política externa brasileira devido a fatores internos como a pobreza, a fome, a falência do sistema público e a dependência do sistema econômico internacional, além disso, a reduzida capacidade militar que impunha limite à ação militar direta das forças armadas brasileiras na América do Sul. Dessa forma a via da cooperação e da solução pacífica de conflitos era uma alternativa viável. Reunir os países amazônicos sobre a liderança “natural” do Brasil. Essa seria uma via para a construção da hegemonia Brasileira frente a seus vizinhos.
Antes do TCA, o governo militar já havia desenvolvido o Projeto RADAM (RADar da AMazônia), instalado em 1970 com o objetivo de realizar um levantamento dos recursos naturais de uma área de 1.500.000 km², entre as faixas da rodovia Transamazônica. Na década de 80, os militares desenvolveram o que ficou conhecido como Projeto Calha Norte (PCN) - abreviação de Desenvolvimento e Segurança da Região ao Norte das Calhas dos rios Solimões e Amazonas – o objetivo do PCN, segundo os militares, era dotar a região, compreendida entre a linha do rio Solimões e Amazonas e o traçado de fronteira entre o Oiapoque-AP e Tabatinga-AM, de uma infra-estrutura em transporte aéreo e terrestre complementar aos trechos fluviais, levando assistência em saúde e tornando presente o poder público na região.
Nos anos 90 é articulado e implantado o Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM) composto por uma estrutura de coordenação, integração de informações e ações entre as diversas instituições encarregadas das políticas para a Amazônia brasileira. O SIVAM (Sistema de Vigilância da Amazônia) é o seu braço operacional. Esse sistema viabilizaria e operacionalizaria informações que seriam repassadas para Brasília e dali para os ministérios, secretarias; estados e municípios. Recentemente, esforços dos governos brasileiros e peruano de estabelecer e compartilhar o sinal do SIVAM, gerados a partir de unidades de vigilância fixadas em áreas de fronteira ou próximas como Tabatinga no Brasil (cidade próxima a fronteira com Perú e Colômbia), é um passo importante na construção de confianças entre nossos vizinhos. O radar do SIVAM instalado em área de fronteira (como é o caso de Tabatinga-AM) captando informações em 360°, inevitavelmente violaria a soberania de Peru e Colômbia. Uma ação bilateral entre Peru e Brasil já está ocorrendo. Esse gesto demonstra a capacidade de entendimento e maturidade entre os dois países.
Hoje, oficialmente “removido” o entulho autoritário, passado mais de 20 anos do fenômeno político das ditaduras militares na América do Sul, o TCA deveria ser realmente o instrumento de integração. As afirmações sobre a importância do TCA para a integração Sul-Americana são baseadas nas teses de Enrique Amayo Zevallos que afirma ser a região amazônica uma área compartilhada. Entende que o rio Amazonas é um rio multinacional pelo fato de sua foz não estar localizada no Brasil. É preciso lembrar que antes de chegar ao Brasil o rio tem outros nomes, Uicaialy e Maranõn e que somente no Brasil é chamado rio Amazonas.
É necessária a percepção de que qualquer coisa que o Peru fizer em sua parte no rio Amazonas afetará o Brasil, pois o rio nasce lá e não aqui. Nesse sentido sua administração deveria ser integrada e sustentável. Isto pressupõe decisões multilaterais entre os países amazônicos. Toda política para Amazônia seria resultado de um consenso entre esses países. A visão que deveria prevalecer é a de nossa América, uma região com problemas comuns e cuja solução depende de uma ação governamental compartilhada. Hoje, a visão da defesa, segurança e desenvolvimento incorporada pelo povo brasileiro e que se origina dos círculos militares não ajuda, apenas gera desconfianças em um momento em que é necessário construir confianças.
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