O DESENCANTAMENTO DO MUNDO.
Escrito por Samuel de Jesus
junho e julho de 2013
Para Weber a racionalidade
formal é constituída pela calculabilidade e precadibilidade dos sistemas
jurídicos e econômicos. No campo das organizações a racionalidade formal se encontra no sistema contábil e burocrático,
pressupõe regras, hierarquia, especialização e treinamento. Diferentemente, a racionalidade substantiva se refere à
operacionalidade do sistema legal, econômico e administrativo.
A segunda distinção entre racionalidades se refere
aos meios finalísticos e valorativos que derivam do fato de existirem vários
tipos de ações e cada um desses tipos oferecem um grau maior ou menor de
racionalidade. Um comportamento racional não precisa necessariamente obedecer a
uma lógica finalística, assim poderão se caracterizar-se valor-racional sempre que seus meios sejam religiosos, morais,
éticos e não diretamente ligados à lógica formal, à ciência ou à eficiência
econômica. (THIRY-CHERQUES, 2001)
Uma simples olhada nas estatísticas ocupacionais
de qualquer país de composição religiosa mista
mostrará, com notável frequência, uma situação que muitas vezes provocou
discussões na imprensa e literatura católicas e nos congressos católicos,
principalmente na Alemanha: o fato que os homens de negócios e donos do
capital, assim como os trabalhadores mais especializados e o
pessoal mais habilitado técnica e comercialmente
das modernas empresas é predominantemente protestante. Este fato não se verifica apenas onde a diferença de religião
coincide com uma nacionalidade, e, portanto com seu desenvolvimento cultural,
como no caso da Alemanha oriental e da Polônia.
Observamos a mesma coisa onde se fez levantamentos de filiação religiosa, por
onde quer que o capitalismo, na época de sua grande expansão, pôde alterar a
distribuição social conforme suas necessidades e determinar a estrutura
ocupacional. Quanto maior foi a liberdade
de ação, mais claro o efeito apontado. (WEBER, p. 12).
O desencantamento do mundo se refere à dessacralização, assim como
o abandono do pensamento mágico como parte de um longo processo que culminou na
regulação da vida cotidiana e a consequente tensão entre a perda de liberdade
pela submissão aos valores mundanos e a responsabilidade e a convicção entre o
justo e o sagrado. A racionalização
pretende a conversão de um mundo encantado e mágico em um mundo de desencantos,
sem inconsistências lógicas. (THIRY-CHERQUES, 2001, p. 912)
A ética protestante e o espírito do capitalismo
relaciona o papel do protestantismo na formação do comportamento típico do
capitalismo ocidental moderno. Weber mostra que entre os adeptos da Reforma
Protestante estavam os grandes homens de negócios, assim estabelece conexões
entre a doutrina e pregação protestante e seus efeitos sobre o comportamento
dos indivíduos, sobretudo ao desenvolvimento capitalista.
O homem é dominado pela
geração de dinheiro, pela aquisição como propósito final da vida. A aquisição econômica
não mais está subordinada ao homem como um meio para a satisfação de suas necessidades
materiais. Essa inversão daquilo que chamamos de relação natural, tão irracional
de um ponto de vista ingênuo, é evidentemente um princípio guia do capitalismo,
tanto quanto soa estranha para todas as pessoas que não estão sob a influência
capitalista. Ela expressa ao mesmo tempo um
tipo de sentimento que está intimamente ligado com certas ideias religiosas. Se,
pois formularmos a pergunta por que devemos fazer dinheiro às custas dos
homens, o próprio Benjamin Franklin, embora não fosse um deísta convicto, responde em sua autobiografia com uma citação da
Bíblia que lhe fora inculcada pelo pai, rígido calvinista, em sua
juventude : “Vês um homem diligente em seus afazeres? Ele estará acima dos reis”. (Provérbios 22; 29). O ganho de dinheiro na moderna ordem econômica é, desde que
feito legalmente, o resultado e a expressão da virtude e da eficiência em certo caminho; e essas eficiência e virtude
são, como agora se tornou fácil dever, o alfa e o ômega da verdadeira ética de Franklin,
como foi expressa nos trechos citados, tanto
quanto em todos os seus escritos, sem exceção. verdade, essa ideia tão peculiar
do dever do indivíduo em relação à carreira, que nos é familiar atualmente, mas
na realidade tão pouco óbvia, é o que há de mais característico na ética social da cultura capitalista e, em certo sentido
constitui sua base fundamental. É uma obrigação que se supõe que o indivíduo
sinta, e desato sente, em relação ao conteúdo de sua atividade profissional,
não importa qual seja, particularmente se ela se manifesta como uma utilização de suas capacidades pessoais ou apenas
de suas posses materiais (capital). (WEBER, pp.21)
Os valores dos protestantes são a poupança, austeridade, vocação, o
dever e, sobretudo a propensão ao trabalho.
A aquisição capitalista aventureira tem sido
familiar em todos os tipos de sociedade econômica que conheceram o comércio com
o uso do dinheiro e que ofereciam oportunidades
mediante comenda, exploração de impostos, empréstimos de Estado, financiamento
de guerras, cortes ducais e cargos públicos. Do mesmo modo, a atitude interior do aventureiro, que zomba de qualquer
limitação ética, tem sido universal. (p. 23).
Weber e
o Estado
Max Weber afirmou que o
Estado consiste em relação de dominação do homem sobre o homem com base na
violência legítima, ou seja, uma violência compreendida entre os limites
estabelecidos pelo Estado e, é isso que dá sentido ao termo “legitima”, ou
seja, uma legitimidade que se baseia na violência. Em nossos dias, a relação entre
Estado e a violência é praticamente íntima. Para Weber podemos
encontrar a violência em agrupamentos dos mais diversos, inclusive a família,
mas apenas o Estado se
transforma, portanto, na única fonte de “direito” a violência.(WEBER, 1968,
p.56)
A
violência não é, evidentemente, o único instrumento do qual se vale o Estado –
não haja a respeito qualquer dúvida – mas, é seu instrumento específico. Em
nossos dias, a relação entre Estado e violência é particularmente intima. Em
todos os tempos agrupamentos políticos mais diversos - a começar pela família –
recorrem à violência física, tendo-a como instrumento normal de poder. (WEBER,
1968, p. 56)
Bibliografia
WEBER. Max, A ética protestante e o "espírito" do capitalismo. Traduzido por, José Marcos Mariani de Macedo. Editora, Companhia das Letras, 2004.
THIRY-CHERQUES. Hermano roberto, Max Weber: o processo de racionalização e o
desencantamento do trabalho nas organizações contemporâneas rap — rio de Janeiro 43(4):897-918, JUL./Ago. 2009
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