A administração Trump: a volta ao "hard power" e ao unilateralismo

A opinião pública internacional, os governos liberais da Alemanha e França, os senhores da troika, os movimentos LGBT, o papa Francisco, Hollywood, não acreditavam que o Sr. Trump conseguiria vencer a disputa pela presidênca dos Estados Unidos. Suas promessas foram a construção de um muro entre EUA e México, a volta das empresas estadunidenses, a restrição da entrada aos estrangeiros e o acirramento da perseguição e expulsão aos imigrantes ilegais, o fim da saúde pública, o obamacare, o fim do Estado Islamico e a aproximação de EUA e Russia. Segundo a revista CARTA CAPITAL de 22.01.2017 a Marcha das Mulheres reúne milhares contra Trump em todo o mundo. Foi uma série de manifestações em favor dos direitos das mulheres e das minorias que começou nos Estados Unidos, mas que ganhou a adesão em todo o mundo. Foram marcadas mais de 670 manifestações em 20 países, como a Austrália e a Nova Zelândia. Em Washington, personalidades como as atrizes Scarlett Johansson, Ashley Judd e Julianne Moore, Alicia Keys, o documentarista Michael Moore compareceram. Madonna fez um discurso contra Trump. Um gorro cor de rosa com orelhas de gato se tornou um símbolo das mulheres que criticam Trump. O gorro é conhecido como pussy hat, um trocadilho com a palavra pussycat. Em inglês, pussy pode significar tanto gatinha ou gatinho como o órgão sexual feminino, em linguajar vulgar. (Marcha das Mulheres reúne milhares contra Trump em todo o mundo. In: CARTA CAPITAL,22/01/2017). Como todos sabemos, Trump não teve apoio dos líderes do partido republicano, atuou como candidato independente, ataca a mídia e promete total apoio à agência de inteligência, CIA. Existe a suspeita de que a Rússia teve influência no resultado ao revelar, via hackers, os e-mails da candidata democrata Hillary Clinton. A retirada dos Estados Unidos do Tratado TransPacífico permitirá à China ocupar o espaço deixado pelo tio Sam? O presidente do México Penha Nieto afirmou que o México não pagará pelo muro. A administração Trump afirmou que taxaria os produtos importados do México em 20%. Diante deste fato, certamente o México procurará por novos mercados e a China tem, com este acontecimento, a oportunidade de aumentar seus negócios com mais um país da Bacia do Pacífico. Os líderes da França e Alemanha não escondem sua insatisfação com as posturas adotadas pelo presidente estadunidense, sobretudo; com as criticas feitas em entrevistas aos jornais, como o britânico TIMES e o alemão BILD ZEITUNG, à União Européia, à OTAN, sobretudo, em relação ao acordo nuclear do Irã e a decisão adotada sobre os refugiados da Síria. (Magalhães-Ruether, 2017). Soma-se o caso da visita do líder estadunidense ao Reino Unido e toda a mobilização da opinião pública britânica em protesto. Uma petição popular para suspender a visita oficial do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao Reino Unido chegou nesta segunda-feira (30/01.2017) a mais de 1,5 milhão de assinaturas, motivando um debate de emergência no Parlamento sobre a medida, ao mesmo tempo em que milhares de pessoas se reuniram em Londres e pelo menos outras 35 cidades britânicas em protestos contra Trump. (Reino Unido: mais de 1,5 milhão assinam petição contra visita de Trump; britânicos vão às ruas contra republicano. In: Opera Mundi 30/01/2017.) Sob a manchete Parlamento europeu rejeita embaixador proposto por Trump para a União Europeia, o jornal EL PAÍS (02.02.2017) noticiou a reação dos europeus às declarações de Trump. (PÉREZ, 2017) México A China poderá expandir seu comércio na América Latina nos próximos anos, vide o caso do México que perderá parte do mercado estadunidense para seus produtos. O Presidente Trump anunciou um imposto de 20% sobre os produtos mexicanos para pagar o famigerado muro separando os dois países. Segundo explicou o secretário para imprensa da Casa Branca, o plano consiste na cobrança de um imposto de 20% sobre todas as importações que entram nos EUA, permitindo assim reunir milhões de dólares destinados à construção da sua estrutura. (Trump quer imposto de 20% sobre produtos mexicanos para pagar muro. In: PUBLICO 26.01.2017). O principal parceiro comercial do México são os EUA $291 Bilhões, seguido pelo Canadá ($24,5 Bilhões), a China ($7,89 Bilhões), a Espanha ($6,18 Bilhões) e o Brasil ($5,35 Bilhões). As origens de importação de topo são o Estados Unidos ($194 Bilhões), a China ($58,7 Bilhões), o Japão ($15,8 Bilhões), a Coreia do Sul ($13,4 Bilhões) e a Alemanha ($12,8 Bilhões). (Fonte: OEC - Disponível em: http://atlas.media.mit.edu/pt/profile/country/mex/ Extraído em 29.01.2017). Em seu primeiro mês observamos que a administração Trump caminha realmente para um isolamento político no campo das relações internacionais. Isto indica que os Estados Unidos poderão ter a sua importância reduzida nos próximos quatro anos, pois seu mandatário segue na contracorrente da política internacional pós crise de 2008. Parece que já ouvimos esta história antes, ou