#Os pecados Weberianos de Dilma.
As recentes manifestações de rua colocam o governo Dilma Rousseff perto de um impasse institucional. Analisamos aqui as prováveis consequências do ponto de vista da teoria weberiana. Lula quando era presidente confrontado pela CPI do mensalão reorientou-se politicamente e buscou reconfigurar uma nova dimensão carismática, ou seja, voltou-se para o interior do colégio eleitoral brasileiro. Afirmou e reafirmou sua trajetória de vida, do pau de arara à presidência do Brasil, expôs sua relação umbilical com o nordeste, estabelecendo assim uma relação de identidade com a grande massa de nordestinos espalhados pelo Brasil, afinal foram eles que deram a vantagem eleitoral em sua reeleição. Desta forma a massa dos sem eira e nem beira deram suporte a Lula, sobretudo porque constataram em loco as novas possibilidades de acesso ao consumo, sobretudo a da casa própria e também direito a um recurso mínimo mensal para matar sua fome. Lula não somente superou o cerco político que sofria, mas deixou a presidência com índices recordes de popularidade. No começo do governo Dilma, imaginávamos que a presidenta se colocaria como a mãe da República, que faria o melhor para os seus filhos, embora muitas vezes parecesse que não. A ela caberia o ensinamento, a condução de seus filhos rumo à maturidade democrática com toda a sua fraternidade materna. Diferentemente disso, Dilma, hoje, está mais para Margareth Thatcher, ou seja, a madrasta e toda sua insensibilidade e demora ao ouvir o clamor popular. Chegou o momento em que os filhos, ou seja, o povo finalmente ficou rebelde devido à falta de respostas francas, diretas e claras.
Observando a recente conjuntura política em que se encontra o Governo Dilma e lendo Max Weber CIÊNCIA E POLÍTICA, duas vocações, concluímos que a política requer racionalidade, pois na prática o poder se constitui através da submissão ao carisma do chefe. No momento em que Dilma não se coloca como uma líder demagoga ou não demonstra a vocação demagógica, seu governo começa a pagar um preço. Afinal, a política tem seus meandros e um deles é a fé que o povo deposita no condutor, no caso, condutora, aquela que está à frente do governo. O carisma é um dos pilares da política moderna, por exemplo, a rainha Elizabeth I da Inglaterra ao ser proclamada a rainha virgem, afirmava que estava casada com o Estado. Sua imagem pálida indicando, metaforicamente, a ausência de sangue em suas veias denotava representativamente a frieza necessária para conduzir os destinos da Inglaterra, mas não bastava apenas isso. Seu reinado reuniu as condições para que a Inglaterra deixasse de ser um país pobre e se tornar um império onde o sol jamais se punha.
Além do carisma Weber afirma que existem outros aspectos para a manutenção da obediência, dentre eles, a obediência fundada na retribuição material e prestígio social e isso somente é possível através do estado-maior administrativo e também dos meios materiais de gestão que um Estado dispõe. Em relação a isso é preciso dizer que as alianças que conduziram Dilma ao poder estão afetando agora a sua governabilidade, principalmente a composição com o faminto PMDB, o partido mais fisiológico da República brasileira. Seu apetite está sendo capaz de gerar grandes desobediências weberianas ao governo. A reprovação do plebiscito pelo Congresso Nacional representa na prática essa desobediência, sobretudo uma oposição parlamentar deixando o governo sem apoio. A tendência, se nada for feito, é que o governo fique cada vez mais isolado, até chegarmos a uma crise institucional. Essa é a aposta do PSDB e seus agregados políticos. Atualmente parte, considerável, da base aliada está começando a achar um bom negócio à oposição ao governo.
A avaliação de que deverá ocorrer uma reforma ministerial é correta e urgentíssima. Isso quer dizer que deverá existir uma repactuação que atraía grupos emergentes na cena política que precisam da inserção governamental para manter-se ou até mesmo ampliar seu poder. A aliança do PT com o PSB do governador Eduardo Campos torna-se fundamental neste momento. Sem um novo pacto político será muito difícil a manutenção do PT no poder, pois mesmo se Dilma sair de cena e entrar Lula, o carisma do ex-presidente não será suficiente para sua vitória, afinal irão faltar os meios para redistribuição material aos glutões da política brasileira.
Referência bibliográfica:
WEBER, Max. Ciência e política, duas vocações. São Paulo: Cultrix, 1972.
Referência bibliográfica:
WEBER, Max. Ciência e política, duas vocações. São Paulo: Cultrix, 1972.
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