NOTÍCIAS DE #ANGOLA: as relações políticas entre Angola e Portugal segundo a imprensa portuguesa.
Samuel de Jesus
O ano de 2002 marca o fim da Guerra Civil em Angola. O domínio
português remonta ao século XV, mas foi entre 1886 e 1927 devido aos acordos
assinados entre França, Alemanha, Reino Unido e Bélgica, que Portugal definiu
as fronteiras atuais de Angola. O Governo Salazarista transforma Angola em
província em 1955. Passaram-se 20 anos até o reconhecimento de sua
independência, após a Revolução dos Cravos (1974). Anteriormente à
independência de Angola existiam três grupos que lutavam pela independência e
que se rivalizava em ataques mútuos. O MPLA (1956) cuja orientação ideológica é
o marxismo-leninismo e que tinha como liderança Agostinho Neto. O segundo era a
FLNA (1962) e a UNITA (1966) de caráter anticomunista sob a liderança de Jonas
Savimbi. Após a independência de Angola, esses três grupos iniciaram uma longa
guerra civil. No contexto da Guerra Fria (1947-1991), Angola foi dividida, ao
norte Agostinho Neto foi aclamado presidente da República Popular de Angola. No
sul a UNITA e setores da FNLA passaram a controlar o sul apoiados por nações
como os Estados Unidos.
O ano de 1976 marca a vitória do MPLA que tem seu governo reconhecido pela Organização da Unidade Africana (União Africana) e pela ONU. Recebe a oposição da África do Sul e Estados Unidos. A UNITA continua sua oposição armada que dura até 15.05.1991 quando é assinado o cessar-fogo entre o presidente José Eduardo dos Santos e Jonas Savimbi. Porém os conflitos cessaram somente após a morte de Savimbi. O conflito gerou mais de um milhão de mortos e mais de quatro milhões de refugiados. (Conheça a história e a evolução o política de Angola. In: Portal Terra. Disponível em: http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI3157193-EI294,00-Conheca+a+historia+e+a+evolucao+politica+de+Angola.html Extraído em 20.12.2015)
Neste presente artigo; reunimos notícias de jornais portugueses sobre a
conjuntura política angolana. Inicialmente, entendemos que existe uma forte
relação política entre estes dois países, pois o principal jornal angolano
acusa Portugal de interferência em assuntos internos da política de Angola.
Em artigo do Diário de Notícias de Portugal
intitulado A crise de Angola pode
provocar um “desastre político e social” observamos que existe um grande
interesse em Portugal sobre a vida política de Angola. O artigo inicia com a
seguinte afirmação do jornalista e ativista angolano Rafael Marques: "A situação económica vai agravar-se
porque Angola não produz nada. Angola vive de importações", diz Rafael
Marques, jornalista e ativista angolano. Marques prossegue dizendo que a
culpa é do presidente José Eduardo dos Santos não ter diversificado a economia
que é cada vez mais dependente do petróleo. Afirma ainda:
"Nós estamos a caminhar
para um desastre político e social, porque ao invés de o Presidente se abrir ao
diálogo e chamar outros setores da sociedade no sentido de encontrarmos
soluções comuns e inclusivas para se lidar com a crise, fecha-se cada vez
mais". (MARQUES, 2015).
Marques afirma que um dos problemas está na
dependência do petróleo.
A situação económica vai
agravar-se porque Angola não produz nada. Angola vive de importações. Como é
que o governo vai lidar com estas restrições, não tendo feito investimentos em
áreas básicas como na indústria alimentar? E porque é que não se fizeram
investimentos e não temos uma economia competitiva". (MARQUES, 2015).
Para Marques, uma dos problemas é a
corrupção que vem com a imposição de que todos os estrangeiros que pretenderam
fazer negócios com Angola deverão fazer negócios com a família do presidente.
Por exemplo: a Isabel dos
Santos (empresária, filha do Presidente angolano) vai fazer mais um
supermercado, Kopelipa (general Hélder Vieira Dias, ministro de Estado e chefe
da Casa de Segurança da Presidência da República angolana) também fez o seu
supermercado, mas depois todos os produtos que estão nesses supermercados são
importados de Portugal e de outras partes do mundo, exceto alguns vegetais. Mas
não há restrições económicas para estes indivíduos, há restrições na importação
por parte daqueles que têm menos poder e não para aqueles que têm muito
poder", acusa. (MARQUES, 2015)
Marques (2015) denuncia a vida luxuosa da
elite angolana e o gasto abusivo do dinheiro público.
"A elite continua a andar
de carros de luxo: às centenas. Continuam a verificar-se gastos supérfluos com
os fundos públicos. Não há nenhuma medida de racionalidade, exceto o aumento do
preço dos combustíveis que está a afetar os mais pobres", disse. (MARQUES,
2015)
Rafael Maques é autor do livro
"Diamantes de Sangue: Tortura e Corrupção em Angola". No livro relata
abusos cometidos por generais angolanos na província diamantífera angolana da
Luanda Norte.