seja, o última administração que adotou uma política unilateralista foi a de George W. Bush (2001-2009), promoveu a guerra contra o Afeganistão (2001) e o Iraque (2003) e mentiu, ao dizer que o Iraque possuía armas quimicas. Bush terminou seu mandato sob a maior crise financeira desde 1929, resultado da superartificialização das ações das bolsas de valores. O sistema financeiro estadunidense estava quebrado, sobretudo seus tentáculos, instituições como o Lehman Brothers. Na administração Obama (2009-2017) ocorreu o direcionamento da política externa unilateralista de Bush para um multilateralismo, algo essencial à superação da crise econômica, muito embora esta gestão tenha promovido uma guerra cambial (não assumida oficialmente), ou seja, consistiu na redução da taxa de juros do produto estadunidense, o que favoreceu suas exportações e criou na periferia um processo de desindustrialização. A politica de salvação dos bancos e subsídios ao setor produtivo teve seus efeitos na superação paulatina da crise. Em seu segundo mandato Obama buscou um acordo para redução dos gases poluentes, a COP 21 ou o acordo do clima de Paris de 2015. Iniciou a retomada das relações políticas e comerciais com Cuba, foi o primeiro presidente estadunidense à visitar a ilha em quase 60 anos. A volta à unipolaridade e ao isolacionismo trumpista poderão reduzir o tamanho e a importância dos Estados Unidos no cenário internacional. É possível que a China fortaleça sua posição e avance ainda mais rumo ao centro do capitalismo, o que é para os estadunidenses um grande problema. Soma-se a isto a recuperação econômica da Europa. Neste momento, tanto China quanto a Europa se colocam como os novos candidatos a baluarte da ordem global. De acordo com a reportagem do jornal El Pais de Macarena Vidal Liy de 29.01.2017, o Primeiro Ministro Chinês Li Keqiang, falou por telefone com a chanceler alemã Angela Merkel. A mensagem: que ambos os países devem garantir a estabilidade do sistema econômico internacional diante dos atuais “momentos de incerteza” no mundo. Lembra Liy (2017) que: O presidente Xi Jinping já tinha assentado as bases, em seu discurso em Davos apenas três dias antes da posse de Trump em Washington, quando lançou uma defesa acalorada da globalização econômica, do livre comércio e da luta contra a mudança climática.(VIDAL LIY, 2017). A China cada vez mais se coloca como um líder global alternativo, segundo Liy 2017), o presidente Xi Jinping reforça esta posição, por exemplo, ao oferecer apoio à ONU ou através de financiamento e disponibilização de tropas e até mesmo sediando a reunião anual do G-20, criou um novo banco de desenvolvimento —o BAII— e quer desenvolver uma rede de infraestrutura que conecte a China ao Ocidente, a “Nova Rota da Seda”. Segundo Diretor de Economia internacional do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhang Jun: a declaração de “América Primeiro” de Trump forçou os acontecimentos. “Não é que a China tenha querido adiantar-se correndo, mas os que estavam à frente deram um passo atrás e deixaram o posto para a China e ainda salienta: de qualquer forma, precisou Zhang, “se for exigido que a China adote esse papel de liderança, a China assumirá suas responsabilidades”. (VIDAL LIY, 2017). FONTES: China busca fechar acordo de comércio na Ásia, enquanto EUA podem recuar. EXAME.COM, 22.11.2016. Disponível em: http://exame.abril.com.br/economia/china-busca-fechar-acordo-de-comercio-na-asia-e-eua-podem-recuar/ Disponível em: 02.02.2017 LIY, Macarena Vidal. China se projeta como baluarte da ordem mundial em “tempos incertos”.In: EL PAÍS 30.01.2017. Disponível em: http://brasil.elpais.com/brasil/2017/01/27/internacional/1485521277_809514.html Extraído em: 02.02.2017. Magalhães-Ruether. Graça, Líderes europeus rebatem Trump, e populistas comemoram controvérsias. In: O GLOBO 17/01/2017. Disponível em: http://oglobo.globo.com/mundo/lideres-europeus-rebatem-trump-populistas-comemoram-controversias-20784308#ixzz4XWsak2AN Extraído em 02.02.2017 OEC - Disponível em: http://atlas.media.mit.edu/pt/profile/country/mex/ Extraído em 29.01.2017 Reino Unido: mais de 1,5 milhão assinam petição contra visita de Trump; britânicos vão às ruas contra republicano. In: Opera Mundi 30/01/2017. Disponível em: http://operamundi.uol.com.br/conteudo/geral/46283/reino+unido+mais+de+15+milhao+assinam+peticao+contra+visita+de+trump+britanicos+vao+as+ruas+contra+republicano.shtml Extraído em: 02.02.2017 PÉREZ. Claudi, Parlamento europeu rejeita embaixador proposto por Trump para a União Europeia. In: EL PAÍS, 02.02.2017. Disponível em http://brasil.elpais.com/brasil/2017/02/01/internacional/1485966990_803779.html?id_externo_rsoc=Fb_BR_CM Extraído em 02.02.2017 Trump quer imposto de 20% sobre produtos mexicanos para pagar muro. In: PUBLICO 26.01.2017. Disponível em:https://www.publico.pt/2017/01/26/mundo/noticia/muro-de-trump-sera-pago-com-imposto-de-20-a-todas-as-importacoes-mexicanas-1759835 Extraído em 29.01.2017

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