Com a manchete Jornal de Angola volta a atacar Portugal o Diário de Notícias de
Portugal afirma que o diretor do jornal de Angola, Sr. José Ribeiro, utiliza do
termo ingerência portuguesa para se
referir a visita do diplomata português ao cidadão luso-angolano Luaty Beirão
que estava em greve de fome por mais de 30 dias e que é acusado de conspiração
contra o governo. Afirma também o editor do Jornal
Diário de Angola que o Governo José Eduardo Santos está certo ao encerrar a
parceria estratégica entre Angola e Portugal. Acusa ainda Francisco Pinto Balsemão, na comunicação social, e políticos como
Francisco Louçã de liderarem esta cruzada conta angola.
O
director do jornal defende que este episódio é mais uma prova de que o Governo
angolano estava certo ao cortar com a “parceria estratégica” entre os dois
países. José Ribeiro acusa ainda Francisco Pinto Balsemão, na comunicação
social, e políticos como Francisco Louçã de liderarem esta cruzada conta
angola. José Ribeiro acusa mesmo o antigo dirigente do Bloco de Esquerda de ter
protagonizado a maior falta de respeito a Eduardo dos Santos, mas agora ganhar
dinheiro em Angola. (ADAM, 2015)
O Jornal de
Angola continua as criticas em relação ao que considera interferência de
Portugal em assuntos políticos internos de Angola. O Diário de Notícias de
Portugal na seguinte manchete afirma: Jornal
de Angola denuncia campanha contra Luanda onde afirma que o referido
periódico angolano diz existir uma “campanha contra Angola” que está sendo
articulada em Portugal “ao mais alto nível”. O editorial do Jornal de Angola
menciona notícia vinculada no semanário Expresso de Portugal sobre a abertura, pela Procuradoria-Geral da
República de Angola, de uma investigação devido a indícios de fraude fiscal e lavagem
de dinheiro envolvendo o vice-presidente de Angola Sr. Manuel Vicente,
vice-presidente de Angola e o ministro de Estado, o general Hélder Vieira Dias
"Kopelipa" e outras autoridades. (Jornal de Angola denuncia campanha contra Luanda. In: Diário de Noticias Globo. Disponível em: http://www.dn.pt/portugal/interior/jornal-de-angola-denuncia-campanha-contra-luanda-2882313.html
Extraído em 2012.2015)
Segundo Machete (2015) Jornal de Angola ataca de novo “elites
portuguesas”, afirma:
O Jornal de Angola mantém
hoje o tom dos últimos dias e volta hoje a atacar, desta vez em editorial, as
"elites portugueses ignorantes e corruptas", exigindo reciprocidade
de tratamento. Sob o título "Reciprocidade", o editorial do
único diário de Angola, acusa as elites portuguesas de "teimarem em não
reconhecer" a representatividade de José Eduardo dos Santos e do partido
no poder desde a independência, Movimento Popular de Libertação em Angola
(MPLA).
Percebemos que a imprensa de Portugal
reproduz os ataques feitos pelo jornal angolano em relação às ações do Estado
português, em contrapartida os jornais portugueses são utilizados por setores
políticos de Portugal e opositores angolanos para criticarem o governo de
Angola. É importante observar a luta travada por setores jornalísticos.
Sobretudo percebemos como são fortes e ainda recentes as feridas do processo de
colonização, sobretudo o interesse dos portugueses (seja do governo, de setores
da imprensa e o público em geral) sobre a vida política, social e econômica de
Angola.
Segundo Carvalho (1995) os órgãos de
comunicação de Portugal sempre acompanham os desdobramentos da política
angolana através uma cobertura atenta e interessada. Tanto a MPLA quanto a
UNITA tem demonstrado preocupação em relação à forma como são representados nos
meios de comunicação portugueses. É tão verdadeira esta afirmação que Carvalho
(1995) analisando a influencia da imprensa menciona o período de negociações de
paz, em 1991, em que a imprensa desempenhou um duplo papel junto às duas partes
do conflito, sobretudo importância sobre o processo de negociação.
Em uma reunião em Luena (16.05.1991) em
que participaram três jornalistas portugueses e uma moçambicana foram definidos
o consenso para o fim das hostilidades. A primeira fala entre os comandantes
das duas forças ocorreu através da transmissão da Radio Nacional de Angola.
REFERÊNCIAS
MACHETE. Rui, Jornal de Angola ataca de novo "elites portuguesas" In: Diário de Notícias Globo. Disponível em: http://www.dn.pt/globo/cplp/interior/jornal-de-angola-ataca-de-novo-elites-portuguesas-3466240.html
Extraído em 20.12.2015
MARQUES Rafael, Crise em Angola pode provocar um "desastre político e social. In:
DN Globo. Disponível em: http://www.dn.pt/globo/interior/crise-em-angola-pode-provocar-um-desastre-politico-e-social-4374253.html
Extraído em 20.12.2015
Jornal de Angola volta a atacar Portugal
ADAM, Mariana. 25.10.2015. Disponível em:
Extraído em 20.12.2015
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